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Gestão Sustentável

Administrar uma empresa de sucesso, como sabemos, requer disciplina. Mas recentemente percebi que a administração de uma empresa bem-sucedida e sustentável talvez requeira um tipo diferente de disciplina.

Quando meu anfitrião, durante a recepção de um evento sofisticado realizado para líderes empresariais de São Francisco, me apresentou a um dos participantes como reitor da PSM (Escola de Administração Presidio), brinquei com ele perguntando se já tinha um MBA... ou se estaria interessado em ter um. Ele me olhou nos olhos e respondeu com um sorriso sardônico: “Tenho meu diploma dos USMC (Fuzileiros Navais dos EUA) e isso me ensinou a ter disciplina, que é tudo o que preciso para ter sucesso nos negócios".

Os fuzileiros navais e outras ramificações das forças armadas estão certos em confiar em seu estilo hierárquico e pulso forte de disciplina para executar suas missões. Mas será que as melhores idéias, as mais inovadoras sempre vêm de cima para baixo? Dick Gray, fundador da PSM, aprendeu uma abordagem um pouco diferente de liderança na NOTS (Escola de Treinamento dos Oficiais Navais): “Vigilância, Preparação e Bom Senso”. A vigilância em busca das menores alterações em circunstâncias; estratégias preparadas e proativas para lidar com novos desafios; e bom senso na implantação dessas estratégias no contexto atual.

Essa abordagem tripla à liderança militar não é muito diferente do que acredito serem os princípios essenciais para administrar uma empresa de modo sustentável e bem sucedido. Na PSM, damos o nome de “Pensamento Sistêmico, Integração e Comunicação, e Experiência Ativa”.

Tudo Está Conectado
No campo da sustentabilidade, a vigilância real não é possível sem reconhecer a natureza essencialmente integrada do mundo em que vivemos. Como Randy Hayes, líder da RAN (Rede de Ações pela Floresta Tropical), disse: “Se pudesse dizer uma única frase, ela seria: ‘tudo está conectado a todas as coisas’”. Na administração, isso é conhecido como “pensamento sistêmico”. E é assim que nós definimos isso na Presidio:

Pensamento Sistêmico. A observação de áreas, assuntos ou problemas como um todo - algumas vezes chamado de pensamento sistêmico integral - costuma ser omitida, e até desestimulada pelo modelo de negócios geral centrado nas finanças e altamente especializado (uma verdade principalmente em escolas de administração).

O resultado dessa abordagem é que as soluções de ontem têm um jeito de se tornarem os problemas de hoje. Nas palavras do relatório State of the World, de 1999, a educação cada vez mais ensina a “desconexão”. E nos negócios, isso significa concentrar-se totalmente no objetivo de maximizar o retorno, no curto prazo, de apenas um grupo: os acionistas.

Então, no nosso ponto de vista, a necessidade real não é a de especialistas que conseguem isolar os problemas, mas sim de "conexionalistas" que possam pensar de maneira criativa sobre o modo como coisas, números e pessoas se relacionam uns com os outros.

Enfrentando o Desafio da Sustentabilidade
As outras duas disciplinas servem para colocar o pensamento sistêmico em prática. A primeira etapa rumo à ação “preparada” é a compreensão adequada e a comunicação interna eficaz dos desafios de negócios que devem ser enfrentados.

Integração e Comunicação de Conhecimento. Todo plano de negócios decente escrito por uma organização contém todos os elementos de gestão: projeto e operações de marketing, finanças, contabilidade, economia e organização. Eles definem a estratégia e o pensamento sistêmico leva à incorporação do resultado final integrado e à inclusão de todos os envolvidos na estratégia para entrar no mercado de uma forma sustentável e bem-sucedida.

A capacidade de reconhecer e articular essas conexões, com uma linguagem narrativa tangível, como planos de negócios e compromissos e promessas com o mundo, é o que leva à ação.

Há outro benefício, mais profundo, para os administradores que criam e desenvolvem seu plano de negócios: ele oferece a oportunidade de descobrir, definir, articular e testar sua vocação - o trabalho que sentem que precisam fazer – atraindo outras pessoas para a ação e conduzindo-as para seus objetivos, assim como o de todos nós, de criar um mundo mais humano e sustentável.

Juntando Tudo
A terceira disciplina é a que inicia a prática da sustentabilidade, com raízes na experiência diária que ajuda a informar a estratégia prática:

Experiência Ativa. O dogma da nossa fundação é que o aprendizado, a postura de ter curiosidade e desafiar suposições, é uma experiência ativa cuja qualidade depende, em grande escala, da participação ativa do aluno, participação esta que deve ser intelectual, física, intuitiva e ética. Acreditamos que a ação focada no objetivo, quando firmada por acordo mútuo, é mais motivadora e potente do que ações aleatórias ou dispersas. O mesmo é válido para a ação autodirecionada, em vez de uma ação direcionada por uma autoridade (é aqui que diferimos do modelo militar, visto de maneira geral).

Portanto, acreditamos que a indagação pragmática e o aprendizado, o processo de reflexão disciplinada e ação com base na experiência, sejam muito mais eficazes e duradouros do que o aprendizado derivado somente da experiência (raciocínio indutivo) ou da reflexão abstrata (raciocínio dedutivo). É o movimento contínuo e experimental entre experiência e suposições (chamado de "raciocínio abdutivo") que leva à educação real e à ação autêntica. O resultado são administradores que se caracterizam como "Idealistas Pragmáticos”, como gostamos de chamar.

Essas três disciplinas são o centro da filosofia educacional da Presidio. Acreditamos na disciplina, assim como os fuzileiros navais. Mas talvez uma abordagem mais flexível seja mais adequada para responder aos desafios em constante evolução de se administrar uma empresa de sucesso (e sustentável). E é por isso que o meu amigo com seu diploma da USMC poderia lucrar sendo apresentado às três disciplinas da administração sustentável.


Fonte: Por Ron Nahser, in www.agendasustentavel.com.br

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