A polêmica causada pelo blog da Petrobras tem servido para ampliar o debate sobre a comunicação pública , a modernização de suas estruturas, a sua vocação para atender ao interesse público e muitas outras questões relevantes.
Uma das constatações mais dramáticas que afloram da análise da realidade da comunicação pública brasileira contemporânea é o seu processo acelerado de privatização.
Não estamos nos referindo ao uso de agências de comunicação ou propaganda para a realização de tarefas específicas (elaboração de Políticas de Comunicação, pesquisas de imagem , campanhas publicitárias, projetos de identidade corporativa etc) porque, em geral, os ministérios, as empresas, as secretarias ou institutos não têm know-how para a realização destes trabalhos. E há agências, assessorias, consultorias competentes no mercado.
O que merece atenção especial (e também o nosso repúdio ou estranheza) é o fato de organizações públicas estarem desmantelando suas estruturas de comunicação ou deixando de montá-las ou reforçá-las em favor de agências privadas que estão executando ações estratégicas, essenciais, que deveriam estar previstas em qualquer estrutura de comunicação, como o relacionamento com a mídia e o gerenciamento de crises (o que seria óbvio por exemplo para a Petrobras com crises continuadas - políticas, ambientais, de gestão etc). A pergunta óbvia é: com 1.150 profissionais na área, por que a Petrobras precisa contratar ainda uma agência externa? Não seria mais fácil incorporar definitivamente pessoas com o perfil das que agora fazem o trabalho pela CDN em sua estrutura? Afinal, para que concursos continuados na Petrobras, se eles não contemplam a realização de atividades essenciais (para a Petrobras as crises são recorrentes) de gerenciamento de crise? Todos sabemos, não somos ingênuos: assim como na mudança malfadada do nome da Petrobras (lembra do episódio da Petrobrax?) a entrada da agência veio goela abaixo, por decisão superior.
Aliás, no caso da Petrobras, pouco importa, em princípio, que a CDN esteja ganhando 180 mil reais por mês para gerenciar a sua crise, mesmo porque todos sabemos que o desafio da agência é imenso. A crise da nossa querida Petrobras é uma crise de gestão e não de comunicação e isso CDN alguma consegue resolver. Uma crise que só não redundou ainda em CPI porque partidos e governos se mobilizaram para impedir que a transparência fosse efetivamente aplicada e porque oposicionistas, no fundo, querem apenas fazer marola e investigar coisa alguma. O mesmo se repete no Senado com os contratos de gaveta . Nesta casa (a mãe Joana mora lá?), apesar dos discursos, muitos querem colocar a sujeira debaixo do tapete porque não lhes interessa dar andamento a estas investigações. As oligarquias e seus familiares sempre prevalecem porque empenhados em preservar os privilégios conquistados ao longo do tempo. O Senado tem mais sobrinhos do que o Pato Donald!
O que interessa analisar é o modelo praticado por órgãos públicos que apresentam neste momento avançado processo de privatização de suas estruturas de comunicação. Isso é ruim, alguém pode perguntar? É fácil responder: é ruim, muito ruim porque o ethos da comunicação pública é (tem que ser) absolutamente distinto do da comunicação privada. A comunicação pública não pode ser medida apenas pela obtenção de resultados imediatos mas estar respaldada numa cultura que privilegia o interesse público, a democratização da informação, o relacionamento transparente com a sociedade e sobretudo pela preservação da própria identidade de cada organização pública. As agências de plantão, que se modificam a cada governo ou autoridade (ministros, diretores de empresas, secretarias, institutos) não estão comprometidas com a preservação das organizações, com sua história, seu presente e seu futuro, e quase sempre estão a serviço da promoção de dirigentes ou autoridades. Buscam resultados imediatos mesmo porque não têm certeza de que estarão prestando serviços ao órgão no ano seguinte, no governo seguinte, e assumem uma característica muitas vezes predadora em termos de comunicação.
Certamente, este modelo tem a ver com o perfil dos próprios dirigentes que utilizam os cargos públicos para sua promoção pessoal, valendo-se de secretarias, institutos , empresas como trampolins para seu projeto político. Preferem, por isso, desmontar ou não montar estruturas de comunicação para atender aos órgãos que dirigem , focando sua atenção em "modernizar" estruturas que dêem apoio aos seus projetos pessoais. Não é por coincidência que o processo de privatização da comunicação pública sempre se acelera às vésperas de eleições.
