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Sucessão no INDG: Quem vai ficar no lugar dele?

Todos os anos um evento do Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG) reúne mais de 1 000 participantes num hotel de São Paulo. Desses encontros, que duram até três dias, participam não apenas consultores do INDG mas também clientes -- gente como o presidente da Embraco, Ernesto Heinzelmann, e o da Sadia, Gilberto Tomazoni, interessada em contar e ouvir histórias de eficiência na gestão dos negócios. Em fevereiro deste ano, pela primeira vez na história, os clientes foram excluídos das reuniões. Apenas os quase 1 000 consultores e funcionários do INDG foram convidados para o encontro, que ocorreu na cidade de Atibaia, no interior paulista. A ausência mais notada, porém, foi a do engenheiro Vicente Falconi, que na década de 70 fundou a consultoria, ao lado de José Martins de Godoy. À época com problemas de saúde, Falconi deixou para o sócio a tarefa de comunicar oficialmente a todos que, em até no máximo dois anos, a presidência da consultoria, hoje ocupada por Godoy, será passada a um sucessor. E mais: que até 2015 Falconi e Godoy vão transferir o controle do negócio a seus consultores. "Godoy estava visivelmente emocionado e chorou várias vezes", diz um dos presentes.

Falconi e Godoy, ambos às vésperas de completar 68 anos de idade, decidiram seguir o caminho de alguns de seus principais clientes, como o empresário Jorge Gerdau, que transferiu para o filho André o comando de seu grupo siderúrgico em 2006, e planejar meticulosamente a própria sucessão. "Eles fixaram o ano de 2010 como um prazo-limite para sair e a data é irreversível", diz Walter Fontana Filho, presidente do conselho da Sadia e também do INDG. A tarefa de traçar o perfil do novo presidente e buscá-lo (dentro ou fora do INDG) está a cargo da subsidiária brasileira da consultoria alemã Egon Zehnder -- sugestão de Jorge Gerdau e Walter Fontana Filho. Se o novo executivo for encontrado até outubro, Godoy deixará a presidência ainda neste ano. A transição acontece no apogeu da empresa, atualmente a maior consultoria de gestão do Brasil. Hoje o INDG possui 900 consultores, o dobro do que tinha há cinco anos, trabalhando em mais de 300 projetos diferentes. Em 2007, as receitas chegaram a 144 milhões de reais, aumento de pouco mais de 10% em relação ao ano anterior. "Hoje não precisamos mais correr atrás de clientes e só não crescemos mais por falta de gente para trabalhar nos projetos", diz um consultor que prefere não ser identificado.

O maior desafio dessa transição será encontrar um substituto para Falconi. Desde a fundação do INDG, o papel de cada sócio é claramente definido: a Godoy cabe a administração da empresa e a Falconi a função de orientador técnico. Essa posição acabou se transformando numa vitrine para Falconi, que se tornou um guru para alguns dos mais influentes empresários do país -- é ele o melhor garoto-propaganda da consultoria. Sua trajetória como consultor começou nos anos 70, em Belo Horizonte, após uma série de visitas ao Japão para aprender o conceito de qualidade total. Um dos primeiros clientes foi Jorge Gerdau, de quem se tornou amigo. Ao longo dos anos, Falconi foi colecionando outros amigos e clientes de peso. Hoje fazem parte do conselho do INDG os empresários Marcel Telles e Beto Sicupira, além de Gerdau e Fontana Filho. Em 2006, Falconi começou a se afastar da rotina da consultoria. Neste ano, além de participar do conselho da Sadia e da Ambev, aceitou um cargo de conselheiro do Unibanco. Também tem se dedicado a uma jornada de visitas a ministros, governadores e prefeitos com Gerdau para elaborar programas de choque de gestão.

Os primeiros passos para a montagem do plano de sucessão foram dados em 2006. Naquele momento ficou estabelecido que, até 2015, 51% do capital (na época concentrado apenas nos dois fundadores) deveria estar nas mãos dos consultores. O primeiro lote de ações, para um grupo de 30 consultores seniores, foi distribuído em outubro daquele ano. Pelo esquema inicial, até 2020, cerca de 70% das ações do INDG seriam transferidas. No final de 2007, porém, os fundadores decidiram acelerar o processo (segundo consultores e clientes ouvidos por EXAME, Falconi recebeu orientação médica para reduzir seu ritmo de trabalho). Os prazos foram antecipados em cinco anos. Hoje os consultores já possuem 24% das ações da consultoria sem direito a voto. Em dois anos começam a ser distribuídas as ações ordinárias e, até 2015, o controle deverá estar completamente pulverizado entre os consultores. Os lotes serão transferidos com base na evolução da carreira e na avaliação de desempenho de cada um -- quem deixar a empresa tem de vender as ações ao instituto. O sucesso dessa transição será um dos principais testes da carreira do consultor mais badalado do país. "Falconi desenvolveu uma metodologia e discípulos para propagá-la", diz Gina Rafael, diretora da Localiza, empresa de locação de veículos e cliente do INDG. "A consultoria já não depende mais só dele."


Fonte: Por Suzana Naiditch, in portalexame.abril.com.br

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