Pular para o conteúdo principal

Aquecimento global preocupa 79% dos brasileiros

Os números de recente pesquisa do Instituto Ipsos e do Ciesp (Centro das Indústrias do estado de São Paulo) revelam o que, até um ano atrás, pareceria inimaginável mesmo para o mais otimista dos ambientalistas: o aquecimento global tornou-se, decididamente, um assunto popular entre os brasileiros. E já ocupa um espaço entre as suas preocupações.

Quase oito em cada dez brasileiros não só sabem o que são as mudanças climáticas como acham que este fenômeno representa um risco de verdade para o Planeta, podendo levá-lo a uma catástrofe. O nível de informação é maior quanto mais alta é a classe social do entrevistado. Entre os que pertencem ás classes A/B, 96% já ouviram falar em aquecimento global. Na classe C, o percentual de pessoas familiarizadas com o tema é de 84%, e nas classes D/E, de 69%.

Além de saberem do que se trata, os brasileiros conseguem identificar os impactos das mudanças climáticas. Para 72%, elas vão afetar diretamente suas vidas nos próximos anos. Mas, a despeito do alto nível de sensibilização, a maioria (58%) dos mil entrevistados, em 70 cidades de nove regiões metropolitanas do País, admite que não tem feito nenhuma mudança de hábito pessoal para conter a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. Dos 42% de brasileiros mais engajados, 22% praticam a coleta seletiva de lixo, 13% deixam de comprar produtos agressivos ao meio ambiente, 5% só adquirem produtos com embalagens de fácil descarte e 2% usam carro movido a álcool.

Analisando os dados do estudo do Ipsos - o primeiro, de abrangência nacional, a avaliar o que pensa o brasileiro sobre o aquecimento global - pode-se realizar, ao mesmo tempo, dois tipos de leitura complementares: uma francamente otimista e outra mais contida e realista.

Primeiro, a otimista. Feita a necessária ressalva de que toda pesquisa de opinião pública, apresenta um contigente de respostas de impulso e politicamente corretas, não deixa de ser alentador o fato de que a maioria dos brasileiros sabe o que é aquecimento global. Esse quadro se deve, sem dúvida, ao maior interesse de cobertura do tema por parte da imprensa, após a publicação dos relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima), que exibiram números alarmantes e ressaltaram, de forma inédita, a relação do fenômeno com a ação do homem. Também pode ser atribuído a uma percepção cada dia mais evidente dos efeitos das mudanças climáticas no cotidiano de nossas vidas, o que fez com que a catástrofe anunciada, antes teórica e distante, se transformasse em um inimigo próximo e muito íntimo. Não é preciso ser cientista para perceber que os dias estão mais quentes, as geleiras estão derretendo, muitas espécies animais vêm morrendo, que os rios começam a secar em regiões tropicais e a encher nas regiões mais distantes do Equador.

Diante de tanta informação e tantas evidências científicas, causa estranheza que 19% dos brasileiros nunca tenham ouvido falar de aquecimento global, 16% achem que o problema não têm ver consigo e expressivos 9%, escorados numa inusitada teoria conspiratória, o considerem apenas uma "jogada de marketing". Marketing a serviço de quem é o caso de se perguntar. Dos que - como nós - são contrários ao desmatamento, apontado por 50% dos entrevistados como vilão número um das mudanças climáticas? Ou das indústrias, vistas como principais responsáveis pelo aquecimento global? Esse tipo de visão distorcida, fragmentada ou apenas simplória, gera resistências e expectativas no mínimo exageradas. Nunca é demais lembrar, por exemplo, que o segmento agrícola, por causa do uso de defensivos, adubos químicos e agrotóxicos, contribui tanto ou mais para o aquecimento global do que as indústrias. E que o controle da ocupação irregular de áreas agricultáveis é tão importante quanto o de emissão de CO2.

Primeira conclusão possível: apesar do inegável aumento de informação, ainda há, portanto, muita gente desinformada sobre o aquecimento global. E, mesmo entre os que, segundo a pesquisa, estão familiarizados com o tema, o nível de informação beira o superficial, especialmente entre os de menor escolaridade e menor capacidade de análise crítica das informações. Muitos são os que já conseguem formar uma visão geral a respeito do tema e seus impactos. E isso representa um avanço importante. Mas muitos são também os que só compreendem o tema até o capítulo um, incapazes ainda de fazerem uma leitura mais contextualizada dos fatos.

O desafio que se impõe aos meios de comunicação, principalmente os de comunicação de massa como a TV, é que sejam cada dia mais didáticos na cobertura dos temas relacionados ao aquecimento global, destacando não suas causas, cenários e contextos; e chamando a atenção para as responsabilidades de governos, empresas e indivíduos na solução do problema. A informação não pode ficar restrita aos noticiários. Precisa ser objeto de ações de propaganda com linguagem criativa e acessível e de ações de merchandising social em novelas.

Outra conclusão possível do estudo do Ipsos: o aumento de circulação de informações não tem sido suficiente para produzir mais consciência, muito menos o senso de urgência necessário para uma mudança de hábitos. Quase 60% dos brasileiros continuam acreditando que aquecimento global é um problema do outro: da empresa, do governo, do capitalismo selvagem, do Bush, das potências do G8 ou mesmo do vizinho ao lado que desperdiça água lavando a calçada. A boa notícia é que já tem mais gente, do que há um ano, usando o seu poder de consumidor consciente para preferir produtos ambientalmente responsáveis. Como esse tipo de atitude, essas pessoas estão mais preparadas para fazer a diferença em benefício do planeta.

Informação é importante, sem dúvida Mas sozinha não basta. É fundamental que ela vire conhecimento. Só o conhecimento produz consciência que, por sua vez, gera mudança.


Fonte: Por Ricardo Voltolini, in www.aberje.com.br

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Conselho Federal de Marketing?

A falta de regulamentação da profissão de marketing está gerando um verdadeiro furdunço na Bahia. O consultor de marketing André Saback diz estar sendo perseguido por membros do Conselho Regional de Administração da Bahia (CRA/BA) por liderar uma associação – com nome de Conselho Federal de Marketing e que ainda não está registrada – cujo objetivo, segundo ele, é regulamentar a profissão. O CRA responde dizendo que Saback está praticando estelionato e que as medidas tomadas visam a defender os profissionais de administração. Enquanto André Saback, formado em marketing pela FIB - Centro Universitário da Bahia -, diz militar pela regulamentação da profissão, o Presidente do CRA/BA, Roberto Ibrahim Uehbe, afirma que o profissional criou uma associação clandestina, está emitindo carteirinhas, cobrando taxas e que foi cobrado pelo Conselho Federal de Administração por medidas que passam até por processar Saback, que diz ter recebido dois telefonemas anônimos na última semana em tom de ameaç