Os vários papéis que temos –social, familiar, profissional– são definidos como espaços psicológicos que possibilitam o exercício da vida emocional. Como são sempre vividos pela mesma pessoa, não podem ser entendidos de forma distinta, porque tudo que se faz numa esfera acaba interferindo nas outras.
Dentre todos os papéis conhecidos, o profissional assume uma importância significativa para todos nós, muitas vezes em detrimento do papel familiar, por exemplo. O trabalho, muitas vezes, se confunde com a nossa própria identidade. Nesse caso, procuraremos preservá-la a todo custo.
Muitos questionamentos podem surgir dessa reflexão. Um, em particular, busca respostas para a seguinte questão: como o papel profissional é exercido numa organização? Poderíamos falar de vida emocional nas empresas?
Antes de tudo, gostaria de citar um trecho de uma entrevista que o coach chileno Julio Olalla Mayor, mentor do Coaching Ontológico, concedeu à Revista HSM Management, em sua edição de junho de 2001. Perguntado sobre o que é coaching, ele respondeu: “Coaching tem a ver com criar, na empresa, um espaço no qual se declare especificamente que, para obter êxito no que fazem, as pessoas precisam do apoio de outras. É o reconhecimento público de uma insuficiência, que não é ruim em si: preciso conversar em um âmbito declarado de aprendizado no qual eu sinta apoio, não só no sentido operacional, mas em minha emotividade e também em minha corporalidade, porque enfrento situações que estão me superando.”
Ele continua: “Existe [uma] necessidade de aprendizado que tem a ver com dimensões muito mais profundas do ser humano, que hoje aparecem com muita força, porque vivemos em um mundo que muda permanentemente e no qual é difícil se encontrar, inclusive consigo mesmo”.
Como vemos, parece que o resgate da vida emocional, no verdadeiro exercício do papel profissional, deve ser levado em consideração, quando se trata de adaptar as pessoas às mudanças. Contudo, o que se observa é que o foco ainda insiste em se manter na valorização das competências técnicas, apesar de as competências humanas serem amplamente divulgadas como imprescindíveis para o sucesso das pessoas e das próprias empresas.
Nesse sentido, alguns poderiam argumentar, como já ouvi por diversas vezes, que a empresa não é o melhor lugar para se vivenciar emoções, pois o mundo corporativo necessita de decisões e as decisões, como se sabe, pertencem ao plano da racionalidade. Outros poderiam afirmar que não é bem assim, mas não entendem como poderiam viver a sua emotividade na empresa, pois da última vez que tentaram fazê-lo acabaram demitidos.
Imagine o que aconteceria com um executivo que, diante da impossibilidade de resolver um problema qualquer, tivesse que assumir, junto aos seus superiores imediatos, o fato de que não tem a competência solicitada para realizar aquela tarefa. Assumir as próprias emoções é um pouco poder admitir duas verdades: “às vezes, preciso de ajuda” e “não sou o dono da verdade”. Isso, sabemos, nem sempre é feito de maneira assertiva.
Como poderemos, então, buscar a criatividade, o bom relacionamento interpessoal, a inteligência emocional, a liderança servidora, a comunicação, a assertividade, a resiliência e tantas outras competências humanas necessárias para que a organização caminhe, sem que se permita o pleno exercício da vida emocional na empresa?
A maioria dos programas voltados para o desenvolvimento de lideranças, encontrados atualmente no mercado, busca ensinar essas competências. Contudo, fica a dúvida sobre a sua real eficácia. Ao retornar para a empresa, desconfio que essas lideranças não devam encontrar um ambiente propício para aplicá-las. Voltando um pouco mais ao que disse Julio Olalla, talvez os líderes não estejam conseguindo, de forma assertiva, manifestar suas principais necessidades e, sem esse reconhecimento explícito, fica difícil iniciar qualquer diálogo importante.
Para o desenvolvimento das competências técnicas, creio que já existam boas escolas, mas ainda é preciso compreender que a diferença, de fato, está nas pessoas, como bem disse Peter Drucker: “São as pessoas que realizam o trabalho. Não é o dinheiro, não é a tecnologia. Portanto, a principal tarefa do executivo é tornar as pessoas produtivas”.
Para que isso ocorra, penso que as empresas deveriam buscar alternativas que permitam que as pessoas possam exercer o seu papel profissional sempre baseado na utilização das competências humanas citadas acima. Do contrário, passaremos um pouco mais de tempo vivendo a ilusão de que as pessoas, como muitas empresas gostam de afirmar, são os seus maiores ativos.
