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Quando o risco vira oportunidade

Onze de setembro de 2001. Há exatos seis anos, dois Boeings seqüestrados por terroristas colocavam abaixo as duas torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York. Da mesma forma que os prédios desapareceram do mapa, de uma hora para outra algumas empresas sediadas no complexo também deixaram de existir. Tudo porque nunca, em momento algum, seus dirigentes se preocuparam com a continuidade dos negócios, planejando, por exemplo, a instalação dos empreendimentos em outros locais, além da sede principal, no WTC. "Essas empresas sumiram de uma hora para outra", comenta o diretor-geral da Daryus Consultoria e Treinamento, Jéferson D’Addario, que investiu algumas economias em empresas do WTC e viu, pela TV, elas se esvaírem em poucos segundos.

Não por coincidência, o 11 de setembro foi escolhido como data para um evento sobre gestão de risco, o 2º Global Risk Meeting, que acontece hoje em São Paulo, no auditório da Microsoft, localizado no Centro Empresarial Nações Unidas, ao lado da sede brasileira do WTC. No evento, profissionais da área discutirão casos de sucesso e trocarão experiências sobre o tema.

Um dos aspectos a serem abordados é a escassez de profissionais especializados. A boa notícia, segundo D’Addario, é que o mercado brasileiro está escancarado para os executivos que se interessam pelo assunto. Como exemplo, o consultor cita um dos aspectos da gestão global de riscos, a continuidade dos negócios. "Há alguns anos, enquanto nos Estados Unidos havia 12 mil profissionais treinados no assunto (5 mil deles certificados), no Brasil, havia apenas três."

O profissional que lida com gestão de riscos tem como missão identificar e analisar os perigos e riscos de uma atividade, propondo medidas para reduzi-los ou eliminá-los. Em alguns casos, quando o risco não pode ser evitado, ele deve prever e implantar planos de contingência. Os riscos para a empresa relacionam-se a vários aspectos (ambiental, trabalhista, tecnológico, financeiro, social, etc).

Para facilitar a abordagem do tema, a Daryus Consultoria e Treinamento elaborou um diagrama, onde relaciona as várias vertentes para a gestão dos riscos nas empresas. A lista inclui, entre outros vértices, os riscos em saúde, segurança e meio ambiente, segurança da informação e segurança em tecnologia da informação.

O ideal, segundo o consultor, seria que os profissionais fossem capazes de gerenciar todas as áreas simultaneamente. Mas como é muito difícil - praticamente impossível - encontrar executivos com conhecimentos profundos em todas as áreas de risco, as companhias delegam a gestão de cada tipo de risco a um profissional - assim, meio ambiente tem um gestor, saúde ocupacional, outro, e assim por diante. E apenas nas companhias mais avançadas há uma gestão global.

O engenheiro de produção Fernando Manfio atuou como gestor de risco em várias instituições financeiras, como Credicard, Citibank, Cardsystem, Itaú e Finivest. Acabou se especializando na formação de profissionais e implantação de cultura de risco na gestão de crédito e chegou a escrever um livro sobre o tema (O Risco Nosso de Cada Dia).

Na opinião de Manfio, há um grande déficit de profissionais para atuar em gestão de riscos financeiros hoje no Brasil. "É um profissional muito escasso. O volume de crédito concedido no Brasil duplica em quatro anos e o País não consegue formar profissionais na mesma velocidade."

A diversificação dos negócios em vários segmentos, como fazem gigantes Votorantim e Camargo Corrêa, pode ser vista como uma prática de gestão de risco. O raciocínio é lógico: no caso de uma das áreas de atividade passar por alguma eventual crise (como um aumento nos gastos com insumos importados, decorrentes de uma possível alta do dólar, por exemplo), as demais ajudam a manter o equilíbrio e a saúde do conglomerado empresarial.

No caso das empresas com sede no World Trade Center, em Nova York, o ponto determinante para a ruína total foi a concentração das atividades em apenas um lugar. Com a queda do complexo, a empresa desapareceu. Essas, porém, são apenas uma das várias visões possíveis sobre o tema, às quais um profissional de gestão de riscos deve estar atento.

Embora a maioria dos profissionais que atuam na área advenha da tecnologia da área de informação, de acordo com Jéferson D’Addario, não há um perfil técnico específico para o profissional de gestão de riscos. O consultor, inclusive, cita o exemplo de um jornalista, hoje considerado um dos grandes profissionais de segurança da informação no País. "O profissional de gestão de risco deve ter boa uma visão empresarial, ótima gestão de pessoas e processos, de preferência ter um razoável conhecimento de tecnologia e precisa gostar, necessariamente, de atuar com gestão de riscos."


Fonte: Por Marcelo Monteiro, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 9

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