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A importância de engajar e alinhar a equipe

Até o meio do ano passado, a economia nacional crescia significativamente e, com ela, o crédito. A situação era a melhor possível para a Crivo, empresa cujo principal produto é o software homônimo, voltado para a análise de crédito. Mas, quando a turbulência financeira internacional chegou ao País, na metade do semestre passado, a empresa precisou correr para não ver seu faturamento estagnar. Isso porque, até então, metade dos clientes da empresa eram do mercado financeiro, um dos principais segmentos afetados pela crise internacional. "O impacto foi direto. O ritmo do nosso crescimento diminui", diz o diretor de relacionamento da empresa, Rodrigo Del Claro.

A opção da Crivo foi respirar fundo e acreditar num dos mais conhecidos chavões do mundo dos negócios: buscar as oportunidades existentes por trás da crise. A idéia é tão comum quanto difícil de realizar. Mas para empresa, ela realmente funcionou. Demissões no mercado financeiro permitiram à Crivo contratar profissionais qualificados, o que foi fundamental para que ela entrasse no de ramo de serviços. "Tínhamos o software, a ferramenta, mas havia problemas no seu uso devido à falta de mão de obra das empresas do setor financeiro. Por isso, criamos a Crivo Serviços no final do ano passado", diz, ressaltando que apensar da nova divisão já estar atuando, seu lançamento oficial ainda não ocorreu. O fato é que a Crivo conseguiu abrir uma nova frente de negócio: os serviços de inteligência de crédito. A contratação de profissionais oriundos do mercado financeiro permitiu a empresa também implementar uma área de modelagem estatística, outro produto da Crivo Serviços. " A crise nos levou a repensar nossa atuação", observa Del Claro. No primeiro trimestre deste ano, o faturamento da Crivo cresceu 86% em relação ao mesmo período de 2008. Os serviços foram responsáveis por 15% dessa evolução. Mas esse desempenho dificilmente teria sido alcançado sem as ações que a liderança da empresa tomou com a intenção de engajar os funcionários no processo de transformação e reposicionamento.

Neste ano, o planejamento estratégico desenvolvido pela diretoria da Crivo contou, pela primeira vez, com a colaboração dos gerentes. "Perguntamos como eles poderiam ajudar com os objetivos da companhia. Cada gerência estabeleceu metas, prazos e expectativas", conta Del Claro. Outra novidade foi a criação de uma convenção geral, medida necessária para comunicar a todos os colaboradores o atual cenário para os negócios da Crivo. "Abrimos todos os números com a intenção de transmitir tranquilidade", diz. "Cada gerente apresentou as metas da sua área para os presentes. Isso foi importante para gerar compromisso", assegura. O evento foi realizado no último dia 25 de abril, um sábado.

A postura da diretoria da Crivo está alinhada à opinião dos mais de 650 líderes seniores e profissionais de recursos humanos de todo o mundo que participaram de uma pesquisa da consultoria Right Management. Mais da metade dos respondentes (51%) citou que engajar os funcionários e garantir o alinhamento e a confiança organizacional é a prática de liderança mais importante nesse momento de incertezas econômicas. Outras atitudes fundamentais são a clareza na definição de regras e expectativas (21%), o desenvolvimento de habilidades básicas e capacidades dentro da organização (15%) e a tomada de decisões eficiente (13%).

A diretora comercial da Right Management, Márcia Palmeira, lembra que liderança é um ponto vital dentro de qualquer organizações. "Ainda mais em um momento de crise, quando é preciso trabalhar cada vez mais e melhor o envolvimento das pessoas para que os resultados acompanhem o planejamento", diz. Porém, há muitas casos de gestores que, ao serem desafiados por uma situação de incerteza, se fecham em sua salas e usam seu cargo para criar uma espécie de redoma de proteção. " A tendência natural do líder despreparado é se isolar", explica Márcia. Quando os principais responsáveis pelo sucesso de um negócio começam a se esconder, uma coisa é certa: os empregados ficam dispersos, desorientados. "Um talento importante, fundamental naquele momento, pode falar: ''Estão demitindo e não sei se serei o próximo, vou procurar outro trabalho''. Outros podem ficar desmotivados e produzir menos. Por isso não custa lembrar que papel do líder é engajar as pessoas, com clareza." E isso significa, ela diz, passar pelos demais itens destacados pela pesquisa da Right: ser claro na definição de regras e expectativas; desenvolver, dentro da organização, as habilidades e capacidades básica para o negócio; e tomar decisões eficientes, principalmente aquelas relacionadas às pessoas.

Márcia observa que as empresas precisam instrumentalizar suas lideranças para que elas possam agir adequadamente em momentos de estresse generalizado. "Quando é necessário demitir pessoas, se há informações claras sobre a equipes, se há avaliações sobre quais são principais competências de cada profissional, é possível fazer remanejamentos e identificar quem pode ajudar as empresas no momento atual e, por isso, deve permanecer", diz.

Auxílio externo
O excesso de tensão pelo as pessoas pode estar passando também deve ser considerado. " A tendência natural do ser humano, em momentos de crise e estresse elevado, é se isolar, ser agressivo e até ter atitudes intempestivas. Ou seja, a tendência é lidar com as pessoas de modo mais duro, o que é um contra-senso, pois como todos estão estressados, alguém precisa ser o contemporizador. O líder ter que ter esse papel de apaziguar e acalmar", diz. Para ela, o coaching pode ajudar os líderes nesse momento. As empresas parecem conscientes disso. Mesmo com a crise e todas as atuais exigências por redução de custos, a carteira de coaching da Right Management cresceu 35% no primeiro trimestre deste ano. Segundo Del Claro, ele e os demais diretores da Crivo estão passando por um programa de coaching "para conseguir comunicar as mudanças da empresa de um modo muito efetivo".

Desafios geográficos
Na Stefanini IT Solutions, o alinhamento é visto como fundamental. "Mesmo sem crise, essa prática é importante. Estamos distribuídos em 34 escritórios, por 16 países. Quanto maior a distância, mais difícil é fazer a estratégia chegar na ponta. Além disso, parte dos nossos colaboradores trabalha dentro da empresa. Outra parte, fica nos clientes. No total, estamos espalhados por mais de 250 locais. A dificuldade de passar a mensagem correta para todo mundo é brutal", diz o presidente Marco Stefanini.

Segundo ele, o faturamento da companhia cresceu cerca de 35% no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2008. Seria um resultado e tanto, não fosse outro dado: a margem de lucro despencou cerca de 65%. "Desde setembro, quando os primeiro sinais da chegada da crise surgiram, procuramos passar a mensagem de crescimento, que julgamos adequada, para todos os profissionais, mas explicando a necessidade de reduzir custos", diz Stefanini. De acordo com ele, nesse processo as conferências pela internet se tornaram mais frequentes e, no final do ano, eram quinzenais. A intenção foi manter todos cientes sobre a evolução da situação da empresa. "Agora estamos fazendo uma segunda rodada de comunicação, com a mesma intensidade. A intenção desta vez é melhorar nossas margens", revela.


Fonte: Por João Paulo Freitas, in Gazeta Mercantil/Caderno D - Pág. 7

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