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Novas tecnologias para conversar e compartilhar

Os desafios dos comunicadores e das organizações no contato com os públicos vão bem além do entendimento e manuseio de ferramentas digitais. Não é mais tempo de invasão, de interrupção ou de mero repasse de informações: todos querem conversar e compartilhar. E as fórmulas estão longe de estar prontas, se é que, em ambiente de permanentes testes e experiências da web, um dia de fato virão a estar. Esta pode ser uma das conclusões da maratona de atividades do Web Expo Fórum, realizado no Centro de Convenções do Shopping Frei Caneca em São Paulo/SP, entre os dias 17 e 19 de março de 2009, pela Converge Comunicações.

Cezar Taurion, gerente de Novas Tecnologias da IBM, aposta na inovação como saída para enfrentar as mudanças rápidas causadas pela globalização, pela desregulamentação dos mercados e pelo emprego intensivo da tecnologia. Pesquisa realizada pela empresa junto a 800 executivos em 2006 e a 1.100 executivos em 2008 aponta o mesmo resultado: a gestão da inovação é o pilar fundamental nas preocupações e investimentos dos CEO’s. Para ele, a inovação reside na interação entre invenção e insight, sendo multidisciplinar para poder mudar paradigmas. Mais que isto, a inovação é impulsionada pela colaboração, porque a inteligência coletiva teria muito mais potencial criativo. “Inovação é um processo sistemático, que tem que capturar o conjunto de idéias e fazê-las transformar os processos”, destaca, sendo que as idéias são potencializadas pela web 2.0 que instiga uma participação mais ativa. O paradigma atual entende o sistema como fechado, em que as criações são internas e o resultado é secreto e exclusivo. Mas agora a inovação tem que ser aberta, com os sistemas compartilhados com diferentes públicos. Como Taurion define, são “idéias de fora e idéias pra fora”, onde a melhor plataforma é a web colaborativa, um ambiente extremamente social para gerar e alavancar soluções. “A geração Y é multitarefa por excelência, a maneira de pensar os paradigmas muda radicalmente”, complementa.

Equipes de alto desempenho colaboram, se comunicam, interagem, compartilham e têm acesso a melhores informações. Daí que os organogramas não estabelecem mais a relevância das pessoas e de seus talentos. A IBM tem vários programas de inovação para captura de idéias, processos internos de incubação e implementação. O “Innovation Jam”, por exemplo, é voltado para agregação de percepções de vários públicos estratégicos. Trabalham também com comunidades sociais internas como o SmallBlue, no estilo do Orkut, que cria redes a partir de palavras-chave identificadas pelo usuário e coloca as pessoas em contato automático por esta afinidade; e ainda o BluePedia no formato wiki para construção coletiva de melhores práticas, sem propriamente haver reuniões presenciais.

Martha Gabriel, CIO da New Media Developers, comenta que a era da competição impele as organizações para buscar a geração de receitas pela proposição de novos produtos. Inovar é tornar algo novo, renovar, introduzir novidades enquadrando essas idéias às necessidades correntes. Para ela, “mercados são conversas”, então a inovação depende da criatividade, mas não abre mão de metodologia – observação, interação, estalo, patrocínio, formatação, relevância e aprofundamento. A fase do “estalo”, na opinião da especialista, é fundamental porque tem que ter disposição de romper algumas barreiras e continuar acreditando na proposta apesar de poder haver sempre algumas desacreditações. Entre os fatores inibidores da criatividade, ela cita os rótulos, a projeção dos riscos, o ego, o dinheiro e o ambiente, sendo que os protagonistas da inibição historicamente são os 5 P’s: pais, professores, padres, patrões (que sempre geram preconceitos com novidades) e por fim a preguiça. Ela mostrou vários trabalhos de arte digital, incorporando novidades tecnológicas, como o Qr Codes e gravação e compartilhamento de áudios.

Gil Giardelli, CEO da Permission, vê o fim do “capitalismo duro” e o crescimento da economia criativa. Como apenas 1% dos internautas produzem conteúdo e outros 4% replicam-no, é preciso ainda muito trabalho de expressão. Todavia, para ele esta é a geração da generosidade, e as ferramentas gratuitas disponíveis na web 2.0 geram vontades altruístas. O palco digital, sem amarrações etárias, étnicas, culturais ou de gênero, dá espaço para colaboração, conteúdo, comunidade e comércio. É a emergência de uma nova “arquitetura da participação”, aparecendo os “advogados da marca” como pessoas com consciência, mobilização e vigilância sobre marcas e condutas, numa espécie de ativismo global.

