Transcrevo aqui a íntegra do artigo "Semelhanças & diferenças (o que rege o comportamento de consumo)", escrito por Paulo Secches, presidente da TSN InterScience, e veiculado no portal da revista Meio & Mensagem. No texto, o autor aborda sobre a importância de nos deslocarmos das visões limitadas dos nossos mundos, crenças, universos de trabalho para compreendermos a essência do comportamento humano, de modo a conseguir eficácia na tentativa de canalizar o comportamento dos indivíduos na direção que desejamos e/ou precisamos. Vale a pena refletir sobre o tema:
"Qual a diferença entre uma índia que trança e colore materiais naturais transformando-os em colares e brincos e uma mulher que compra um brinco e/ou um colar na Tiffany? Qual a diferença entre as tintas coloridas que as índias aplicam no rosto e as maquiagens brancas que as asiáticas usam ou a de uma mulher que se maquia com produtos da Shiseido? Ou, se quiser utilizar um exemplo masculino: qual a diferença entre uma biga romana e uma BMW?
Em todos os casos acima e em quaisquer outros que queira e consiga imaginar eu diria “nenhuma”. Freqüentemente o ranço do catolicismo interfere nas nossas análises sobre consumo, e tendemos a lê-lo como um fenômeno atual e moderno, um pouco “contaminoso” e, se mais intenso (o famoso consumo compulsivo), certamente merecedor do inferno.
Interessante como perdemos a noção de como o homem (o ser humano) tem utilizado, ao longo da história da humanidade, os objetos para sobreviver, viver, desenvolver-se e dizer aos outros quem é e/ou como está. Este é um dos motos básicos da humanidade. Nunca existimos sozinhos. Sempre usamos as coisas, os objetos, para existir, para nos desenvolver e para sinalizarmos aos outros quem somos.
O homem sempre, na história da humanidade, esteve desenvolvendo objetos e utilizando-se deles nessa sua atividade de sobrevivência, desenvolvimento e sinalização da identidade. Diferentes civilizações e sociedades, em diferentes estágios de desenvolvimento, fizeram e fazem esse uso dos objetos. O desenvolvimento da capacidade de produção industrial (após a fase artesanal) e, mais atualmente, a aceleração do processo de expansão tecnológica facilitaram a capacidade humana de produzir e consumir objetos. Esse fenômeno foi lido e entendido pelo pensamento atual como um fenômeno atual e próprio do nosso tempo e denominado “Consumo”.
Um equívoco. Um equívoco porque ao buscar compreender esse fenômeno isoladamente (como se tivesse passado a existir só recentemente) perde-se o seu significado como moto de comportamento. E mais: ao discutir as implicações da sua aceleração (consumo de recursos naturais, poluição, destruição do meio ambiente) caminha-se, de novo equivocadamente, para um discurso romântico e ingênuo de que só se salva a humanidade e o globo terrestre se formos capazes de deter o consumo.
Se continuarmos nesse caminho, com certeza terminaremos destruídos, porque esse discurso não tem ressonância no íntimo dos indivíduos. Eles não vão deter o consumo porque ele é apenas a expressão racional e literária do comportamento humano de desenvolver objetos para sobreviver, viver, desenvolver-se e relacionar-se. Entender esse fenômeno tem algumas conseqüências vitais:
- uma primeira, para os negócios hoje: podemos vender produtos e serviços pelos produtos e serviços ou podemos vender instrumentos de desenvolvimento humano, de relacionamento e de expressão. O que é um iPod? Um instrumento para ouvir música? Ou um instrumento para criar um microambiente individual e personalizado isolado do mundo externo perigoso? Ou um instrumento de expressão de um self? O que é um cartão de crédito? Um instrumento (meio) de pagamento ou um instrumento de expressão de um estágio de vida e, dependendo de qual cartão, de uma identidade própria.
