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Apple, Google e Microsoft se armam para uma nova grande batalha: o controle dos telefones celulares

No mercado de telefonia celular, o segmento que mais cresce é o de smartphones, os aparelhos que reúnem num formato de bolso características de computadores. Em 2007, foram vendidos 115 milhões desses telefones em todo o mundo, aumento de 60% em relação ao ano anterior. No mesmo período, a venda de celulares cresceu apenas 16%. A onda dos telefones inteligentes é fruto de avanços tecnológicos que têm permitido aos fabricantes criar aparelhos mais poderosos com preços cada vez mais baixos. O design atraente ainda é um importante argumento de venda, mas no mundo dos smartphones a escolha estética é só parte da decisão de compra: as funções que o celular vai desempenhar são cada vez mais importantes na tomada de decisão. Prova disso é o mais recente anúncio da Apple. No início de março, o CEO da empresa, Steve Jobs, anunciou o aguardado lançamento do kit de desenvolvimento de software para o iPhone. Com ele, programadores de todo o mundo poderão criar aplicativos para o telefone que já tomou o mundo de assalto com sua elegância -- e que agora pode ser também capaz de competir de igual para igual no mundo corporativo com o onipresente BlackBerry. O anúncio da Apple foi apenas o lance mais recente numa disputa pelo coração dos celulares: o sistema operacional. O Windows domina o mundo dos computadores -- e a próxima fronteira dessa batalha é o telefone celular.

Em jogo está um prêmio bilionário. Embora os smartphones hoje ainda sejam uma porcentagem pequena do total de celulares em uso, os números da indústria da telefonia móvel são de outra ordem de grandeza quando comparados à indústria dos PCs. No ano passado, foram vendidos 1,1 bilhão de celulares, ante 269 milhões de computadores. Mesmo que os valores cobrados pelo sistema operacional de um celular sejam apenas uma fração de seu equivalente nos PCs, trata-se de um mercado enorme. É de olho nele que os maiores gigantes da tecnologia estão se posicionando -- e entre eles está, naturalmente, a Microsoft. Mas repetir o sucesso que o Windows obteve no mundo dos computadores será muito difícil, se não impossível. O primeiro obstáculo para isso é a diversidade de fabricantes de celulares. Para conseguir estar num aparelho, é preciso estabelecer relações próximas com todos eles. Hoje, a empresa de Bill Gates tem acordos com mais de 50 fabricantes. Mas o maior de todos está fora de seu alcance, pelo menos por enquanto: a Nokia, maior vendedora de celulares do mundo, é sócia majoritária da empresa que produz o sistema Symbian, concorrente direto do Windows Mobile.


O mercado hoje
Em 2007, três tipos de sistema dominaram o setor:
Symbian 67%
Windows Mobile 13%
BlackBerry 10%
Linux 4%
Apple 4%
Outros 2%

Fonte: Canalys


NEM SEQUER A MAIOR PARCEIRA da Microsoft no universo móvel se compromete com uma relação exclusiva. A taiwanesa HTC, responsável por 85% das vendas do Windows Mobile no mundo, já anunciou que também vai produzir modelos baseados no Android, sistema operacional aberto (ou seja, que não tem dono) desenvolvido por um consórcio liderado pelo Google. "O futuro do celular é a internet. Como o Google é bem-sucedido nessa área, decidimos participar do consórcio", diz Allan Macintyre, diretor de marketing da HTC para a América Latina. No mundo dos computadores de bolso, ao que tudo indica, a Microsoft não será capaz de erguer as mesmas barreiras de entrada que garantiram seu monopólio nos PCs. "Há espaço suficiente para pelo menos três sistemas operacionais", diz Adam Leach, analista da consultoria britânica Ovum, especializada em telecomunicações.