LUGAR – “Na minha opinião, a internet é um lugar, é um outro paradigma. Precisamos projetar para o futuro, não é uma questão de produção de conteúdo e transmissão, ou de destino. Pra mim, é como um tele-transporte”, diz Charles Zamaria, professor da Ryerson University do Canadá. Ele conduz um estudo de uso da internet em 28 países sobre como recebem informação e entretenimento e como vivenciam experiências na rede, o World Internet Project – gerido pela Canadian Internet Project (www.ciponline.ca) com ondas de diagnóstico nos anos de 2004, 2007 e 2010. Declarando que “estamos vivendo numa era do caos, numa mudança explosiva”, ele não tem dúvida de que uma parte essencial da vida está na rede, com alta permeabilidade em diferentes países: 78% da população canadense está online, sendo 74% nos EUA e uma média de 60% na Europa. Se pensar na faixa entre 12 e 17 anos, em seu país de origem há 96% das pessoas na internet. Os diferentes percentuais indicam diferentes grupos de uso da rede, como se constata também pelo número de horas de acesso por mês: são mais de 15h para 40% e entre 5h e 15h para outros 33%. Os usuários mais freqüentes são também os maiores usuários de outras mídias e também quem mais dedica tempo a familiares e amigos presencialmente, desmistificando uma eventual alienação da realidade. Daí que ele sentencia: “não haverá morte de outras mídias. Isto é um hipérbole que está indo longe demais”, embora se constate uma migração de tempo investido, até agora os padrões de consumo de mídia tradicional entre usuários e não-usuários é o mesmo (na ordem de 45 horas para usuários de internet, e 46 horas para não-usuários da rede).

Na visão de Zamaria, os dispositivos móveis e a banda larga vão mudar ainda mais este panorama, com muito mais oportunidades de engajamento porque estimulam mais tempo de permanência conectado. Aliás, de acordo com sua pesquisa mundial, os maiores usos da rede estão localizados no download de músicas, nos games e no download de vídeos. As redes sociais são um campo emergente de atenção, pelo perfil de colaboração permanente, ainda que exista uma diferença percentual significativa entre aqueles que as visitam e os que realmente deixam postagens. De todo modo, ele entende que estar online capacita as pessoas em criatividade, no sentido de gerar conteúdo, e é um ambiente que estimula a uma percepção multitarefa da vida (76% dos usuários fazem mais atividades na maioria do tempo). “A internet é um lugar e um objetivo, por si só”, finaliza.

LINKANIA – Hernani Dimantas, coordenador do Laboratório de Inclusão Digital e Educação Comunitária da Escola do Futuro da Universidade de São Paulo, relembra que o início da internet era mais ligado à contra-cultura (ativismo, liberdade de expressão, software livre) e o próprio Manifesto ClueTrain já reivindicava que os mercados são conversações, que falar pode ser fácil e que o silêncio é fatal, e isto tudo é um indicador de seu espírito fundamental, que deve ser sempre pensado nos projetos. Autor do livro “Marketing Hacker”, ele comenta que uma análise sobre o gap informacional da sociedade é que leva a ações de inclusão digital, como o Acessa SP e o Acessa Escola – em desenvolvimento pelo Governo do Estado de São Paulo, buscando interação através de formatos da web 2.0. Entre outros pilares, é preciso entender que a internet é atemporal, porque as pessoas interagem no momento em que escolherem, além de ser nômade. Por isto, há uma ruptura de paradigma da percepção de tempo, de espaço e de identidades.

Dimantas acredita que esta preocupação com o outro, o compartilhamento de vivências e a disponibilidade humana nunca existiram em tamanha escala, sem vínculos comerciais, na humanidade. É natural, portanto, que precise haver uma recriação na forma de contato com as pessoas pelas organizações, sob pena de não ser ouvidas. Afinal, é alta a velocidade de produção e difusão de informações, por qualquer pessoa, dentro dos preceitos da chamada Geração C – conteúdo, compartilhamento e conhecimento. Então surgiu o termo “linkania”, que seria a cidadania das redes, sem amarrações geográficas, com descentralização feita de ações locais em conexões globais, acessíveis por links rápidos. “Estar em rede é protagonizar a própria existência”, conclui.



Fonte: Por Rodrigo Cogo – Gerenciador do portal Mundo das Relações Públicas

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