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Namorar na empresa, eis a questão

Incentivados, ainda não são, mas não se pode dizer que relacionamentos amorosos não sejam aceitos, hoje, nas empresas, com maior liberalidade do que há 15 ou 20 anos. A passos mais lentos, as companhias se adaptam às mudanças na sociedade, embora praveleça, no meio corporativo, um rígido código de conduta não-escrito.

"Quando a Chemtech começou ainda pequena, com cerca de 30 funcionários trabalhando em um só ambiente, implantamos o que chamei de ‘Código Quatro’, uma referência ao filme Robocop e que significava o cumprimento de regras não-escritas. Nosso Código Quatro era que relacionamentos pessoais não fariam bem a um grupo tão pequeno e fechado", conta o gerente sênior da empresa, Daniel Moczydlower.

"Mas a empresa cresceu rapidamente, hoje somos quase 500 funcionários espalhados por uma ampla região geográfica e a situação ficou mais liberal e há vários casos de casamentos e namoros", completa. A Chemtech, parte do grupo Siemens, desenvolve projetos e presta consultoria em engenharia e TI para indústrias líderes de processo. Foi incluída na lista deste ano entre as 100 Melhores Empresas para Trabalhar da consultoria Great Place to Work, classificada também no sub-ranking das 25 empresas Melhores em Descontração, que são aquelas com práticas diferenciadas de gestão de pessoas.

Ricardo Cruz, gerente de projetos e Luciana Costa, líder de de projetos, hoje marido e mulher, se conheceram no escritório da Chemtech no Rio onde ela trabaalha desde 1998 e ele desde 2001. Eram apenas colegas de trabalho quando foram selecionados para participar de um grupo de seis funcionários que fariam uma longa viagem de trabalho ao Oriente.

"Foram quatro meses entre Tailândia, Cingapura, Malásia e o clima romântico ajudou muito e começamos a namorar em segredo. Nem o pessoal do grupo desconfiou", conta Luciana. Até que chegou a hora de voltar e, mais dia menos dia, a empresa acabou desconfiando. "Fui chamado à diretoria", conta Ricardo. "Fiquei um pouco assustado porque na época vigorava o Código Quatro, mas disseram que estava tudo ok", conta.

Para o casal, o relacionamento nunca interferiu com o trabalho e consideram que foi até um ponto positivo quando foram convidados a abrir o escritório de Porto Alegre, onde estão há um ano. Para eles o fato de serem um casal ajudou muito na adaptação a um novo ambiente, longe dos amigos e da família.

Patricia Molino sócia responsável pela assessoria em gestão de RH da KPMG Brasil diz que a situação hoje é mais flexível, diferente do passado. "Há 15 ou 20 anos o estado civil era mais estável, namorava-se para casar e os casamentos eram para sempre, assim como as separações", afirma.

"Hoje mudaram as normas do que é socialmente aceito. As pessoas podem ‘ficar’ apenas uma noite, ou namorar só por uma semana e tudo bem", diz. "Por outro lado, começaram a passar muito tempo de suas vidas nas empresas, as hierarquias diminuíram e nas gestões modernas passaram a incentivar a ‘formação do time’, as ações interdisciplinares, o que leva as pessoas a se aproximarem mais", analisa.

"Em paralelo, no mercado, um profissional treinado, qualificado é um recurso raro, e as empresas têm investido muito na retenção de talentos. Não se vai demitir assim por um beijo." Patricia lembra, entretanto, que mesmo antigamente já havia empresas que aceitavam e até mesmo incentivavam estas uniões, principalmente, empresas nacionais, do interior ou familiares, que entendiam que quanto mais pessoas da família trabalhassem na empresa maior seria o empenho.

Ela alerta que hoje como ontem o que vale é a discrição. Nos primeiros encontros a relação deve ser secreta, até para não ficar malvisto se vier a se interessar por um segundo ou terceiro colega de empresa. "Festa da empresa não é lugar para começar um relacionamento. Nestas ocasiões mesmo os casais já constituídos devem procurar se intregrar com outras pessoas", diz.

"No dia-a-dia profissional, cada um deve ter seu grupo, nada de almoçar junto todos os dias ou ficar aos beijinhos ou pior ainda às patadas. A atitude dentro da empresa tem que ser profissional. Estes princípios também se aplicam a outras relações de parentesco", lembra.

Para Michelle Mattos, consultora do Great Place to Work, ao longo de dez anos do estudo das Melhores Empresas para Trabalhar foram observadas pouquíssimas práticas que estimulam ou que não inibem o relacionamento entre funcionários. "Mas em conversas informais com os funcionários, percebíamos que algumas empresas tratavam o assunto com naturalidade. Com o passar dos anos, esse quadro mudou. Atualmente o assunto é mais comum e existem até práticas direcionadas a estes casais corporativos", diz.

Não existem pesquisas sobre o assunto no Brasil. Mas se compararmos os hábitos mundialmente, uma pesquisa da célebre historiadora, feminista e sexóloga norte-americana, Shere Hite, autora, entre outros, de Sexo e Negócios (Ed. Bertrand Brasil), um estudo que realizou em dez empresas americanas mostrou que 71% dos homens e 62% das mulheres já se relacionaram com alguém do trabalho. No período da pesquisa, 42% dos entrevistados estavam vivendo um romance com algum colega de profissão, mas 35% escondiam essa relação.

A Aspen Farmacêutica, indústria Brasileira, há 30 anos no mercado e com um quadro de mais de 430 funcionários, também entrou este ano na lista das 100 Melhores Empresas para Trabalhar, da Great Place to Work, e incluida também no sub-ranking criado este ano das 25 empresas Melhores em Descontração. Não chega a incentivar mas tem uma politica aberta a respeito e muitos funcionários noivos ou casados. Aliás, como o funcionário recebe um brinde de cinco salários mínimos ao casar, se os dois forem funcionários a quantia vai dobrar.

Juliana Perlow, gerente de Assuntos Regulatórios da Aspen conheceu Sérgio Magliano, gerente Industrial na empresa e hoje seu atual marido trabalhando na Aspen. Cristiane Marques, analista de Assuntos Regulatórios e Fabio Morassi, analista de Suporte do Departamento de Tecnologia da Informação e Comuicação, também começaram a namorar na empresa, estão noivos e com casamento marcado para fevereiro.

Os dois casais garantem que não têm problemas com o relacionamento. "Na empresa mantemos uma atitude profissional e nosso relacionamento não interfere. O segredo está em saber não msiturar as cosias", diz Cristiane Marques. "Cada coisa tem seu lugar", afirma Juliana Perlow. "É tudo uma questão de equilíbro, de não levar trabalho para casa, nem namorar dentro da empresa", diz. "Por outro lado trabalhar com meu marido, somos ambos farmacêuticos, me dá um segurança extra pois conheço sua seriedade profissional melhor do que ninguém."


Fonte: Por Regina Neves, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 9

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