Fonte: Por Gilberto de Moraes - psicólogo, professor universitário, coach, consultor da Support Assessoria Empresarial, in HSM Online
Dentre todos os papéis conhecidos, o profissional assume uma importância significativa para todos nós, muitas vezes em detrimento do papel familiar, por exemplo. O trabalho, muitas vezes, se confunde com a nossa própria identidade. Nesse caso, procuraremos preservá-la a todo custo.
Muitos questionamentos podem surgir dessa reflexão. Um, em particular, busca respostas para a seguinte questão: como o papel profissional é exercido numa organização? Poderíamos falar de vida emocional nas empresas?
Antes de tudo, gostaria de citar um trecho de uma entrevista que o coach chileno Julio Olalla Mayor, mentor do Coaching Ontológico, concedeu à Revista HSM Management, em sua edição de junho de 2001. Perguntado sobre o que é coaching, ele respondeu: “Coaching tem a ver com criar, na empresa, um espaço no qual se declare especificamente que, para obter êxito no que fazem, as pessoas precisam do apoio de outras. É o reconhecimento público de uma insuficiência, que não é ruim em si: preciso conversar em um âmbito declarado de aprendizado no qual eu sinta apoio, não só no sentido operacional, mas em minha emotividade e também em minha corporalidade, porque enfrento situações que estão me superando.”
Ele continua: “Existe [uma] necessidade de aprendizado que tem a ver com dimensões muito mais profundas do ser humano, que hoje aparecem com muita força, porque vivemos em um mundo que muda permanentemente e no qual é difícil se encontrar, inclusive consigo mesmo”.
Como vemos, parece que o resgate da vida emocional, no verdadeiro exercício do papel profissional, deve ser levado em consideração, quando se trata de adaptar as pessoas às mudanças. Contudo, o que se observa é que o foco ainda insiste em se manter na valorização das competências técnicas, apesar de as competências humanas serem amplamente divulgadas como imprescindíveis para o sucesso das pessoas e das próprias empresas.
Nesse sentido, alguns poderiam argumentar, como já ouvi por diversas vezes, que a empresa não é o melhor lugar para se vivenciar emoções, pois o mundo corporativo necessita de decisões e as decisões, como se sabe, pertencem ao plano da racionalidade. Outros poderiam afirmar que não é bem assim, mas não entendem como poderiam viver a sua emotividade na empresa, pois da última vez que tentaram fazê-lo acabaram demitidos.
Imagine o que aconteceria com um executivo que, diante da impossibilidade de resolver um problema qualquer, tivesse que assumir, junto aos seus superiores imediatos, o fato de que não tem a competência solicitada para realizar aquela tarefa. Assumir as próprias emoções é um pouco poder admitir duas verdades: “às vezes, preciso de ajuda” e “não sou o dono da verdade”. Isso, sabemos, nem sempre é feito de maneira assertiva.
Como poderemos, então, buscar a criatividade, o bom relacionamento interpessoal, a inteligência emocional, a liderança servidora, a comunicação, a assertividade, a resiliência e tantas outras competências humanas necessárias para que a organização caminhe, sem que se permita o pleno exercício da vida emocional na empresa?
A maioria dos programas voltados para o desenvolvimento de lideranças, encontrados atualmente no mercado, busca ensinar essas competências. Contudo, fica a dúvida sobre a sua real eficácia. Ao retornar para a empresa, desconfio que essas lideranças não devam encontrar um ambiente propício para aplicá-las. Voltando um pouco mais ao que disse Julio Olalla, talvez os líderes não estejam conseguindo, de forma assertiva, manifestar suas principais necessidades e, sem esse reconhecimento explícito, fica difícil iniciar qualquer diálogo importante.
Para o desenvolvimento das competências técnicas, creio que já existam boas escolas, mas ainda é preciso compreender que a diferença, de fato, está nas pessoas, como bem disse Peter Drucker: “São as pessoas que realizam o trabalho. Não é o dinheiro, não é a tecnologia. Portanto, a principal tarefa do executivo é tornar as pessoas produtivas”.
Para que isso ocorra, penso que as empresas deveriam buscar alternativas que permitam que as pessoas possam exercer o seu papel profissional sempre baseado na utilização das competências humanas citadas acima. Do contrário, passaremos um pouco mais de tempo vivendo a ilusão de que as pessoas, como muitas empresas gostam de afirmar, são os seus maiores ativos.
Fonte: Por Gilberto de Moraes - psicólogo, professor universitário, coach, consultor da Support Assessoria Empresarial, in HSM Online
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