A comunicação pública competente não se constrói com ações midiáticas, com campanhas, com toda esta pirotecnia desencadeada por homens "públicos" (de araque!) que têm uma visão mesquinha da coisa pública, e que têm como objetivo único aumentar a sua própria visibilidade visando postular novos cargos no futuro.
A comunicação pública privatizada de maneira caótica e irresponsável não contribui para a democracia, muito pelo contrário. Ela destrói os relacionamentos de uma organização, ela desmotiva as equipes permanentes (há muita, mas muita gente competente nas estruturas de comunicação pública desse País!), ela afronta a sua história e abre espaço para oportunismos, deslizes éticos, como os que recentemente foram protagonizados no escândalo do mensalão (Marcos Valério e outros menos votados!).
O fato de existirem agências de comunicação privadas competentes não significa necessariamente que devemos importá-las para o serviço público, criando estruturas artificiais e, com isso, descartando a possibilidade de autênticas áreas de comunicação, com perfil adequado, modernas condições de trabalho e autonomia para a realização de suas atividades essenciais.
A comunicação pública está sendo assaltada por uma mentalidade privatista, por feudos construídos para favorecer interesses de grupos e de pessoas, a um custo financeiro elevado mas particularmente gerando um prejuízo humano, profissional e social incalculáveis.
A comunicação pública requer compromisso, identificação com as demandas sociais, ética, transparência e lisura na utilização do dinheiro público.
Seria razoável investigar o custo da privatização da comunicação pública brasileira mesmo porque os contratos já divulgados com agências privadas (a maioria continua na penumbra, na total intransparência) evidenciam comissões e pro-labores bastante superiores aos praticados na iniciativa privada. Como diz o povo, aí tem, basta querer investigar.
A privatização contraria a verdadeira função da comunicação pública porque a atrela aos interesses de grupos e pessoas em detrimento das instituições e a deixa refém de agências privadas que, embora possam exibir resultados positivos a curto e a médio prazos, não estão sintonizadas com o interesse dos cidadãos.
A privatização, sem controle, da comunicação pública é uma ameaça ao diálogo cidadão entre as instituições públicas e a sociedade. Ela merece uma análise séria, um debate profundo. Quase sempre - e aí fica evidente a sua condição predadora - ela ocorre à revelia e em oposição às equipes de comunicação já constituídas, reforçando sua condição não democrática.
As instituições públicas precisam realmente fortalecer, capacitar, modernizar suas estruturas, mas não podem terceirizar a sua essência, a sua insubstituível vocação para o interesse pública.
A privatização da comunicação pública representa um assalto intolerável à nossa história e à nossa cidadania. É possível aceitar a terceirização de determinadas atividades/competências na comunicação pública , mas não a de seus gestores. A comunicação pública está privatizando as suas próprias consciências e isso é inaceitável.
Minha solidariedade às equipes de comunicação que gradativamente estão sendo destruídas pela privatização da comunicação pública e aos colegas que vêm sendo demitidos para dar lugar a profissionais sem compromisso com o interesse público. Meu repúdio a dirigentes aventureiros que andam submetendo os órgãos públicos a sua ambição pessoal.
A história (é sempre assim) fará justiça, mas não devemos assumir esta perspectiva fatalista e postergar a luta para o futuro. Para evitar o desmonte da comunicação pública, é preciso resistir aqui e agora.
Em tempo 1: se a Petrobras queria mesmo a transparência porque não se propôs a isso anteriormente? Por que só agora , pressionada pela CPÌ, resolveu criar o seu blog para combater a divulgação de suas possíveis mazelas pela imprensa? Por que a transparência do blog da Petrobras só se manifesta a reboque? Porque ela precisa ser pressionada para ir revelando a conta-gotas o que interessa à sociedade e a públicos específicos, como os jornalistas? O blog da Petrobras não representa, como pregam alguns apressados, nenhuma inovação, mas de um oportunismo exemplar. Mas a guerra da comunicação é assim mesmo e outras organizações podem aprender com a lição da Petrobras (mas, por favor, se forem públicas, não copiem a sua falta de transparência!).
Em tempo 2: Gosto da Petrobras e acho uma boa alternativa a criação do blog. Sei também que ela é maior do que aqueles que as têm utilizado para seus projetos pessoais e políticos. A Petrobras continuará existindo forte e vencedora, mas eles não resistirão a uma mudança de Governo ou das forças que o sustentam. São descartáveis, embora queiram parecer eternos em sua arrogância.
