Pular para o conteúdo principal

Comunicação e sustentabilidade: picados pela mosca verde

Existem palavras que podemos lembrar como capazes de expressar o significado de ‘meio ambiente’? Sim, com certeza, várias delas: vida, consciência, espiritualidade, flora, fauna, diversidade, sabedoria, beleza... Mas como podemos praticar essas palavras em nosso cotidiano a favor do meio ambiente? Novamente, existem diversas formas e maneiras de expressá-las, mas todas passam pela comunicação. Esse ato, representado quando vemos, ouvimos, tocamos, sentimos e agimos, tem nos acompanhado desde o começo da aventura humana na Terra. E irá nos acompanhar até o fim de nosso ciclo. Comunicar é ação. É ‘comunicação’. Por meio dela, podemos mudar o mundo, e até mesmo salvá-lo. Por exemplo: o que podemos fazer para ampliar a conscientização sobre a importância da sustentabilidade para a continuação da vida na Terra? Muita coisa! Mas todas elas precisam de comunicação! E essa comunicação em benefício da sustentabilidade pode ser feita de maneira muito simples, por meio de ações diárias, corriqueiras. Vamos a algumas delas.


Quando presenciamos, por exemplo, o funcionário de um edifício ou condomínio lavando a calçada, podemos acreditar, num primeiro momento, que ele não reúne informações capazes de fazê-lo crer que o ato é um desperdício. Mas, diante de tanta informação a que temos acesso, como uma pessoa pode desperdiçar água desse jeito? Será que ela não sabe que o planeta Terra dispõe somente de 2,4% de água fresca? E que a água disponível para consumo representa apenas 0,02% de toda a quantidade desse elemento no planeta? Mas onde estão essas informações? Certamente, a comunicação não foi feita pelo síndico, pelos moradores, por ninguém. Mas será que eles sabem? Afinal de contas, por onde circulam essas informações sobre a água? A despeito de ser pequenino, esse percentual representa toda a água doce existente no mundo sob a forma de rios, lagos e cachoeiras. E mesmo que a água doce não acabe, a discussão que aqui se impõe é sobre seu desperdício por parte do sapiens.

Mas será que podemos afirmar que recebemos tantas informações sobre meio ambiente assim? Por nos interessarmos pelo assunto, buscamos estar a par do que acontece com relação a ele. Porém, e quem não se interessa? E quem ainda crê que ‘meio ambiente’ significa apenas fauna e flora? E quem pensa que os únicos que estão em contato com o meio ambiente são os indígenas e os povos das florestas? Será que precisamos nos comunicar mais e melhor para viabilizar o acesso à informação ambiental? Podemos ser mais úteis e esclarecedores? Sim, claro!

É incrível, mas quando nos informamos sobre um assunto, nos tornamos críticos. Uma pesquisa do Instituto Akatu, por exemplo, identificou que cresce o número de consumidores conscientes. Ou seja, são aqueles que selecionam os produtos que vão consumir, analisando enfoques que vão além do custo e da qualidade, como embalagem, política social e ambiental da indústria fabricante etc.

Por exemplo, quando estamos num supermercado em frente à prateleira com as mais variadas marcas de sabão em pó, pensamos: “E agora? Qual a marca que vou levar?”. Num primeiro momento, somos motivados a escolher a que tem melhor preço, a mais conhecida, a que garante maior poder de lavagem das roupas etc. Mas podemos fazer melhor a escolha se identificarmos que tipo de comunicação as indústrias de produtos de limpeza fazem para demonstrar suas ações em prol da sustentabilidade do planeta. Se começarmos a olhar (e não apenas ‘ver’) algumas marcas e ler suas embalagens, podemos fazer uma escolha mais consciente de nossas opiniões e atitudes.

Existe no mercado uma marca de sabão em pó que vem com a seguinte mensagem na embalagem: “Plantando árvores para você”. Num primeiro momento, essa forma de comunicação chama a atenção de quem já foi, digamos, ‘picado pela mosca verde’ da consciência ambiental. Ao lermos as demais informações disponíveis para o consumidor, podemos tomar conhecimento de que o sabão é apresentado como fruto de componentes biodegradáveis e sua embalagem é reciclável. Mais: a indústria fabricante do produto disponibilizou o endereço de um site: www.florestasype.com.br. São quatro informações com reflexos na sustentabilidade do planeta comunicadas ao consumidor num mesmo produto. Nada mal. Mas não basta: é preciso ir além. O que comunica esse site?

Ao acessá-lo, percebe-se que a indústria fabricante do sabão em pó é parceira de um projeto de reflorestamento de árvores nativas da Mata Atlântica, em parceria com uma ONG que atua nesse bioma. O projeto envolve moradores da região onde está estabelecido e usa técnicas de educação ambiental.

