Dois dias depois de perder o título da Superliga de Vôlei, no sábado passado, Paula Pequeno - eleita a melhor jogadora de vôlei feminino das Olimpíadas de Pequim - amanheceu sem emprego. Ela não foi a única. Carol Albuquerque, Sassá e Thaísa - também campeãs pela seleção brasileira nos Jogos de Pequim - e todo o time da Finasa/Osasco sofreram com o mesmo problema. Motivo: o clube que defendiam foi extinto.
O projeto tinha 20 anos e, em oito participações na competição, o time conquistou três títulos e cinco vice-campeonatos. Para especialistas, o fim do patrocínio da financeira do Bradesco demonstra a necessidade de se repensar o modelo de negócio dos times. Um dos fatores que desestimulam os patrocinadores é que algumas emissoras de TV se recusam a falar o nome completo das equipes - quando embutem a nomenclatura do patrocinador - durante as transmissões esportivas. Com menos visibilidade, as companhias podem optar por não renovar os acordos.
"Essa história se repete e deve servir de alerta", diz José Carlos Brunoro, presidente da Brunoro Marketing Esportivo. Para analisar o caso, ele relembra times que marcaram época, como a Pirelli e Atlântica/Boa Vista, protagonistas do vôlei nos anos 1980. Segundo ele, o modelo atual de patrocínio nasceu com essas duas equipes. Durante um bom tempo, as TVs citavam os patrocinadores, algo escasso nos dias de hoje. "Os patrocinadores da transmissão começaram a reclamar que as empresas apoiadoras dos times tinham mais destaque. Mas esquecem que, se não houvesse time, não haveria transmissão". Renato Chvindelman, sócio-diretor da Arena Marketing Esportivo, lembra que, com o modelo atual, talvez seja mais interessante apenas comprar a cota da transmissão.
Para Rafael Plastina, diretor de marketing da Informídia Pesquisas Esportivas, o modelo ideal passa por um contrato que defina o que, quanto e por quanto tempo será o patrocínio. "Lá fora começa assim, existe uma previsão", afirma. E acrescenta que, no atual sistema, na hora do "file mignon" (exposição na TV), só se ouve o nome da cidade, e não de quem banca o time. Ele acredita que existam brechas para outras negociações. Brunoro acrescenta que as confederações precisam encontrar um modelo, e cita o patrocínio do Açúcar União, em São Caetano do Sul, que durou três anos. "Ele era pontual e a modalidade não deixaria de existir porque tem o investimento da Prefeitura".
Os analistas são unânimes em afirmar que o reflexo do fim do patrocínio é pequeno sobre a marca Finasa, mas muito maior para o esporte. "O que pode gerar má interpretação para a marca é o momento do anúncio. No caso do Finasa, feito logo após a derrota", afirma Plastina. Já Brunoro acredita que o grupo Bradesco sofreria um revés de imagem se fosse um "oportunista que não atuasse na área de esportes".
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Finasa informou que o fim do patrocínio ao time adulto - os projetos sociais e a categoria de base continuarão a receber apoio - foi uma decisão da diretoria do banco. Informou também que metade do investimento no projeto - eram no total R$ 12 milhões - era viabilizada por meio de incentivos fiscais. "Ainda não sabemos o valor que será aplicado na categoria de base e nos núcleos de formação", diz Benedito Crispe, ex-supervisor do Finasa/Osasco.
Outro time em situação semelhante à do clube paulista é o Brasil Telecom/Brusque. A equipe foi dispensada no dia 16, depois da disputa pela 3ª colocação na Superliga. O supervisor da equipe, Marcelo Garim, diz que, desde a fusão da Oi/Brasil Telecom, não há posicionamento sobre a continuidade ou não do patrocínio. Procurada, a empresa limitou-se a confirmar o fim do patrocínio.
Harry Bollmann, supervisor da equipe Rexona-Ades, diz que a Unilever garantiu o patrocínio até o fim do ciclo olímpico (2012/13) e que, ano a ano, o valor do acordo é negociado.
Em nota, o presidente da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), Ary Graça, lamentou a extinção dos times do Finasa/Osasco e da Brasil Telecom, "mas não vê motivos para qualquer tipo de pânico em relação à sobrevivência da competição, ao desemprego das atletas e de um possível efeito dominó que possa vir a oferecer um risco ao vôlei brasileiro". Ele diz que novos patrocinadores estão em negociações para participar da próxima edição do torneio.