Fonte: Por Wilson da Costa Bueno, in portalimprensa.uol.com.br
Uma das constatações mais dramáticas que afloram da análise da realidade da comunicação pública brasileira contemporânea é o seu processo acelerado de privatização.
Não estamos nos referindo ao uso de agências de comunicação ou propaganda para a realização de tarefas específicas (elaboração de Políticas de Comunicação, pesquisas de imagem , campanhas publicitárias, projetos de identidade corporativa etc) porque, em geral, os ministérios, as empresas, as secretarias ou institutos não têm know-how para a realização destes trabalhos. E há agências, assessorias, consultorias competentes no mercado.
O que merece atenção especial (e também o nosso repúdio ou estranheza) é o fato de organizações públicas estarem desmantelando suas estruturas de comunicação ou deixando de montá-las ou reforçá-las em favor de agências privadas que estão executando ações estratégicas, essenciais, que deveriam estar previstas em qualquer estrutura de comunicação, como o relacionamento com a mídia e o gerenciamento de crises (o que seria óbvio por exemplo para a Petrobras com crises continuadas - políticas, ambientais, de gestão etc). A pergunta óbvia é: com 1.150 profissionais na área, por que a Petrobras precisa contratar ainda uma agência externa? Não seria mais fácil incorporar definitivamente pessoas com o perfil das que agora fazem o trabalho pela CDN em sua estrutura? Afinal, para que concursos continuados na Petrobras, se eles não contemplam a realização de atividades essenciais (para a Petrobras as crises são recorrentes) de gerenciamento de crise? Todos sabemos, não somos ingênuos: assim como na mudança malfadada do nome da Petrobras (lembra do episódio da Petrobrax?) a entrada da agência veio goela abaixo, por decisão superior.
Aliás, no caso da Petrobras, pouco importa, em princípio, que a CDN esteja ganhando 180 mil reais por mês para gerenciar a sua crise, mesmo porque todos sabemos que o desafio da agência é imenso. A crise da nossa querida Petrobras é uma crise de gestão e não de comunicação e isso CDN alguma consegue resolver. Uma crise que só não redundou ainda em CPI porque partidos e governos se mobilizaram para impedir que a transparência fosse efetivamente aplicada e porque oposicionistas, no fundo, querem apenas fazer marola e investigar coisa alguma. O mesmo se repete no Senado com os contratos de gaveta . Nesta casa (a mãe Joana mora lá?), apesar dos discursos, muitos querem colocar a sujeira debaixo do tapete porque não lhes interessa dar andamento a estas investigações. As oligarquias e seus familiares sempre prevalecem porque empenhados em preservar os privilégios conquistados ao longo do tempo. O Senado tem mais sobrinhos do que o Pato Donald!
O que interessa analisar é o modelo praticado por órgãos públicos que apresentam neste momento avançado processo de privatização de suas estruturas de comunicação. Isso é ruim, alguém pode perguntar? É fácil responder: é ruim, muito ruim porque o ethos da comunicação pública é (tem que ser) absolutamente distinto do da comunicação privada. A comunicação pública não pode ser medida apenas pela obtenção de resultados imediatos mas estar respaldada numa cultura que privilegia o interesse público, a democratização da informação, o relacionamento transparente com a sociedade e sobretudo pela preservação da própria identidade de cada organização pública. As agências de plantão, que se modificam a cada governo ou autoridade (ministros, diretores de empresas, secretarias, institutos) não estão comprometidas com a preservação das organizações, com sua história, seu presente e seu futuro, e quase sempre estão a serviço da promoção de dirigentes ou autoridades. Buscam resultados imediatos mesmo porque não têm certeza de que estarão prestando serviços ao órgão no ano seguinte, no governo seguinte, e assumem uma característica muitas vezes predadora em termos de comunicação.
Certamente, este modelo tem a ver com o perfil dos próprios dirigentes que utilizam os cargos públicos para sua promoção pessoal, valendo-se de secretarias, institutos , empresas como trampolins para seu projeto político. Preferem, por isso, desmontar ou não montar estruturas de comunicação para atender aos órgãos que dirigem , focando sua atenção em "modernizar" estruturas que dêem apoio aos seus projetos pessoais. Não é por coincidência que o processo de privatização da comunicação pública sempre se acelera às vésperas de eleições.
