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Jogue fora as laranjas podres antes que elas contaminem as outras

Como é que se tiram as laranjas podres de dentro da empresa? (David Michalek, Bartlett, Ilinóis)

Para início de conversa, ponha de lado a podadeira e pegue logo uma serra elétrica. Saiba que não há nada mais prejudicial para uma empresa do que a atitude de indiferença, condescendência e tolerância da chefia para com um, dois ou três funcionários arrogantes. Esse tipo de gente mina a confiança e o moral da companhia. Sem essas duas coisas, fica mais difícil produzir o vínculo necessário entre colaboração e velocidade — isso sem falar que a presunção desses funcionários tira toda a graça do trabalho.

Antes, porém, de discorrermos sobre a melhor maneira de você se livrar desse tipo de gente — laranjas podres, certo? — é preciso deixar claro quem são essas pessoas. Em qualquer empresa, podemos dividir os empregados em quatro categorias se os analisarmos de acordo com duas dimensões distintas: desempenho — isto é, sua capacidade de produzir os números esperados — e o grau de excelência com que transmitem os valores cultivados pela empresa. Bem, “valor” é uma palavra imponente e um tanto vaga; na verdade, ela se refere de fato a “comportamentos”. Quando uma empresa faz referência a valores, está implícita aí a idéia de como a organização espera que seus empregados se comportem. Essa é a razão pela qual a maior parte das listas de valores apresentam virtudes como integridade e imparcialidade.

Trata-se de elementos necessários, mas qualquer uma dessas listas pode — e deve — estar ligada a objetivos estratégicos, de modo que a empresa possa, por exemplo, agregar valores como pensar e agir globalmente, cultivar o trabalho em equipe, promover explicitamente a velocidade e resolver com urgência qualquer problema. Bem, voltemos agora aos quatro tipos de empregados. O primeiro deles é aquele que apresenta bom desempenho e cultiva valores positivos. Com vencedores assim, gerir a empresa é muito fácil — basta incentivar o comprometimento, recompensar quem merece e incentivá-los a seguir adiante, ambicionando coisas mais altas. A segunda categoria é a dos funcionários que não apresentam bons resultados e não têm o comportamento adequado. Neste caso, a solução também é muito fácil: mostre a eles a porta da rua.

O terceiro tipo de empregado apresenta resultados medíocres no primeiro ano, mas tem aqueles traços de comportamento que você considera necessários, portanto os gerentes deveriam conceder a essas pessoas bem-intencionadas uma segunda ou uma terceira chance. Esse funcionário pode até ter um desempenho abaixo do desejado, mas não é de forma alguma um profissional presunçoso. Não, presunçoso é o quarto tipo de empregado.

Este último indivíduo é do tipo que apresenta os resultados esperados, mas não põe em prática os valores da companhia. Você conhece o tipo, não é verdade? Ele pode ser encontrado em todos os departamentos da empresa, e está presente em quase todas elas. Esses indivíduos costumam ser mesquinhos, reticentes ou arrogantes. Muitas vezes, tratam muito bem os outros, e logo em seguida saem distribuindo pontapés. Muitos são do tipo solitário, frio; outros são mais volúveis, e mantêm as pessoas à sua volta em um estado aterrador de sujeição. Apesar de tudo, muitas vezes esse quarto tipo de empregado sai ileso de tudo em que se mete. É claro que o chefe desse sujeito pode até censurá-lo, mas depois, tudo volta ao que era antes. Não há remorsos. Na verdade, é provável que muitos de nós já tenhamos nos sentido culpados em algum momento por permitirmos que aquele desejo imenso de bons resultados cubra os pecados decorrentes do comportamento perverso de um determinado funcionário. Suspiramos indiferentes e simplesmente desviamos o olhar. Está errado! Se você tem problemas com indivíduos assim, tem de lidar com a situação de frente. Esse é um processo que só pode ser deflagrado se houver um estalo na cabeça das pessoas de que é preciso mudar. É importante que a liderança entenda que o tipo arrogante prejudica a empresa mais do que se possa imaginar.

Embora esses indivíduos produzam resultados excelentes, o dano paralelo à cultura e à competitividade da companhia como um todo é muito maior. No momento em que a liderança compreende que é imprescindível mudar — e sente bem lá no íntimo essa necessidade — torna-se imperioso livrar-se dos tipos arrogantes. Cabe à gerência certificar-se de que todos na empresa estão a par dos valores da companhia. Deve-se demonstrá-los, fazer elogios pródigos a eles e recompensar os que os praticam. Por fim, deve-se falar deles a ponto de sufocar todos na empresa com sua importância. O fato é que os valores precisam estar de tal modo visíveis aos empregados que, se alguém não os vivencia, torna-se um verdadeiro estranho no ninho que é logo identificado. É como se um jogador dos Yankees aparecesse devidamente uniformizado no banco do Red Sox. Mas, para acabar com os arrogantes dentro da empresa de uma vez por todas, só mesmo despedindo-os com enorme alarido.

É errado demitir alguém por violação dos valores corporativos e depois atenuar o evento com uma história do tipo “Joe saiu porque queria passar mais tempo com a família”. O líder tem de dizer a verdade: “Joe teve de ser mandado embora porque não sabia pensar globalmente”, ou caso a diversidade faça parte do conjunto de valores da companhia: “Joe foi convidado a se retirar porque fazia discriminação de sexo e cor na hora de contratar um funcionário novo”. Toda vez que você se livrar de um tipo desse, não perca a oportunidade de fazer da ocasião um momento de aprendizagem. As pessoas compreenderão imediatamente que o comportamento arrogante tem um preço alto.

É verdade que nem todas as empresas estão dispostas a se livrar dos funcionários presunçosos. Alguns deles passarão batidos porque têm um desempenho fenomenal, ou porque seu mau comportamento é assustadoramente sutil. Jamais desista, porém, de separar as laranjas podres das saudáveis. Conservando-as, você fará um péssimo negócio.


Fonte: Por Jack e Suzy Welch, in portalexame.abril.com.br

Comentários

Anônimo disse…
E quando a laranja podre é o chefe superior? O dono, o presidente? Este também contamina inclusive todo o laranjal.

Bom post !!

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