- para todo o processo de comunicação (de produtos, serviços e mesmo institucional): se compreendermos a essência da função, ou da relação ou do significado de expressão que determinado produto e/ou serviço tem para as pessoas, conseguiremos utilizar a comunicação para multiplicar essa essência e promover o comprometimento do consumidor (um indivíduo) com a minha marca. O mercado brasileiro tem um caso maravilhoso dessa compreensão, que é o caso da comunicação da Tim em telefonia celular. Enquanto o mercado ficou vendendo planos, “minutagem”, descontos, cobertura, a empresa vendeu, maravilhosamente, o “Viver sem fronteiras”. O resultado todos conhecemos.
- para a preservação da humanidade: é fato hoje, praticamente não mais questionado (a não ser por algumas conhecidas e hilárias mentes limitadas do império em decadência), que estamos destruindo os recursos naturais do globo terrestre em uma velocidade maior do que ele consegue se reconstruir. Os indivíduos mais conscientes e ativos, quase que de forma missionária, pregam a detenção do consumo como condição básica para evitar a autodestruição. Como? Como convencer o homem a deixar de fazer aquilo que está no cerne da sua existência? Como convencer 1 bilhão de chineses, 1 bilhão de indianos, alguns milhões de russos, 50 milhões de brasileiros que ainda vivem na quase mais absoluta miséria de que “desculpe, não vai dar para você consumir porque temos que preservar a humanidade. Mas... e você que tem tudo o que eu quero ter? É.... mas é que eu cheguei na frente e agora para vocês, que estão chegando agora, não tem mais e vocês vão ter que ficar sem e aceitar esta realidade”. Alguém acha que isso será possível? Se você fizesse parte dos miseráveis que vislumbram a ascensão, o que faria com alguém que viesse lhe dizer “sorry, você chegou tarde para a festa”. O discurso e as ações preservacionistas, se desejarem ter um mínimo de eficácia, terão de mudar radicalmente de conteúdo e de direção.
O que nos parece vital é nos deslocarmos das visões limitadas dos nossos mundos, crenças, universos de trabalho para compreendermos a essência do comportamento humano e como ele se reflete nos nossos microuniversos. Para a partir daí, sim, conseguirmos ser eficazes em, eventualmente, conseguir canalizar o comportamento dos indivíduos na direção que desejamos e/ou precisamos".
Fonte: Por Paulo Secches, in www.meioemensagem.com.br
"Qual a diferença entre uma índia que trança e colore materiais naturais transformando-os em colares e brincos e uma mulher que compra um brinco e/ou um colar na Tiffany? Qual a diferença entre as tintas coloridas que as índias aplicam no rosto e as maquiagens brancas que as asiáticas usam ou a de uma mulher que se maquia com produtos da Shiseido? Ou, se quiser utilizar um exemplo masculino: qual a diferença entre uma biga romana e uma BMW?
Em todos os casos acima e em quaisquer outros que queira e consiga imaginar eu diria “nenhuma”. Freqüentemente o ranço do catolicismo interfere nas nossas análises sobre consumo, e tendemos a lê-lo como um fenômeno atual e moderno, um pouco “contaminoso” e, se mais intenso (o famoso consumo compulsivo), certamente merecedor do inferno.
Interessante como perdemos a noção de como o homem (o ser humano) tem utilizado, ao longo da história da humanidade, os objetos para sobreviver, viver, desenvolver-se e dizer aos outros quem é e/ou como está. Este é um dos motos básicos da humanidade. Nunca existimos sozinhos. Sempre usamos as coisas, os objetos, para existir, para nos desenvolver e para sinalizarmos aos outros quem somos.
O homem sempre, na história da humanidade, esteve desenvolvendo objetos e utilizando-se deles nessa sua atividade de sobrevivência, desenvolvimento e sinalização da identidade. Diferentes civilizações e sociedades, em diferentes estágios de desenvolvimento, fizeram e fazem esse uso dos objetos. O desenvolvimento da capacidade de produção industrial (após a fase artesanal) e, mais atualmente, a aceleração do processo de expansão tecnológica facilitaram a capacidade humana de produzir e consumir objetos. Esse fenômeno foi lido e entendido pelo pensamento atual como um fenômeno atual e próprio do nosso tempo e denominado “Consumo”.
