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Diversidade e interdependência fazem parte do discurso e da prática sustentável

Estamos num tempo de ascensão do conceito de interdependência, em que os agentes sociais precisam estar interligados para poderem efetivamente contemplar múltiplos interesses e pontos-de-vista sobre progresso e futuro. Esta perspectiva resume o enfoque do coordenador do Comitê de Sustentabilidade da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, Ricardo Voltolini, no início da quarta reunião proposta pelo grupo e realizada no Reserva Cultural em São Paulo/SP na manhã do dia 7 de agosto de 2008. Cerca de 50 pessoas debateram o tema, buscando cada vez mais a equalização de terminologias e o desenvolvimento de uma estrutura de planejamento e de trabalho satisfatórios, respeitadas as diferenças de segmento. Como convidados para mostrar suas experiências estiveram o CEO da Anglo American Brasil, Walter De Simoni, e o diretor de Relações com o Mercado do Bradesco, Jean Philippe Leroy.

O diretor-geral da ABERJE, Paulo Nassar, iniciou o evento propondo um resgate do senso humano e solidário das pessoas, como aconteceu na própria teoria da Administração abrindo espaço para entender o homem como ser social e psicológico. Diante das mudanças culturais e de uma alteração de matriz de crescimento, ele aponta ser a hora de olhar sob o viés da subjetividade. E sugere: “não sejam somente executivos, sejam intelectuais”. Nesta conscientização, faz parte a estratégia da entidade de gravar todos os encontros, para consolidar as opiniões e gerar conhecimento preservado num tempo de informação volátil.

Jean Philippe Leroy, diretor de Relações com o Mercado do Bradesco, embasa sua palestra no conceito propagada pela Comissão Brundtland, no sentido de evocar a perenidade como força motriz das ações e o equilíbrio que estrutura o “triple bottom line” (negócios, ambiente e sociedade conectados). Na opinião do executivo, a sustentabilidade tem sido utilizada como mote, sendo que outras organizações estariam de fato comprometidas. Em alguns casos de empresas fortes como o Banco, os passos dados servem como modelo, aumentado a responsabilidade pelos resultados e pela postura de compartilhamento. De toda maneira, é uma atitude que precisa ser avalizada da direção para a equipe, como seu exemplo em que nove diretores são integrantes do Comitê interno na área, aí incluindo quatro vice-presidentes.

Sustentabilidade seria um quebra-cabeças cujos conteúdos vão sendo articulados de maneira integrada. Até mesmo o investidor, antes centrado em ganhos financeiros, hoje cobra a retroalimentação da cadeia, de retorno para a sociedade diante dos anúncios de lucratividade. Emitir extratos em braile ou com letras e números ampliados para pessoas com dificuldade de visão é uma parte do processo, que foi iniciado há 50 anos pela Fundação Bradesco ­ órgão que hoje investe cerca de R$ 260 milhões por ano em projetos. As linhas de crédito baseadas em finanças sustentáveis é outro caminho, em que modernização fabril repercute direto na preservação do ambiente. “Em resumo, gestão sustentável é a preocupação com o entorno”, posiciona-se.

Para quem tem mais de 80 mil funcionários, constatar que o público interno é importante deve ser fácil. Afinal, trata-se de um segmento muito mais crítico em relação a políticas, publicidade e atitudes, porque questionam muito e não são facilmente envolvidos. A única maneira de conquistar engajamento seria transmitindo muita informação. Um programa de voluntariado foi implantado em 2007, e somente numa ação de recolhimento de leite entre agências da capital paulista foram três toneladas arrecadadas.

DESAFIO ­ Presidir a unidade brasileira de um dos maiores grupos de mineração do mundo, presente em 45 países e com mais de 90 mil funcionários (sendo 4.200 deles no Brasil, onde atua desde 1973), e ainda atestar a preocupação sustentável com o negócio é o grande desafio de Walter De Simoni, CEO da Anglo American no país. E ele não se furtou a enfrentar as perguntas da platéia, diante da polêmica de ser inconciliável aliar um perfil extrativista com as necessidades de preservação do ambiente e com a finitude dos recursos naturais.