Ao tomarmos conhecimento da atuação da indústria e de suas ações em benefício da preservação e conservação dos recursos naturais – ainda mais de um bioma ameaçado de extinção –, podemos perceber que a fábrica valorizou técnicas de comunicação para sensibilizar o consumidor a respeito do valor de seu produto com relação à sustentabilidade.

E os meios de comunicação? Eles têm seu valor nessa questão? Sim! Quais são suas responsabilidades como empresas que lidam com informação e formação de opinião na sociedade? Certamente são muitas, pois informação pode levar a decisões. No entanto, é preciso estar atento! Recentemente, numa matéria publicada em grande veículo de informação, um editor afirmava que não pautava meio ambiente simplesmente porque as pessoas não tinham interesse pelo tema.

Afinal, não é porque as pessoas não se interessam pelo assunto que deixa de ser de interesse público. Nem todo mundo lê, ou assiste ou se interessa por notícias de economia, política, cultura e esporte. E os temas estão sempre nos jornais, nas revistas, nos canais de tevê, nos sites e nas estações de rádio. E já que meio ambiente também é economia, política, cultura e esporte, pode muito bem ser inserido nessas notícias.

Utilizar a comunicação para valorizar ações de sustentabilidade não é algo restrito apenas a indústrias, empresas e instituições públicas. Todos nós podemos fazer algo. Essa comunicação para colaborar com a sustentabilidade pode ser transmitida de várias formas. Uma delas é o que chamamos de ‘exemplo presencial’.

Você pode fazer a seguinte experiência: vá a um supermercado e leve sacolas de sua casa que podem ser reutilizáveis. Ao chegar sua vez de passar as compras no caixa, diga à atendente que você utilizará as bolsas que trouxe de casa. É muito provável que você perceba um misto de espanto e surpresa por parte da caixa, da embaladora e também de algumas pessoas que aguardam na fila a vez de pagar as compras. Algumas delas, é quase certo, podem vencer a timidez e lhe perguntar: “Onde você comprou essas sacolas?”. E se você explicar que as suas sacolas não foram apenas compradas, mas adquiridas de várias formas (brinde da empresa onde trabalha, de eventos nos quais participou, de promoções em restaurantes e lojas etc.), poderá sentir em seu colega consumidor um sentimento de incredulidade com a facilidade da ação e de que ele também pode colaborar. E se ele fizer dessa ação um hábito, logo, logo receberá a mesma identificação que você por parte dos funcionários do supermercado: “Olha lá o moço das sacolas reutilizáveis na fila!”.

Os meios de comunicação devem ser canais para que essa consciência se faça e aumente, por exemplo, nos clientes de supermercados. O fato de informarem, de terem credibilidade junto ao público, de terem longo alcance, isso tudo aumenta a responsabilidade que têm. A consciência também deve fazer parte de comunicadores, jornalistas, publicitários, radialistas etc. É muito fácil e simples mudar hábitos: em vez de levar para casa várias sacolas de plástico oferecidas pelas redes de supermercados, que tal você levar as suas de casa? Afinal, o material plástico leva décadas para se decompor, polui rios, lagos e praias, asfixia animais marinhos (como tartarugas, que o engole confundindo-o com águas vivas) e entope bueiros, contribuindo para a ocorrência de enchentes e alagamentos na via urbana.

O desenvolvimento da comunicação contribuiu para a raça humana alcançar o atual estágio evolucionário. Oxalá, possamos ampliar nossos canais e sentidos a favor da sustentabilidade na Terra e continuar a honrar o planeta que nos oferece o que há de mais sagrado no universo: a vida.


Fonte: Por Antonio Carlos Teixeira e Daniela Meireles - do Instituto TerraGaia Comunicação e Educação Ambiental, in www.nosdacomunicacao.com

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Conselho Federal de Marketing?

A falta de regulamentação da profissão de marketing está gerando um verdadeiro furdunço na Bahia. O consultor de marketing André Saback diz estar sendo perseguido por membros do Conselho Regional de Administração da Bahia (CRA/BA) por liderar uma associação – com nome de Conselho Federal de Marketing e que ainda não está registrada – cujo objetivo, segundo ele, é regulamentar a profissão. O CRA responde dizendo que Saback está praticando estelionato e que as medidas tomadas visam a defender os profissionais de administração. Enquanto André Saback, formado em marketing pela FIB - Centro Universitário da Bahia -, diz militar pela regulamentação da profissão, o Presidente do CRA/BA, Roberto Ibrahim Uehbe, afirma que o profissional criou uma associação clandestina, está emitindo carteirinhas, cobrando taxas e que foi cobrado pelo Conselho Federal de Administração por medidas que passam até por processar Saback, que diz ter recebido dois telefonemas anônimos na última semana em tom de ameaç