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Espiritualidade é marca do chefe dos sonhos

Ninguém é perfeito, muito menos o chefe, invariavelmente um dos principais alvos de críticas e insatisfações nas empresas. Mas, como é de praxe, o fato de os subalternos nunca se contentarem com os seus superiores - sejam eles quem forem -, suscita a pergunta: que tipo de profissional seria o ideal para comandar uma equipe de trabalho? A mestre e doutora em Psicologia e Ciências Sociais Ana Fraiman procura responder essa questão no livro O chefe dos meus sonhos, a ser lançado em breve.

Para Ana, além de competência profissional, o chefe ideal deve receber bem os seus funcionários, ser sociável, não pode ter preconceitos, deve ser agregador e, junto a tudo isso, ter alguma espiritualidade. "Ele tem de estar bem consigo, amar profundamente aquilo que faz", afirma a professora. "As pessoas que têm uma certa espiritualidade reconhecem que não estão fazendo tudo sozinhas e, assim, são mais abertas a enxergar a importância dos outros", explica.

Quando refere-se à espiritualidade, Ana frisa não se tratar de nada ligado à religião ou algum tema místico. "Não é uma questão de rezar missa", explica. "Trata-se de uma atitude interior, de a pessoa se sentir servindo. De saber que não estamos aqui sozinhos. Então, esse chefe com essa visão tem uma ação conectiva. É um líder agregador."

Ana tem como lema a premissa de que "de uma boa pessoa se pode extrair um bom profissional, mas o contrário não se sustenta". Para ela, o líder ideal é aquele que se faz admirar por suas virtudes, ao ponto de ser visto como um modelo por seus subalternos. "Esse chefe enxerga o seu brilho interior e faz com que você acredite nisso também."

Para a professora, esse estilo de liderança se contrapõe ao modelo mais comum nas organizações de hoje. "Temos lideranças que são predadoras, que se alimentam dos outros, que se sobrepõem, se prevalecem", afirma Ana.

Prazer em conhecê-lo
Professora do Instituto Nacional de Pós-Graduação (INPG), Ana Fraiman conta que costuma deparar com alunos jovens, com traços de personalidade e caráter essenciais para vencerem na carreira, como determinação, perseverança, educação, vontade de contribuir, gentileza e gosto no trato com as pessoas. Apesar de toda essa conjunção de fatores, segundo ela, os jovens competentes e de caráter sólido não serão felizes em empresas onde não encontrem líderes capazes de fazê-los exercer sua competência e seu talento. "O chefe dos sonhos é aquela pessoa com quem você faz questão de trabalhar, que é ‘muito gente’ e vai te dar chance de crescer", afirma.

Na opinião da professora, o estilo do chefe é o que determina o sucesso ou o insucesso de um jovem talento em sua carreira. "Ele (jovem) quer trabalhar, sair da vida comum. Se ele esbarra no chefe dos sonhos, sua carreira vai ser brilhante", assinala Ana. "Muitos talentos acabam se perdendo pelo caminho quando isso não acontece. O jovem fica marcando passo, anos a fio. Não adianta você querer vencer quando esbarra em pessoas insensíveis, desonestas, ciumentas, mesquinhas, acomodadas, de visão estreita."

Conforme a professora, o bom líder parte do pressuposto de que os conhecimentos, por mais valiosos que sejam, são intercambiáveis, renováveis, e podem cair na obsolescência. Já as pessoas, não. "As sonhadas boas chefias desenvolvem pessoas, não apenas conhecimentos. Desenvolvem o prazer de levá-las a se encantar consigo mesmas, de acreditar em si, de apropriar-se de seu valor enquanto pessoa", comenta Ana. " É isso que é necessário: gente que trate as demais feito gente, independente de estarem ocupando um cargo de chefia ou serem membros de uma equipe."

Ana afirma ainda que pessoas tranqüilas e interessadas sempre agregam valor a uma equipe. "É uma pessoa que batalha por vencer na vida à custa de seu próprio mérito e empenho, alguém que é disciplinado e sabe bem o que quer e, se ainda não sabe, enxerga direitinho o que não quer", explica a professora. "Alguém que definitivamente não aceita falsidade, traição, abusos e desleixo... Muito disso vem do berço, da criação e não do sistema de educação formal."


Fonte: Por Marcelo Monteiro, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 9

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