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Por que a gratuidade é o futuro dos negócios

Em A Cauda Longa, Chris Anderson ilustrou como a internet trouxe ao mercado uma mudança de paradigma: da massificação para a personalização. Atualmente, Anderson escreve um novo livro, que já tem nome: Free, que será lançado no início do próximo ano e distribuído gratuitamente em alguns tipos de mídias. Chris Anderson será um dos palestrantes do Fórum Mundial de Marketing & Vendas, a ser realizado nos dias 3 e 4 de junho de 2008 em São Paulo.

Até pouco tempo atrás, tudo que era gratuito era na realidade o resultado do que os economistas chamam de subsídio cruzado: você leva algo de graça se comprar um produto, ou ganha algo de graça se pagar por um serviço. Ou seja, na realidade, tratava-se de uma gratuidade falsa.

Ao longo da última década, no entanto, um tipo diferente de gratuidade surgiu, baseada não em subsídio cruzado, mas no fato de que os custos dos próprios produtos diminuem rapidamente.

Depois de uma década e meia de experimentos on-line, os últimos debates sobre o que deve ser gratuito e pago na web estão acabando. Em 2007, The New York Times tornou-se gratuito; este ano, The Wall Street Journal também se tornará gratuito, exceção feita às partes “realmente especiais” anunciadas por Rupert Murdoch, partes estas cujo acesso provavelmente não será gratuito, mas pelo contrário, bem caro.

O crescimento da economia gratuita tem sido guiado pelas tecnologias que impulsionam e dão sustentação à web. Implacável, a lei de Moore (não por coincidência o mesmo nome de um dos fundadores da Intel) afirma que o preço dos processadores cai pela metade a cada 18 meses. Porém, inexoravelmente, os preços do armazenamento de dados e da banda larga caem ainda mais rapidamente. Isto significa dizer que as tendências de mercado que determinam o custo de fazer negócios on-line apontam todas elas para o mesmo local: para zero.

A web consiste da economia de escala e da descoberta de formas para atrair grandes massas de usuários para recursos centralizados, com custos fixos diluídos por enormes audiências que a tecnologia cada vez mais torna possível alcançar.

A web não tem a ver com custo dos equipamentos nos data centers e sim com o que esses equipamentos podem fazer. E a cada ano, eles fazem mais por menos, levando o custo marginal do que consumimos muito próximo de zero.

Quanto mais reclamamos que as coisas estão ficando caras, mais somos cercados por forças que as tornam mais baratas. Quarenta anos atrás, caridade era uma ação focada em prover vestuário para os pobres. Hoje, é possível encontrar camisetas por um preço menor do que uma xícara de café, graças à China e aos recursos globais. Isso também é verdade para brinquedos e commodities de toda espécie.

A tecnologia digital beneficia-se dessa dinâmica e de algo ainda mais poderoso: a mudança, no século XX, das máquinas “newtonianas” para as quânticas. Estamos apenas começando a explorar os efeitos disso em materiais revolucionários – semicondutores (velocidade de processamento), componentes ferromagnéticos (armazenamento de dados) e fibras ópticas (velocidade de conexão). Estamos a apenas algumas décadas da descoberta de um novo mundo.

Mas o que isso tem a ver com a noção de gratuidade?

Ano passado, o Yahoo! anunciou que o Yahoo Mail, serviço de webmail gratuito, iria fornecer espaço ilimitado de armazenamento. Em função disso, o mercado de armazenamento de dados on-line caiu para zero. E o incrível é que ninguém ficou surpreso. Muitos entenderam que já era hora de ser oferecido espaço ilimitado de armazenamento.

Está claro que praticamente tudo que a tecnologia web toca toma a estrada da gratuidade, ao menos para os consumidores. O armazenamento de dados está agora ligado à banda de conexão (YouTube, grátis) e à velocidade de processamento (Google, grátis), na corrida rumo ao preço zero.

Os princípios da economia afirmam que em um mercado competitivo, os preços caem para custos marginais. Nunca houve um mercado mais competitivo que a internet e a cada dia, o custo marginal da informação digital aproxima-se de zero.

A web está tornando-se a terra da gratuidade. O resultado disso é que existem duas tendências espalhando este modelo de negócio na economia.

A primeira tendência: a tecnologia está dando às empresas uma flexibilidade maior para estas definirem a amplitude que seus mercados podem ter, dando a elas maior liberdade para liberarem produtos ou serviços para um conjunto de clientes, enquanto vendem a outro conjunto.

A segunda tendência: simplesmente, tudo que toca a rede digital rapidamente sente o efeito da queda de custos. Não há nada de novo nisso, no que se refere à força deflacionária da tecnologia, mas a novidade é a velocidade com a qual as diferentes indústrias estão se tornando negócios digitais e, portanto, aptas a explorá-los.

Quando o Google levou a propaganda a um software (paradoxalmente ou não, Anderson não acredita que a economia do gratuito será toda ela sustentada por propaganda), um serviço clássico que antes era baseado na economia humana (as coisas ficam mais caras a cada ano) passou a ser baseada na economia de softwares (as coisas ficam mais baratas). Isso, segundo Chris, também vale para inúmeros setores da economia, do bancário até o de jogos de azar.

“No momento em que as despesas primárias da empresa tocam o mundo digital, a gratuidade torna-se não somente uma opção, mas um destino inevitável”, afirma.


Fonte: Wired Magazine, in HSM On-line

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