Mas são muitos os atores envolvidos no mercado de smartphones, e os fabricantes são apenas uma parte de uma complexa equação. Outro elemento decisivo são as operadoras. Com os principais mercados do mundo já tomados, a disputa dos grandes grupos de telecomunicações hoje é pelas receitas de tráfego de dados. Como a imensa maioria das operadoras funciona, na prática, como um canal de distribuição de aparelhos, o sistema que garantir mais receitas certamente será favorecido. Na Alemanha, a operadora T Mobile observou que os usuários de iPhone acessam até 30 vezes mais a internet que a média dos consumidores. Os departamentos de tecnologia das grandes empresas também terão papel importante na disputa que se avizinha. Hoje, a maioria está acostumada a lidar com o BlackBerry, da canadense Research In Motion, que produz os aparelhos vistos nas mãos dos executivos e também o complexo sistema de software que garante a entrega das mensagens de e-mail em tempo real. Desbancar um competidor de reputação provada não será uma tarefa fácil.


Os desafiantes
A disputa pela próxima fronteira do software vai acontecer na tela dos celulares. Eis os principais concorrentes e suas estratégias:

Symbian
Empresa financiada por seis fabricantes
Estratégia: A plataforma está disponível em um grande número de aparelhos e é aberta, o que permite a criação de vários aplicativos.A próxima aposta é em celulares touch-screen

Windows Mobile
Microsoft
Estratégia: A linguagem já conhecida do sistema facilita a criação de aplicativos.A Microsoft investe no relacionamento com fabricantes para disponibilizar o sistema em vários celulares

BlackBerry
Research In Motion
Estratégia: A empresa tem uma base de consumidores fiéis no mercado corporativo. Em 2006, lançou um aparelho voltado para o consumidor final, mais leve e menor que os convencionais

iPhone
Apple
Estratégia: A aposta principal é no design do aparelho. Em junho, a Apple incluirá serviços de e-mail nos celulares para atrair executivos e abrirá o kit de software para ampliar o número de programas

Android
Open Handset Alliance
Estratégia: O sistema, baseado em Linux, é aberto e gratuito. Não terá custo para ser incluído nos aparelhos nem será cobrado nada dos desenvolvedores de software

LiMo
Fundação LiMo, com 32 empresas
Estratégia: O sistema será aberto, permitindo que fabricantes e desenvolvedores criem qualquer tipo de aplicativo. Pretende ser uma versão única do Linux para smartphones


O FATOR MAIS IMPORTANTE e decisivo na batalha, porém, deve ser a lealdade dos desenvolvedores de software. Quando apresentou o conjunto de ferramentas que permitirá aos programadores criar aplicativos para o iPhone, Steve Jobs também anunciou a instituição de um fundo de 100 milhões de dólares para apoiar a criação e o crescimento de novas empresas cuja atividade principal será escrever software para a plataforma. O comando desse fundo é de ninguém menos que John Doerr, um dos capitalistas de risco mais bem-sucedidos do Vale do Silício. "O iPhone é uma oportunidade maior que a dos PCs", disse ele. Um pouco de exagero? Talvez. Mas Doerr foi um dos primeiros a apostar em empresas como Google e Amazon -- e, quando ele fala, a indústria da tecnologia ouve com atenção.

Nos primeiros quatro dias em que estiveram disponíveis para download no site da Apple, as ferramentas para desenvolvedores foram baixadas mais de 100 000 vezes. O kit do sistema Android, do Google, foi baixado 750 000 vezes -- e o gigante das buscas promete distribuir 10 milhões de dólares em prêmios aos melhores aplicativos. Embora os consumidores não comprem os aparelhos pelo sistema operacional, os tipos de programa que ele aceita serão um fator decisivo. "A plataforma que tiver a comunidade de desenvolvedores mais ativa será a mais forte candidata a vencer a batalha da computação móvel", disse o analista Gene Munster, do banco de investimentos Piper Jaffray. Hoje, o sistema Symbian, que tem por trás a Nokia, é líder absoluto em termos de disseminação e já conta com quase 9 000 programas para sua plataforma. Mas isso quer dizer pouco, segundo os especialistas. Ainda é cedo demais para apontar os favoritos. Os primeiros aplicativos para os sistemas da Apple e do Google só devem aparecer a partir do meio do ano. Nos anos 80, quando a Microsoft consolidou sua posição de dominação no mundo dos desktops, o fator determinante para sua vitória foi o cortejo dos desenvolvedores independentes. Agora, ao que tudo indica, Google e Apple aprenderam a lição -- e não vão deixar que a história se repita.


Fonte: Por Denise Dweck, in portalexame.abril.com.br

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