Fonte: Por Neila Baldi, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 8
O projeto tinha 20 anos e, em oito participações na competição, o time conquistou três títulos e cinco vice-campeonatos. Para especialistas, o fim do patrocínio da financeira do Bradesco demonstra a necessidade de se repensar o modelo de negócio dos times. Um dos fatores que desestimulam os patrocinadores é que algumas emissoras de TV se recusam a falar o nome completo das equipes - quando embutem a nomenclatura do patrocinador - durante as transmissões esportivas. Com menos visibilidade, as companhias podem optar por não renovar os acordos.
"Essa história se repete e deve servir de alerta", diz José Carlos Brunoro, presidente da Brunoro Marketing Esportivo. Para analisar o caso, ele relembra times que marcaram época, como a Pirelli e Atlântica/Boa Vista, protagonistas do vôlei nos anos 1980. Segundo ele, o modelo atual de patrocínio nasceu com essas duas equipes. Durante um bom tempo, as TVs citavam os patrocinadores, algo escasso nos dias de hoje. "Os patrocinadores da transmissão começaram a reclamar que as empresas apoiadoras dos times tinham mais destaque. Mas esquecem que, se não houvesse time, não haveria transmissão". Renato Chvindelman, sócio-diretor da Arena Marketing Esportivo, lembra que, com o modelo atual, talvez seja mais interessante apenas comprar a cota da transmissão.
Para Rafael Plastina, diretor de marketing da Informídia Pesquisas Esportivas, o modelo ideal passa por um contrato que defina o que, quanto e por quanto tempo será o patrocínio. "Lá fora começa assim, existe uma previsão", afirma. E acrescenta que, no atual sistema, na hora do "file mignon" (exposição na TV), só se ouve o nome da cidade, e não de quem banca o time. Ele acredita que existam brechas para outras negociações. Brunoro acrescenta que as confederações precisam encontrar um modelo, e cita o patrocínio do Açúcar União, em São Caetano do Sul, que durou três anos. "Ele era pontual e a modalidade não deixaria de existir porque tem o investimento da Prefeitura".
Os analistas são unânimes em afirmar que o reflexo do fim do patrocínio é pequeno sobre a marca Finasa, mas muito maior para o esporte. "O que pode gerar má interpretação para a marca é o momento do anúncio. No caso do Finasa, feito logo após a derrota", afirma Plastina. Já Brunoro acredita que o grupo Bradesco sofreria um revés de imagem se fosse um "oportunista que não atuasse na área de esportes".
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Finasa informou que o fim do patrocínio ao time adulto - os projetos sociais e a categoria de base continuarão a receber apoio - foi uma decisão da diretoria do banco. Informou também que metade do investimento no projeto - eram no total R$ 12 milhões - era viabilizada por meio de incentivos fiscais. "Ainda não sabemos o valor que será aplicado na categoria de base e nos núcleos de formação", diz Benedito Crispe, ex-supervisor do Finasa/Osasco.
Outro time em situação semelhante à do clube paulista é o Brasil Telecom/Brusque. A equipe foi dispensada no dia 16, depois da disputa pela 3ª colocação na Superliga. O supervisor da equipe, Marcelo Garim, diz que, desde a fusão da Oi/Brasil Telecom, não há posicionamento sobre a continuidade ou não do patrocínio. Procurada, a empresa limitou-se a confirmar o fim do patrocínio.
Harry Bollmann, supervisor da equipe Rexona-Ades, diz que a Unilever garantiu o patrocínio até o fim do ciclo olímpico (2012/13) e que, ano a ano, o valor do acordo é negociado.
Em nota, o presidente da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), Ary Graça, lamentou a extinção dos times do Finasa/Osasco e da Brasil Telecom, "mas não vê motivos para qualquer tipo de pânico em relação à sobrevivência da competição, ao desemprego das atletas e de um possível efeito dominó que possa vir a oferecer um risco ao vôlei brasileiro". Ele diz que novos patrocinadores estão em negociações para participar da próxima edição do torneio.
Fonte: Por Neila Baldi, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 8
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