A comunicação pública competente não se constrói com ações midiáticas, com campanhas, com toda esta pirotecnia desencadeada por homens "públicos" (de araque!) que têm uma visão mesquinha da coisa pública, e que têm como objetivo único aumentar a sua própria visibilidade visando postular novos cargos no futuro.
A comunicação pública privatizada de maneira caótica e irresponsável não contribui para a democracia, muito pelo contrário. Ela destrói os relacionamentos de uma organização, ela desmotiva as equipes permanentes (há muita, mas muita gente competente nas estruturas de comunicação pública desse País!), ela afronta a sua história e abre espaço para oportunismos, deslizes éticos, como os que recentemente foram protagonizados no escândalo do mensalão (Marcos Valério e outros menos votados!).
O fato de existirem agências de comunicação privadas competentes não significa necessariamente que devemos importá-las para o serviço público, criando estruturas artificiais e, com isso, descartando a possibilidade de autênticas áreas de comunicação, com perfil adequado, modernas condições de trabalho e autonomia para a realização de suas atividades essenciais.
A comunicação pública está sendo assaltada por uma mentalidade privatista, por feudos construídos para favorecer interesses de grupos e de pessoas, a um custo financeiro elevado mas particularmente gerando um prejuízo humano, profissional e social incalculáveis.
A comunicação pública requer compromisso, identificação com as demandas sociais, ética, transparência e lisura na utilização do dinheiro público.
Seria razoável investigar o custo da privatização da comunicação pública brasileira mesmo porque os contratos já divulgados com agências privadas (a maioria continua na penumbra, na total intransparência) evidenciam comissões e pro-labores bastante superiores aos praticados na iniciativa privada. Como diz o povo, aí tem, basta querer investigar.
A privatização contraria a verdadeira função da comunicação pública porque a atrela aos interesses de grupos e pessoas em detrimento das instituições e a deixa refém de agências privadas que, embora possam exibir resultados positivos a curto e a médio prazos, não estão sintonizadas com o interesse dos cidadãos.
A privatização, sem controle, da comunicação pública é uma ameaça ao diálogo cidadão entre as instituições públicas e a sociedade. Ela merece uma análise séria, um debate profundo. Quase sempre - e aí fica evidente a sua condição predadora - ela ocorre à revelia e em oposição às equipes de comunicação já constituídas, reforçando sua condição não democrática.
As instituições públicas precisam realmente fortalecer, capacitar, modernizar suas estruturas, mas não podem terceirizar a sua essência, a sua insubstituível vocação para o interesse pública.
A privatização da comunicação pública representa um assalto intolerável à nossa história e à nossa cidadania. É possível aceitar a terceirização de determinadas atividades/competências na comunicação pública , mas não a de seus gestores. A comunicação pública está privatizando as suas próprias consciências e isso é inaceitável.
Minha solidariedade às equipes de comunicação que gradativamente estão sendo destruídas pela privatização da comunicação pública e aos colegas que vêm sendo demitidos para dar lugar a profissionais sem compromisso com o interesse público. Meu repúdio a dirigentes aventureiros que andam submetendo os órgãos públicos a sua ambição pessoal.
A história (é sempre assim) fará justiça, mas não devemos assumir esta perspectiva fatalista e postergar a luta para o futuro. Para evitar o desmonte da comunicação pública, é preciso resistir aqui e agora.
Em tempo 1: se a Petrobras queria mesmo a transparência porque não se propôs a isso anteriormente? Por que só agora , pressionada pela CPÌ, resolveu criar o seu blog para combater a divulgação de suas possíveis mazelas pela imprensa? Por que a transparência do blog da Petrobras só se manifesta a reboque? Porque ela precisa ser pressionada para ir revelando a conta-gotas o que interessa à sociedade e a públicos específicos, como os jornalistas? O blog da Petrobras não representa, como pregam alguns apressados, nenhuma inovação, mas de um oportunismo exemplar. Mas a guerra da comunicação é assim mesmo e outras organizações podem aprender com a lição da Petrobras (mas, por favor, se forem públicas, não copiem a sua falta de transparência!).
Em tempo 2: Gosto da Petrobras e acho uma boa alternativa a criação do blog. Sei também que ela é maior do que aqueles que as têm utilizado para seus projetos pessoais e políticos. A Petrobras continuará existindo forte e vencedora, mas eles não resistirão a uma mudança de Governo ou das forças que o sustentam. São descartáveis, embora queiram parecer eternos em sua arrogância.
Fonte: Por Wilson da Costa Bueno, in portalimprensa.uol.com.br
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