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Matemáticos decifram rastros digitais dos funcionários

Você chega ao escritório, liga o computador, checa os e-mails e responde às mensagens mais urgentes. Dá uma espiada nos sites de notícias. Lê duas ou três reportagens mais importantes e, em seguida, começa a trabalhar. Por vezes interrompe a tarefa para surfar pela rede. E assim corre mais um dia de trabalho. Fique atento. Cada uma dessas ações foi registrada em linguagem digital. Se antes as atividades paralelas dos funcionários eram ignoradas pelas empresas, agora começam a ser investigadas por um novo tipo de profissional. Stephen Baker, jornalista da revista BusinessWeek, batizou-os de numerati, expressão que dá título a seu novo livro, recém-lançado nos Estados Unidos. Todo tipo de informação interessa a esse pessoal. Investigam com quem você troca e-mails, quais sites costuma visitar e em que horários liga e desliga o seu terminal, além, é claro, do seu histórico profissional.

A IBM recorreu a esses especialistas para entender a fundo o comportamento de 50 mil funcionários da área de tecnologia. É um grupo de 40 numerati que, munidos de informações digitais, procuram antecipar por meio de equações e algoritmos as ações dos profissionais da gigante de informática. Uma intromissão indevida? Nada disso, afirma o matemático Samer Takriti, criador da equipe de numerati da IBM. A análise científica permitirá que os chefes consigam aproveitar com mais sabedoria o potencial de cada um de seus funcionários.

Os numerati poderão saber, por exemplo, quais as palavras mais usadas nos e-mails sem precisar ler cada um deles, bastando usar um programa para essa finalidade. Com essa informação, descobrirão a natureza das relações entre um grupo de funcionários e saber se ela muda durante a semana. O conhecimento de que, de terça a sexta-feira, travam discussões sobre softwares e, na segunda-feira, conversam principalmente sobre futebol poderá ser usado para um programa de aumento da produtividade.

Em outro cenário imaginado pelos numerati da companhia, que ainda estão no início de suas pesquisas, um executivo recebe a missão de montar com urgência um time de cinco funcionários para criar um call center em Manila. Preenche um formulário no computador no qual relata as capacidades requeridas para a tarefa. O sistema sugere um determinado grupo de funcionários, boa parte dos quais já trabalhou, num clima de harmonia, em conjunto. Alguns vivem próximos a aeroportos com vôos diretos para a capital das Filipinas. Um deles é fluente na língua nativa. Está montado, em pouquíssimo tempo, um time ideal de talentos para a tarefa, trabalho que levaria dias sem o conhecimento detalhado dos funcionários.

Os numerati são a evolução natural de um processo iniciado no final do século 19 pelo engenheiro americano Frederick Winslow Taylor, o primeiro a defender a adoção de métodos científicos na administração de uma empresa. É o que fez a IBM depois da Segunda Guerra Mundial, quando desenvolveu um modelo matemático para gerir a sua cadeia de suprimentos, que se traduziu em eficiência e redução de custos. Mas nos últimos anos a empresa abandonou a produção de equipamentos e passou a se dedicar à prestação de serviços. Otimizar o trabalho de seus funcionários virou uma de suas principais preocupações.

Assim como a IBM, outras corporações usam a análise científica para entender o comportamento dos funcionários. A Nissan e a Cisco estão entre elas. Testam hoje um aparelhinho criado pelo MIT que, feito para ser levado ao pescoço, registra os movimentos e as falas dos empregados. Ajuda, por exemplo, a medir o tempo gasto em cada tarefa e em conversas com os colegas. Tudo para melhorar os processos dentro de suas instalações.

Baker revela em seu livro que os numerati são usados hoje com diferentes objetivos. Políticos estão contratando esses especialistas para entender a cabeça do eleitor. Empresas de publicidade usam seus serviços para antecipar o comportamento do consumidor. A Tacoda é uma delas. A companhia fechou acordos com milhares de publicações online – como o jornal The New York Times e a revista BusinessWeek –, pelos quais consegue instalar cookies nos computadores daqueles que as freqüentam.

Por meio desse truque digital, acompanha cada passo da navegação dos internautas. Você entra num site de notícias e lê um artigo sobre um novo lançamento da Toyota. Em seguida, visita a página de uma revista de carros. Bingo! Um anúncio de carros será colocado nas próximas etapas de seu percurso virtual. Basta clicar na propaganda para que a Tacoda seja recompensada pelo anunciante.


Fonte: epocanegocios.globo.com

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