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Sobrevivência não é sinônimo de sustentabilidade

A definição de sustentabilidade vem sendo consolidada ao longo dos últimos anos em diversas áreas das ciências humanas: sociologia, economia, administração, entre outras. Mesmo utilizando-se de ângulos distintos para caracterizar o tipo de recurso necessário para um indivíduo ou organização atingir um nível de sustentabilidade, a maioria das definições se remete diretamente à capacidade de geração e uso custo-efetivo de recursos. O principal objetivo é assegurar a possibilidade de reutilização dos recursos disponíveis por gerações futuras, ao mesmo tempo em que se geram riquezas para a sociedade. Esses recursos podem ser humanos, financeiros, organizacionais, sociais ou ambientais.

Infelizmente, a partir dessas definições, a complexidade necessária para avaliar a sustentabilidade de muitas organizações é, muitas vezes, substituída por fatos relacionados à sobrevivência ou não de uma organização ao longo do tempo. Na área social, parece até que sobrevivência virou sinônimo de sustentabilidade. Muitas instituições sociais, por exemplo, não criam estruturas organizacionais fortes, pois centram-se em seus projetos para a prestação de serviços sociais. Sua sustentabilidade depende apenas da sua capacidade de sobreviver no caso de cessar um financiamento para um projeto específico. São, na realidade, o que poderia se considerar projetos-organização e não organizações para o fomento de projetos da concreta transformação social.

Poderíamos até fazer uma analogia com um indivíduo que apenas se interessa em ganhar dinheiro para sua sobrevivência submetendo-se a diversos empregos. Sua carreira não é importante e nem tão pouco sua capacidade empreendedora para potencializar seus talentos naturais ou adquiridos durante sua vida. No entanto, quando encontra-se desempregado, vive a custa de biscates e "quebra-galhos". Logicamente, não pretendo dizer que essas atividades não têm valor, mas deve-se deixar claro que essa falta de estratégia para geração de novos recursos compromete a sua capacidade de investimentos e planejamento futuro.

A sobrevivência não depende de planos estratégicos, sistemas operacionais, capacitação, captação de novos investimentos, ou tampouco interfaces organizacionais. Seu único indicador é se a organização estará com suas portas abertas amanhã ou se o financiamento para seu projeto estará assegurado por um determinado período de tempo. Já a sustentabilidade é exatamente o contrário: ela necessita de um esforço contínuo para a definição de formas mais eficientes para redução de desperdícios, uso custo-efetivo de recursos e planejamento de todas as suas estruturas organizacionais de acordo com uma avaliação ampla das oportunidades e riscos oferecidos pelo mercado social.

Evidencia-se, por fim, que muito longe de ser um sinônimo de sobrevivência, a sustentabilidade deve ser encarada como seu antônimo direto. Portanto, as organizações que se prendem a ganhos de curto-prazo em detrimento de sua missão de longo prazo estão fadadas a insustentabilidade organizacional, assim como as organizações que vivem apenas de um projeto social. As mais sustentáveis serão sempre aquelas que se voltam para uma causa social maior, estabelecem missões organizacionais claras e trabalham com objetivos de longo prazo. E, mais importante, são essas organizações que irão oferecer à sociedade um mundo melhor, mais rico e eqüitativo.



Fonte: Por Miguel Fontes, in www.pautasocial.com.br

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