O trabalho na Anglo é amplo, e atinge a atração e retenção de talentos, com a proposição de gerenciamento de carreiras, desenvolvimento de enfoque gerencial e liderança situacional, dentro de um esquema de aumento da participação da mulher em cargos de chefia - como se vê na atual CEO mundial Cynthia Carroll, além do cumprimento da cota para deficientes físicos, para o que estão trabalhando a acessibilidade em todas as plantas e fazendo treinamentos.

A parte das comunidades, contudo, é o foco principal, desenvolvendo fornecedores locais (que já chegam a 18%), capacitando moradores do entorno e adaptando a infra-estrutura geral, especialmente água e transporte, quando decide instalar-se numa localidade, com quem mantém uma série de fóruns comunitários de intercâmbio. Isto tudo é complementado por uma Política de Investimento Social Privado com manual de normatização e orientação de interessados via workshops para aprender a formatar projetos candidatos a patrocínio. A atitude também passa por parcerias com ONGs respeitadas como a Care (criação de bancos comunitários e empreendedorismo), a Fauna e Flora International (administração da biodiversidade nas unidades Anglo) e o Instituto Brasil Leitor (criação de bibliotecas comunitárias). De Simoni explica que tudo é monitorado por uma ferramenta própria para avaliação de impactos, o SEAT ­ Socio-Economic Assessment ToolBox, tornando as ações sociais mais efetivas e com isto aprimorando o processo de envolvimento entre os agentes. O SEAT foi considerado o melhor sistema de avaliação pela One World Trust, e desde 2007 é disponibilizado para qualquer empresa.

Compareceram associados e convidados especiais, entre eles representantes de empresas como Abbott Laboratórios, Mercedes-Benz do Brasil, Cadbury, Itaú, Camargo Corrêa, Nielsen, Cosipa, CSN, Bridgestone, Votorantim e Pfizer. Os encontros do Comitê são bimestrais, sempre contando com um executivo responsável pela área e um presidente de organização com estrutura modelar. O acesso é gratuito com inscrição prévia pelo email emily@aberje.com.br .

REPERCUSSÃO -­ A analista de Comunicação da Iveco Latin America, Junea Sá Fortes, responsável pela área de Relações Públicas, Responsabilidade Social e Imprensa, esteve em todas as reuniões realizadas pelo Comitê. Sua satisfação com as trocas estabelecidas é tão grande que ela não hesita em reconhecer que o aproveitamento de conteúdo e de inspiração é muito maior neste formato do que em eventos que ela tem participado em outros locais. “O benchmarking é fundamental em comunicação, e experiências com qualidade são encontradas aqui”, relata. Respondendo pela área de Assuntos Corporativos da Kimberly-Clark, o RP Jefferson Correia, é outro entusiasta dos encontros. Como sua empresa, que criou a área de Responsabilidade Social em 2003 e hoje já atualizou conceitos e práticas para Sustentabilidade, tem entre seus produtos o papel higiênico, a preocupação com preservação ambiental é evidente, afora o setor de fraldas, seja pelos resíduos de produção ou pelo pós-consumo. “É possível perceber se estamos alinhados com as empresas, com suas certificações e práticas, e tê-los como um bom parâmetro”, aponta.

O presidente da Significa, Yacoff Sarkovas, já participou também de outras reuniões do Comitê. Em sua visão, é uma iniciativa oportuna e necessária colocar a sustentabilidade em linha com a comunicação empresarial. O tema, por sua dimensão mundial consolidada, afeta profundamente os modelos de negócio e interfere na forma da comunicação com os públicos de interesse, também porque embute a perspectiva da ética. Sarkovas faz uma ressalva: “há um grande desequilíbrio de alinhamento de práticas e discursos, porque há empresas mergulhadas em práticas sem preocupação em gerar comunicação, e outras atrasadas em práticas e discursando mais do que realizando”. A executiva Inês Bozzini, coordenadora do programa Mulheres em Ação da BOVESPA, acredita que sua busca cotidiana pela inserção da mulher no mercado de ações, entendido muito além do retorno meramente financeiro, está integrada às aspirações do Comitê da ABERJE, porque significa dar fala a alguns segmentos sociais discriminados. Ela, que está na fase final de pós-graduação em Sustentabilidade pela Fecap e integra equipe de um órgão notabilizado pela criação de um Índice no setor, destaca que “a sociedade avalia e cobra políticas assim como fator de performance”.


Fonte: Por Rodrigo Cogo ­- Gerenciador do portal Mundo das Relações Públicas

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