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Comunicação e Governança Corporativa II

Foi uma típica manhã de inverno, chuvosa e fria, no sábado, dia dois de junho. Profissionais de comunicação, executivos, estudantes e demais interessados no tema da Governança Corporativa, estavam reunidos a convite da ABRP.

O que poderia ser mais um evento como tantos que proliferam no mercado que se restringem a discutir o óbvio, ou pior, que se tornam mecanismos de venda de serviço por parte de palestrantes, o Meeting ABRP de Comunicação e Governança Corporativa impressionou a todos os presentes pela qualidade e objetividade das discussões.

Os conceitos essenciais do tema foram abordados por Tania Baitello que apresentou de forma consistente e técnica os resultados de sua pesquisa de mestrado. A aplicação prática de toda teoria ficou por conta de Viviane Mansi da Merck Sharp & Dohme e de Luiz Carlos Gouveia Pereira,da Energias do Brasil que nos deram uma injeção de ânimo.

Os cases mostraram que é sim possível cumprir alguns preceitos do neoliberal Milton Friedman, que dizia que o maior objetivo da empresa deve ser dar lucro, mas também assumir a posição defendida por Peter Drucker que não considera incompatíveis a lucratividade e responsabilidade social .

David Rockfeller em 1971, numa entrevista ao Los Angeles Times, afirmou “devido à crescente pressão por maior responsabilidade das empresas posso prever o dia em que, além do balanço financeiro anual, certificado por auditores independentes, as empresas terão que publicar um ‘Balanço Social’ igualmente certificado”. Três décadas depois, isso já é uma realidade.

Resumindo, ética, transparência, equidade, accountability e responsabilidade social e nos negócios, aliados a uma comunicação estratégica, colocam as organizações no caminho do tão almejado desenvolvimento com sustentabilidade.

A mim coube o melhor papel e desde já agradeço aos organizadores do evento pelo privilégio. Não sendo uma especialista no assunto Governança e nem uma executiva responsável pela gestão direta do processo na organização, aproveitei a oportunidade para expor minha preocupação, dúvidas, anseios sobre o nosso papel de gestores da comunicação, em especial os profissionais de Relações Públicas, diante do constante cenário de mudanças por que passam as organizações.

As faculdades estão preparando os profissionais para atuarem nesse novo cenário que envolve governança, responsabilidade social, gestão de processos, sustentabilidade, entre outros temas emergentes? E os profissionais que já atuam no mercado? Estão conseguindo conciliar todas essas demandas estratégicas para suas empresas com as inadiáveis tarefas do dia a dia?

Sim, porque por mais importante que sejam essas demandas, as estruturas internas continuam enxutas e as assessorias terceirizadas devem produzir o dobro no menor tempo.Obviamente tudo com resultados comprovados por meio de indicadores traduzidos em gráficos e em belas apresentações onde o trabalho de uma ano deve necessariamente caber em um slide e em no máximo cinco minutos de exposição oral.

Além disso, aquelas atividades ditas pontuais, táticas, braçais , insistem em sobreviver. Jornal interno, newsletter, site, mural, intranet, programa de visitas. E as reuniões? Essas então devem nascer por osmose! Reuniões face-to-face com o presidente, com o grupo de voluntários, com novos funcionários, com o chefe, com a Fiesp, com a agência de comunicação interna, de publicidade, de marketing, consultoria social...

Isso sem contar as demandas de RH. Treinamentos de liderança, qualidade, networking, comunicação, segurança e meio ambiente, coaching e planejamento estratégico, bem esse então nem se fala!Muitas vezes a gente nem consegue saber o que vai fazer nos próximos cinco minutos e tem um consultor querendo que a gente diga o que vai acontecer na empresa em dez anos!

Obviamente aqui tem uma forte dose de exagero (ou não?). A qualidade da comunicação exercida no nosso país tem evoluído de forma substancial, nossas entidades representativas têm seguido essa evolução e tudo isso é resultado da competência de boa parte dos profissionais que atuam no mercado como gestores nas empresas ou como agências e consultorias prestadoras de serviço.

É importante também frisar o importante papel da academia, onde os professores que são comprometidos com a causa da educação e da formação dos futuros profissionais investem tempo e energia , numa dedicação ao trabalho muitas vezes não recompensado financeiramente e pior , nem são reconhecidos por isso. Mas a dúvida persiste.

Os profissionais de Relações Públicas têm consciência e estão preparados para assumir o papel de gestores estratégicos capazes de realizar análises micro e macro ambientais, entender a evolução da sociedade, questões internacionais ou políticas públicas? Será que conhecem a complexidade dos negócios da empresa, o comportamento e tendências do mercado mundial, regional e local onde ela atua? Estão preparados para fazer o alinhamento de todos estes aspectos dentro de um planejamento? Serão capazes de analisar, criticar e inserir as atividades de Relações Públicas neste contexto?

As transformações que vêm ocorrendo na sociedade precisam se refletir nas políticas e ações de Relações Públicas, contribuindo com o exercício da cidadania e com a valorização crescente da relação de transparência, responsabilidade social, diálogo, confiança, que deve se buscar entre organizações e públicos.

E é agindo assim que Relações Públicas pode ser considerada uma função intimamente ligada à educação com fim social, porque se propõe, justamente, a estabelecer a relação entre organização e públicos de forma consciente e ética.

Novos desafios? Que venham!

Essa estória me fez lembrar de Charles Darwin e sua doutrina evolucionista.Em virtude da seleção natural sobrevivem os indivíduos e as espécies melhor adaptados.


Fonte: Por Silvana Nader, in www.abrpsp.org.br

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