Transcrevo aqui a íntegra do editorial desta semana da revista Meio & Mensagem. Escrito pela jornalista e editora Regina Augusto, o texto, intitulado "Processo em construção", destaca a nossa incapacidade de controlar um mundo onde as reações às mensagens têm uma rapidez assustadora e os hábitos estão se metamorfoseando cada vez mais. Neste contexto, segundo a autora, comunicar-se de forma eficaz e manter uma boa reputação é um processo ainda em construção. Vale a pena conferir:
"Três fatos ocorridos há poucos dias chamam a atenção para os desafios do mundo atual, que passa por uma completa transformação em virtude da revolução digital. O primeiro diz respeito a um jovem estudante norte-americano do renomado MIT, Virgil Griffith, 24 anos, criador do WikiScanner, programa que aponta de onde partiram alterações feitas nos verbetes da enciclopédia que se tornou sinônimo de conteúdo colaborativo, a Wikipedia. Faz parte de sua natureza a possibilidade de ser modificada a qualquer momento e por qualquer pessoa. No entanto, o programa de Griffith permite saber quem mudou o quê, pois identifica os computadores — por meio de IP (internet protocol) — de onde saíram as alterações.
Até aí, tudo normal. O que o estudante do MIT descobriu rapidamente, contudo, foi que de sistemas de diversos governos (EUA, Austrália, Portugal, Vaticano) e corporações (Microsoft, Apple, Pepsi Co., etc.) partiram trabalhos de edição que apagavam críticas e dados negativos em textos, causando uma saia justíssima a essas organizações. “Meu objetivo era criar vários desastres de relações públicas para os envolvidos”, disse Griffith.
O segundo refere-se à polêmica causada na blogosfera após veiculação da campanha criada pela Talent para o Estadão, cujo objetivo era reforçar a confiabilidade e a qualidade do conteúdo do novo portal do grupo. Em um dos filmes, intitulado “Blog do Bruno”, um macaco copia e cola informações na web, o que é considerado “genial” pelos cientistas que monitoram sua evolução no aprendizado. A partir
"Um novo mundo se descortina à nossa frente. Um mundo sobre o qual não se exerce o menor controle, onde as reações às mensagens têm uma rapidez assustadora e no qual os hábitos estão se metamorfoseando cada vez mais"
do momento em que o comercial entrou no ar, vários blogueiros se sentiram atingidos e interpretaram a mensagem como uma afronta à credibilidade da comunidade de autores e colaboradores que mantêm seus diários na internet. Estadão e Talent retrataramse publicamente, negando que houvesse qualquer intenção de atacar os blogs.
E, finalmente, fecha essa relação a divulgação, durante o Encontro Nacional de Anunciantes (ENA), do estudo Geração 90 – Um Novo Conflito de Gerações, feito pela empresa Recherche, que demonstrou que indivíduos nascidos no ano de 1990, hoje com 16 ou 17 anos, desenvolveram hábitos interessantes de consumo de mídia. Exatamente por esse público ser completamente digital, a adesão às novidades do meio é automática, enquanto sua relação com veículos impressos sofre uma certa resistência. As revistas até têm apelo entre esses jovens; no entanto, como eles estão acostumados a conteúdo abundante e, principalmente, gratuito na web, não acham que valha a pena pagar por essas publicações. No que se refere aos jornais, o consumo é baixíssimo, pois esse grupo simplesmente não se sente atraído por esse tipo de mídia.
Esses três fatos demonstram claramente um novo mundo que se descortina à nossa frente. Um mundo sobre o qual não se exerce o menor controle, onde as reações às mensagens têm uma rapidez assustadora e no qual os hábitos estão se metamorfoseando cada vez mais. Comunicar-se de forma eficaz e manter uma boa reputação nesse ambiente é um processo ainda em construção e cujo manual está sendo aos poucos escrito."
Fonte: Por Regina Augusto, in www.meioemensagem.com.br
"Três fatos ocorridos há poucos dias chamam a atenção para os desafios do mundo atual, que passa por uma completa transformação em virtude da revolução digital. O primeiro diz respeito a um jovem estudante norte-americano do renomado MIT, Virgil Griffith, 24 anos, criador do WikiScanner, programa que aponta de onde partiram alterações feitas nos verbetes da enciclopédia que se tornou sinônimo de conteúdo colaborativo, a Wikipedia. Faz parte de sua natureza a possibilidade de ser modificada a qualquer momento e por qualquer pessoa. No entanto, o programa de Griffith permite saber quem mudou o quê, pois identifica os computadores — por meio de IP (internet protocol) — de onde saíram as alterações.
Até aí, tudo normal. O que o estudante do MIT descobriu rapidamente, contudo, foi que de sistemas de diversos governos (EUA, Austrália, Portugal, Vaticano) e corporações (Microsoft, Apple, Pepsi Co., etc.) partiram trabalhos de edição que apagavam críticas e dados negativos em textos, causando uma saia justíssima a essas organizações. “Meu objetivo era criar vários desastres de relações públicas para os envolvidos”, disse Griffith.
O segundo refere-se à polêmica causada na blogosfera após veiculação da campanha criada pela Talent para o Estadão, cujo objetivo era reforçar a confiabilidade e a qualidade do conteúdo do novo portal do grupo. Em um dos filmes, intitulado “Blog do Bruno”, um macaco copia e cola informações na web, o que é considerado “genial” pelos cientistas que monitoram sua evolução no aprendizado. A partir
"Um novo mundo se descortina à nossa frente. Um mundo sobre o qual não se exerce o menor controle, onde as reações às mensagens têm uma rapidez assustadora e no qual os hábitos estão se metamorfoseando cada vez mais"
do momento em que o comercial entrou no ar, vários blogueiros se sentiram atingidos e interpretaram a mensagem como uma afronta à credibilidade da comunidade de autores e colaboradores que mantêm seus diários na internet. Estadão e Talent retrataramse publicamente, negando que houvesse qualquer intenção de atacar os blogs.
E, finalmente, fecha essa relação a divulgação, durante o Encontro Nacional de Anunciantes (ENA), do estudo Geração 90 – Um Novo Conflito de Gerações, feito pela empresa Recherche, que demonstrou que indivíduos nascidos no ano de 1990, hoje com 16 ou 17 anos, desenvolveram hábitos interessantes de consumo de mídia. Exatamente por esse público ser completamente digital, a adesão às novidades do meio é automática, enquanto sua relação com veículos impressos sofre uma certa resistência. As revistas até têm apelo entre esses jovens; no entanto, como eles estão acostumados a conteúdo abundante e, principalmente, gratuito na web, não acham que valha a pena pagar por essas publicações. No que se refere aos jornais, o consumo é baixíssimo, pois esse grupo simplesmente não se sente atraído por esse tipo de mídia.
Esses três fatos demonstram claramente um novo mundo que se descortina à nossa frente. Um mundo sobre o qual não se exerce o menor controle, onde as reações às mensagens têm uma rapidez assustadora e no qual os hábitos estão se metamorfoseando cada vez mais. Comunicar-se de forma eficaz e manter uma boa reputação nesse ambiente é um processo ainda em construção e cujo manual está sendo aos poucos escrito."
Fonte: Por Regina Augusto, in www.meioemensagem.com.br
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