Um equívoco. Um equívoco porque ao buscar compreender esse fenômeno isoladamente (como se tivesse passado a existir só recentemente) perde-se o seu significado como moto de comportamento. E mais: ao discutir as implicações da sua aceleração (consumo de recursos naturais, poluição, destruição do meio ambiente) caminha-se, de novo equivocadamente, para um discurso romântico e ingênuo de que só se salva a humanidade e o globo terrestre se formos capazes de deter o consumo.
Se continuarmos nesse caminho, com certeza terminaremos destruídos, porque esse discurso não tem ressonância no íntimo dos indivíduos. Eles não vão deter o consumo porque ele é apenas a expressão racional e literária do comportamento humano de desenvolver objetos para sobreviver, viver, desenvolver-se e relacionar-se. Entender esse fenômeno tem algumas conseqüências vitais:
- uma primeira, para os negócios hoje: podemos vender produtos e serviços pelos produtos e serviços ou podemos vender instrumentos de desenvolvimento humano, de relacionamento e de expressão. O que é um iPod? Um instrumento para ouvir música? Ou um instrumento para criar um microambiente individual e personalizado isolado do mundo externo perigoso? Ou um instrumento de expressão de um self? O que é um cartão de crédito? Um instrumento (meio) de pagamento ou um instrumento de expressão de um estágio de vida e, dependendo de qual cartão, de uma identidade própria.
- para todo o processo de comunicação (de produtos, serviços e mesmo institucional): se compreendermos a essência da função, ou da relação ou do significado de expressão que determinado produto e/ou serviço tem para as pessoas, conseguiremos utilizar a comunicação para multiplicar essa essência e promover o comprometimento do consumidor (um indivíduo) com a minha marca. O mercado brasileiro tem um caso maravilhoso dessa compreensão, que é o caso da comunicação da Tim em telefonia celular. Enquanto o mercado ficou vendendo planos, “minutagem”, descontos, cobertura, a empresa vendeu, maravilhosamente, o “Viver sem fronteiras”. O resultado todos conhecemos.
- para a preservação da humanidade: é fato hoje, praticamente não mais questionado (a não ser por algumas conhecidas e hilárias mentes limitadas do império em decadência), que estamos destruindo os recursos naturais do globo terrestre em uma velocidade maior do que ele consegue se reconstruir. Os indivíduos mais conscientes e ativos, quase que de forma missionária, pregam a detenção do consumo como condição básica para evitar a autodestruição. Como? Como convencer o homem a deixar de fazer aquilo que está no cerne da sua existência? Como convencer 1 bilhão de chineses, 1 bilhão de indianos, alguns milhões de russos, 50 milhões de brasileiros que ainda vivem na quase mais absoluta miséria de que “desculpe, não vai dar para você consumir porque temos que preservar a humanidade. Mas... e você que tem tudo o que eu quero ter? É.... mas é que eu cheguei na frente e agora para vocês, que estão chegando agora, não tem mais e vocês vão ter que ficar sem e aceitar esta realidade”. Alguém acha que isso será possível? Se você fizesse parte dos miseráveis que vislumbram a ascensão, o que faria com alguém que viesse lhe dizer “sorry, você chegou tarde para a festa”. O discurso e as ações preservacionistas, se desejarem ter um mínimo de eficácia, terão de mudar radicalmente de conteúdo e de direção.
O que nos parece vital é nos deslocarmos das visões limitadas dos nossos mundos, crenças, universos de trabalho para compreendermos a essência do comportamento humano e como ele se reflete nos nossos microuniversos. Para a partir daí, sim, conseguirmos ser eficazes em, eventualmente, conseguir canalizar o comportamento dos indivíduos na direção que desejamos e/ou precisamos".
Fonte: Por Paulo Secches, in www.meioemensagem.com.br
Comentários
obrigado...
nem sei pq eu perco tempo aqui!...
era tudo q eu precisava saber!
obrigadu!...