Pular para o conteúdo principal

A bicicleta ergométrica e a busca do foco

Nesta semana tive a oportunidade de almoçar com um amigo que respeito muito. Ele, diretor de uma bem-sucedida empresa de biotecnologia, é um homem profundamente interessado pelo motivo do sucesso das organizações, e é também um incansável questionador.

Na ocasião, fui inquirido quanto ao alto índice de angustia que permeia os executivos. Pesquisas apontam que até 80% dos executivos abordados demonstram algum grau de insatisfação pelo seu projeto de vida, mesmo tendo atingido "sucesso" em suas carreiras profissionais.

Para responder a tal pergunta fiz uso de meus 12 anos de experiência como headhunter, que me permitiram participar da estruturação de várias empresas e entrevistar uma média de 800 profissionais por ano. Agora, gostaria de dividir com o leitor minha análise pessoal.

Em primeiro lugar, está questão não é recente. Desde a Grécia antiga encontramos figuras mitológicas, como Tântalo, que sofreu a angústia de nunca atingir o que era almejado. No caso, este personagem é castigado e lançado ao Tártaro (inferno Grego), onde, num vale abundante em vegetação e água, foi sentenciado a não poder saciar sua fome e sede, visto que, ao aproximar-se da água, esta escoava e ao erguer-se para colher os frutos das árvores, os ramos moviam-se para longe de seu alcance, sob a força do vento. A expressão "Suplício de Tântalo" refere-se ao sofrimento daquele que deseja algo aparentemente próximo, porém, inalcançável.

Pensando no exposto acima , e se nos permitirmos fazer uma analogia entre uma trajetória de vida e uma bicicleta, realmente encontramos muitos casos em que em vez de o executivo se sentir cada vez mais próximo de seus objetivos profissionais e pessoais, ele se vê, muitas vezes, pedalando uma "bicicleta ergométrica". Isto é, mesmo com muita determinação, investindo energia e esforço, sente que não consegue sair do lugar e chegar lá.

Acredito que o motivo desta sensação está no foco. Ou melhor, na falta dele. Falta procurar responder uma pergunta que parece simples, mas não é: onde eu quero realmente chegar?

Para respondê-la, temos que prestar muita atenção, pois existe uma diferença babilônica entre "onde acreditamos que devemos chegar?" e "onde queremos de fato chegar?", entre lutar pelo que realmente almejamos e não pelo que simplesmente devemos.

O dever muitas vezes é imposto por vários motivos, muitos deles pragmáticos, outros menos: obrigações familiares, imposições sociais, vaidades etc. Eles estimulam uma autocobrança muitas vezes envenenadora.

Luta-se muito pelo dever e muito pouco pelo querer, construindo com uma mão, mas infelizmente desmanchando com a outra.

A diferença entre o querer e o dever parece sutil, mas há um abismo imenso entre estes dois simples verbos, o que contribui muito para o resultado real e final da satisfação pessoal.

Em meus programas de executive coaching a melhor forma de fazer um profissional entender está distinção está na busca constante pelo autoconhecimento. Está não é uma questão de simplesmente querer cada vez mais se conhecer melhor, mas, neste caso sim, acredito que seja um dever.

E não existe uma hora certa para começar a afinar este foco. A hora é agora. É um exercício que tem que ser constante, como cuidar da saúde, para que a sensação de estar pedalando a tal da "bicicleta ergométrica" não aflore tarde demais.


Fonte: Por Luiz Wever, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 9

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Conselho Federal de Marketing?

A falta de regulamentação da profissão de marketing está gerando um verdadeiro furdunço na Bahia. O consultor de marketing André Saback diz estar sendo perseguido por membros do Conselho Regional de Administração da Bahia (CRA/BA) por liderar uma associação – com nome de Conselho Federal de Marketing e que ainda não está registrada – cujo objetivo, segundo ele, é regulamentar a profissão. O CRA responde dizendo que Saback está praticando estelionato e que as medidas tomadas visam a defender os profissionais de administração. Enquanto André Saback, formado em marketing pela FIB - Centro Universitário da Bahia -, diz militar pela regulamentação da profissão, o Presidente do CRA/BA, Roberto Ibrahim Uehbe, afirma que o profissional criou uma associação clandestina, está emitindo carteirinhas, cobrando taxas e que foi cobrado pelo Conselho Federal de Administração por medidas que passam até por processar Saback, que diz ter recebido dois telefonemas anônimos na última semana em tom de ameaç