CEO é uma sigla que tanto pode significar "sucesso" quanto "armadilha". O lado mais visível do cargo é aquele respeito - às vezes, o "r" vira "d" - que os interessados em habitar a cobertura do organograma demonstram para com o inquilino do momento.
Chega a ser emocionante observar os esforços dos colaboradores mais próximos para blindar o CEO, fazendo o possível para que não seja incomodado, perturbado, enervado ou, não raramente, até mesmo encontrado. Por outro lado, o CEO é um prisioneiro da própria agenda, e posso afirmar por experiência própria que um CEO preferiria não participar de pelo menos 50% dos compromissos que exigem sua presença. Reuniões, almoços, jantares, eventos, entrevistas. Um CEO me contou que se sente meio constrangido por não se lembrar de pessoas com as quais compartilhou um jantar na noite anterior. A repetição faz com que essas cerimônias profissionais comecem a se parecer com viagens aéreas: a comida é sempre a mesma, e os passageiros são exatamente isso, passageiros.
Lembro-me bem do dia em que fui promovido a CEO. Cumprimento daqui, abraço dali, votos de sucesso cá e acolá. Eu já sabia, por informações de outros CEOs, que minha vida iria mudar. E a maioria me deu, com pequenas variações na forma, o mesmo conselho: aproveite, mas não se acostume. Por isso, quando fui solicitado a dizer alguma coisa, eu disse: "Ser CEO é como fazer uma viagem ao Egito para ver as pirâmides. Vale a pena, mas uma vez só na vida. E bem rapidinho". Quase ninguém entendeu. Mas todos riram, porque agora eu era o CEO.
Durante minha estadia no cargo, me coloquei dois objetivos: fazer mais do que a corporação esperava que eu fizesse e planejar o que fazer quando deixasse de ser CEO. Não que não gostasse de ser CEO, muito pelo contrário. Curti bastante. Mas curti muito mais quando deixei de ser e passei a dedicar meu tempo a mim mesmo e à minha família. Escolhi ser escritor, um sonho acalentado desde a infância, mas cada CEO sempre tem seu projeto pessoal intimamente reservado para "um dia".
A armadilha da função está em adiar indefinidamente esse "um dia", até descobrir que o tempo deixou de ser um aliado e começou a ser um fardo. Por isso, uma notícia aparentemente ruim pode ser a chave para o futuro. Um CEO dura cada vez menos no cargo. O CEO vitalício do século 20 já deu lugar ao CEO "de passagem" do século 21. Quando um CEO é despedido pela primeira vez, a reação natural é aceitar o primeiro convite para ser novamente CEO e provar, a si mesmo e ao mundo, que a dispensa foi injusta. Na segunda vez em que isso ocorre, já é teimosia. A partir da terceira, vira desperdício de tempo e talento. Tem CEO que adora ser CEO e quer ser CEO até o dia de encontrar o Criador? Tem. E são bem grandinhos para decidir o que é melhor para suas vidas. Essas linhas não pretendem ser uma recomendação. São, apenas, uma singela confissão de quem viu a pirâmide lá do alto.
Fonte: Por Max Gehringer, in epocanegocios.globo.com
Chega a ser emocionante observar os esforços dos colaboradores mais próximos para blindar o CEO, fazendo o possível para que não seja incomodado, perturbado, enervado ou, não raramente, até mesmo encontrado. Por outro lado, o CEO é um prisioneiro da própria agenda, e posso afirmar por experiência própria que um CEO preferiria não participar de pelo menos 50% dos compromissos que exigem sua presença. Reuniões, almoços, jantares, eventos, entrevistas. Um CEO me contou que se sente meio constrangido por não se lembrar de pessoas com as quais compartilhou um jantar na noite anterior. A repetição faz com que essas cerimônias profissionais comecem a se parecer com viagens aéreas: a comida é sempre a mesma, e os passageiros são exatamente isso, passageiros.
Lembro-me bem do dia em que fui promovido a CEO. Cumprimento daqui, abraço dali, votos de sucesso cá e acolá. Eu já sabia, por informações de outros CEOs, que minha vida iria mudar. E a maioria me deu, com pequenas variações na forma, o mesmo conselho: aproveite, mas não se acostume. Por isso, quando fui solicitado a dizer alguma coisa, eu disse: "Ser CEO é como fazer uma viagem ao Egito para ver as pirâmides. Vale a pena, mas uma vez só na vida. E bem rapidinho". Quase ninguém entendeu. Mas todos riram, porque agora eu era o CEO.
Durante minha estadia no cargo, me coloquei dois objetivos: fazer mais do que a corporação esperava que eu fizesse e planejar o que fazer quando deixasse de ser CEO. Não que não gostasse de ser CEO, muito pelo contrário. Curti bastante. Mas curti muito mais quando deixei de ser e passei a dedicar meu tempo a mim mesmo e à minha família. Escolhi ser escritor, um sonho acalentado desde a infância, mas cada CEO sempre tem seu projeto pessoal intimamente reservado para "um dia".
A armadilha da função está em adiar indefinidamente esse "um dia", até descobrir que o tempo deixou de ser um aliado e começou a ser um fardo. Por isso, uma notícia aparentemente ruim pode ser a chave para o futuro. Um CEO dura cada vez menos no cargo. O CEO vitalício do século 20 já deu lugar ao CEO "de passagem" do século 21. Quando um CEO é despedido pela primeira vez, a reação natural é aceitar o primeiro convite para ser novamente CEO e provar, a si mesmo e ao mundo, que a dispensa foi injusta. Na segunda vez em que isso ocorre, já é teimosia. A partir da terceira, vira desperdício de tempo e talento. Tem CEO que adora ser CEO e quer ser CEO até o dia de encontrar o Criador? Tem. E são bem grandinhos para decidir o que é melhor para suas vidas. Essas linhas não pretendem ser uma recomendação. São, apenas, uma singela confissão de quem viu a pirâmide lá do alto.
Fonte: Por Max Gehringer, in epocanegocios.globo.com
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