Pular para o conteúdo principal

Esquenta a discussão sobre ética e responsabilidade no ambiente de trabalho

"Em nosso interior, sempre há uma Enron oculta à espreita". Essa frase, lapidar, é de autoria da consultora norte-americana Sherron Watkins. A menção à empresa, para sempre associada ao escândalo contábil do início da década, não é gratuita, pois cresce no ambiente empresarial norte-americano o sentimento de que, mais do que nunca, é necessário enfatizar a ética na formação de novas lideranças.

A tentação à desonestidade cresce na medida em que recrudesce a pressão competitiva no ambiente de trabalho, diagnostica a consultora Elizabeth Doty, escritora do blog Devil's Bargain ("Contrato com o diabo"), que, apesar do título algo dramático, lida com a questão bem pertinente da luta para manter os valores pessoais dentro da vida corporativa. Já na Escola de Administração da Universidade Harvard, foi instituído o curso O Líder Moral, que é ministrado pela executiva Sandra Sucher, uma veterana do mercado financeiro que integra o conselho do Better Business Bureau, em Boston.

Sinal dos tempos? "Uma das primeiras coisas que eu notei no mundo dos negócios foi que as decisões mais difíceis do líder eram aquelas nas quais estavam envolvidas questões éticas e morais", afirma Sandra. A complexidade do tema deve-se à sua inerente ambigüidade. É rara nos negócios uma situação em que estejam claramente delineados um "lado bom" e um "lado mau", assim como também não existe uma solução única que possa moldar-se a todos os impasses. Um remédio viável a todo profissional, aconselha Elizabeth Doty, é estudar o que dificulta (e o que possibilita) a organização permanecer dentro de seus princípios. Na sua visão, isso se torna um antídoto benéfico contra as desilusões na vida profissional.

Uma das maiores armadilhas dos empresários é a crença de que a criação do próprio negócio será uma forma de evitar tais dilemas éticos. "Dizem para si mesmos: 'tudo será feito apenas com o meu aval'", afirma Elizabeth. Ao iniciar um negócio, eles inevitavelmente serão confrontados com as forças que levaram outras companhias a fazer concessões - em atividades como a obtenção de crédito, a contratação de pessoal ou a comercialização de produtos e serviços. "É importante lembrar que nós não somos os 'mocinhos' apenas porque nossa intenção inicial era boa", diz a consultora. Por fim, a consultora aconselha que o novo profissional - assim como o mais experiente - feche um "contrato com si mesmo", estabelecendo asssim o que é negociável, o que não é, o que é importante e o que não é na vida da empresa. Nisso, a sinceridade pessoal é um fator decisivo, acredita Elizabeth.

Sinceridade, tato e discrição são as qualidades necessárias, de acordo com Sandra Sucher, para a administração de uma crise motivada por questões éticas. Numa organização sem fins lucrativos da qual fazia parte, Sandra foi abordada por um funcionário prestes a fazer uma denúncia à mídia sobre um dos diretores, acusado de manipular a contabilidade da organização. Como ser imparcial com o diretor? Como proteger o denunciante até o final da investigação? Como determinar a culpa ou a inocência? A discrição marcou a investigação, cujas primeiras etapas transcorreram em sigilo.

A decisão ética sempre envolverá, afirma Sandra, diversas partes, muitas vezes com interesses conflitantes, de acionistas, de funcionários e de todos os outros stakeholders - como clientes, fornecedores e comunidade vizinha. "Os líderes de empresas precisam ser capazes de avaliar corretamente a complexidade de cada situação", diz a professora da Escola de Administração de Harvard.

Enron – Companhia americana do setor de energia que pediu concordata em 2001, depois de divulgadas suas fraudes contábeis. Com o escândalo, a Arthur Andersen, auditora da Enron, perdeu o registro nos EUA e fechou as portas


Fonte: Por Álvaro Opperman, in epocanegocios.globo.com

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Conselho Federal de Marketing?

A falta de regulamentação da profissão de marketing está gerando um verdadeiro furdunço na Bahia. O consultor de marketing André Saback diz estar sendo perseguido por membros do Conselho Regional de Administração da Bahia (CRA/BA) por liderar uma associação – com nome de Conselho Federal de Marketing e que ainda não está registrada – cujo objetivo, segundo ele, é regulamentar a profissão. O CRA responde dizendo que Saback está praticando estelionato e que as medidas tomadas visam a defender os profissionais de administração. Enquanto André Saback, formado em marketing pela FIB - Centro Universitário da Bahia -, diz militar pela regulamentação da profissão, o Presidente do CRA/BA, Roberto Ibrahim Uehbe, afirma que o profissional criou uma associação clandestina, está emitindo carteirinhas, cobrando taxas e que foi cobrado pelo Conselho Federal de Administração por medidas que passam até por processar Saback, que diz ter recebido dois telefonemas anônimos na última semana em tom de ameaç