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Organização orientada para a estratégia

Estive relendo este final de semana alguns trabalhos dos gurus da estratégia, Robert Kaplan e David Norton, idealizadores do método de gestão Balanced Scorecard (BSC) que considero de fundamental importância para quem trabalha ou pensa em trabalhar com gestão estratégica. Aproveito para reproduzir abaixo a íntegra da entrevista concedida por David Norton à equipe da Enfato Comunicação Empresarial, por ocasião de sua passagem pelo Brasil. O professor descreve a importância da estratégia nas organizações e explica detalhes sobre o BSC. Vale a pena conferir. Para mim é leitura obrigatória.


Como o senhor define uma organização voltada para a gestão estratégica?
Uma organização orientada à estratégia tem como característica o alinhamento e convergência de seus processos e sua gestão à estratégia. Ou seja, trata-se de uma organização cujo maior direcionador é o alcance de sua Visão de Futuro e resultados relacionados. Trata-se de uma organização que compreende que todas as suas atividades rotineiras e suas iniciativas estão em prol de um resultado maior. Uma organização orientada à estratégia traz consigo cinco grandes fundamentos: liderança executiva, para mobilizar a mudança; tradução da estratégia; alinhamento da organização para criar sinergias; transformar a estratégia em tarefa de todos; e transformar a estratégia em processo contínuo.

Qual a importância de uma organização ter um plano estratégico definido? Quais são os passos necessários para desenvolvê-lo e implantá-lo?
Entendemos que tão importante quanto ter uma estratégia é ter a capacidade de implementá-la. Para isso, processos de gestão da estratégia e seu vínculo com o dia-a-dia são fundamentais. O desenvolvimento e a implementação da estratégia dependem muito do contexto das organizações (pressupostos e culturas). Independente da forma como cada organização se estrutura e de seu contexto, o alcance dos melhores benefícios, com a utilização do Balanced Scorecard, está em gerar na organização uma maior pró-atividade em relação à estratégia, estimulando-se a análise e gerenciamento contínuo da hipótese estratégica por meio do monitoramento dos indicadores associados aos objetivos. Esta análise engloba, também, os impactos de fatores externos e internos na hipótese inicial, permitindo que a organização seja mais ágil em suas priorizações de projetos e redefinições/correções de rumo de suas estratégias.

Como foi desenvolvido o método Balanced Scorecard?
O Balanced Scorecard (BSC) como conceito surgiu no final da década de 80 e início da década de 90. No princípio, era um conceito que enfatizava indicadores financeiros e não financeiros associados à estratégia. Já no início da década de 90, algumas organizações pioneiras buscaram introduzir este conceito a sua realidade da gestão. Com estas experiências que se consolidaram os cinco princípios de orientação à estratégia. Entendeu-se que, resultados sustentáveis e uma pró-atividade para se analisar e, se necessário, redefinir a estratégia, requeria uma ênfase muito maior do que o uso do BSC como sistema de indicadores financeiros e não financeiros. Empresas que obtiveram resultados expressivos e sustentáveis utilizaram o BSC como fundamento de um processo da gestão que tem como cerne a estratégia. Esta é a real ênfase do BSC, ou seja, alicerçar uma Gestão com Foco na Estratégia. Qualquer outra aplicação ou ênfase deverá ser considerada como uma subutilização ou, até mesmo, aplicação errônea deste processo. O BSC já evoluiu significativamente em organizações de todo o mundo. Atualmente, entendemos que Gestão da Estratégia é uma nova disciplina e, até mesmo, uma nova profissão. Muitos profissionais e organizações têm o desafio de transformar e manter a estratégia como um processo contínuo.

O que é necessário em uma organização para implantar o método BSC? Como essa mudança deve ser feita?
O aspecto fundamental para a correta implementação do Balanced Scorecard como alavanca de uma gestão com foco na estratégia requer o entendimento que em muitos casos se trata de uma nova forma de gestão. Para tanto, é fundamental que a liderança entenda e patrocine esta evolução. A organização deverá entender qual é de fato esta mudança e o valor que a mesma poderá trazer. Em seguida, a liderança deverá trabalhar para mobilizar e reforçar comportamentos que promovam os passos necessários para esta mudança. É importante, também, que a liderança e, em seguida, toda a organização, compreenda que a implementação do Balanced Scorecard não está limitada à definição e monitoramento de indicadores. Trata-se de uma iniciativa que integrará toda a gestão e os processos da organização com a estratégia. Para tanto, é fundamental inserir os elementos do BSC (objetivos, indicadores, metas, projetos, desdobramentos etc.) na agenda da gestão. Ou seja, estratégia é algo que deverá ser monitorado e rediscutido sempre que necessário, e não somente em ciclos tradicionais (anuais ou bienais) de planejamento estratégico. Este é o real benefício do Balanced Scorecard.

O que é necessário para que as organizações possam sustentar a performance alcançada pelo uso de metodologias de gestão?
Considero como grande desafio inserir os elementos do BSC na agenda da gestão. Ou seja, a concepção e o desdobramento da estratégia com o BSC podem trazer benefícios de alinhamento e comunicação da estratégia. No entanto, estes benefícios somente se sustentarão e crescerão se a organização utilizar o BSC de forma contínua. O BSC, como mencionado anteriormente, em um primeiro momento, ajuda a explicitar e sintetizar a hipótese estratégica, porém, seu grande valor está em habilitar pró-atividade e aprendizado em relação à estratégia.

Quais são os principais obstáculos que impedem a estratégia de se efetivar dentro da organização?
De acordo com pesquisas realizadas dentro e fora do Brasil pela nossa afiliada exclusiva Symnetics, entendemos que as maiores barreiras ao processo de implementação da estratégia estão na compreensão da visão, recursos, remuneração e gestão. O Balanced Scorecard como alavanca de um Processo de Gestão da Estratégia tem por finalidade auxiliar na superação destas barreiras.

Muitas organizações públicas no Brasil estão adotando o BSC para melhorar a gestão de seus processos. Que instituições mundiais no setor público podem ser citadas como um modelo da aplicação dessa metodologia? O BSC é o mais indicado para essas organizações?
A cidade de Brisbane, na Austrália; o Departamento de Comércio norte-americano; o Ministério da Defesa da Inglaterra; o Hospital St Mary’s Duluth, de Minnesota; o Royal Canadian Mounted Police, no Canadá; são alguns exemplos de organizações públicas que vêm obtendo resultados expressivos com o Balanced Scorecard. No Brasil, a Symnetics tem promovido o BSC em órgãos como a CONAB, em Brasília; a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Prefeitura Municipal de Porto Alegre. A sociedade, os empresários e o próprio governo passaram a exigir eficiência e eficácia destas organizações. Desta forma, tecnologias de gestão, como o Mapa Estratégico, que vêm ajudado o setor privado a se projetar em seus setores com excelência empresarial, estão sendo assimilados pelo Governo. O BSC estabelece foco, prioridade, racionalização e eficiência dos programas estratégicos de governo. Com isso, cresce a probabilidade de impacto econômico e social significativo destes programas. Além disso, o BSC é utilizado na transformação organizacional dos órgãos públicos, que passam de estruturas funcionais e verticais (secretarias, departamentos, gabinetes) focados na burocracia para comitês e grupos estratégicos direcionados para resultados efetivos. Um tema estratégico, por exemplo, como combate à violência e à criminalidade nas grandes cidades não poderia deixar de envolver, simultaneamente, a secretaria municipal de segurança pública, a secretaria de educação e a secretaria de comunicação.


Fonte: Por Raquel Boechat, in www.enfato.com.br/entrevistas

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