Pular para o conteúdo principal

A comunicação no desdobramento da estratégia

Cases de sucesso em estágios avançados na implementação de BSC e os processos utilizados para internalizar e manter a sustentabilidade da metodologia com o engajamento dos colaboradores, sob influência direta dos líderes, foi o que se viu na terceira edição da conferência “Melhores Práticas em Balanced Scorecard”, realizado em São Paulo/SP, no final de fevereiro de 2010.

Para Fanny Schwarz, sócia-diretora da consultoria Symnetics, à medida em que a organização evolui no mapeamento estratégico é vital o engajamento do capital humano. A excelência deve estar tanto na estratégia quanto na execução e o BSC existe, na verdade, como método de comunicação e de medição do progresso de uma estratégia num ambiente - embora o desafio seja sempre transformá-lo em processo, inserido no dia-a-dia. Segundo a executiva, é preciso colocar a estratégia no centro de tudo que a organização faz. Para isto, ela deve ser traduzida e transformada em processo contínuo e tarefa de todos, criando sinergias. Estas ações não prescindem da liderança executiva como mobilizadora da mudança. “A implementação da estratégia requer um envolvimento pessoal. Daí vem o compartilhamento, o desdobramento”, acrescenta Fanny, com uma conexão top-down para alinhamento, mas sem deixar de lado o bottom-up para incorporar esta visão das coisas.

O propósito de alinhar o capital humano à estratégia é permitir que todos os colaboradores compreendam o sistema e conduzam suas tarefas cotidianas de modo a contribuir para o seu êxito. A consultora assinala que, mesmo distantes da corporação e das sedes regionais, todos os indivíduos devem descubrir formas de atuação compatíveis. Para a criação de um clima que sustente a mudança estratégica, indica-se a garantia da compreensão da estratégia, o alinhamento de objetivos pessoais à estratégia corporativa e a vinculação com sistemas de recompensa e reconhecimento. Então, cita Robert Kaplan, para quem a comunicação é a principal alavanca para alcançar o sucesso organizacional. Ao lado disto, estão as práticas de gestão de Recursos Humanos, com definição de competências e revisões de processos preexistentes. Empresas comprometidas com uma comunicação estratégica têm retorno para acionistas 16% superior, afirma Fanny. As companhias de alto desempenho têm maior percentual de empregados que compreendem claramente seus objetivos globais e as habilidades que precisam devolver para ser bem sucedidos, segundo dados da Watson Wyatt Worlwide em pesquisa com 913 empresas com mais de cinco mil funcionários.

O processo de comunicação deve ser gerenciado de maneira a assegurar a agregação de valor à organização. O primeiro ponto seria definir os objetivos da comunicação estratégica, para então apontar que públicos vão ser visados, que mensagens circularão em que canais e qual o nível de recebimento, compreensão e aplicação dos conceitos. A palestrante sugere alguns passos para construir a comunicação da estratégica, divididos em três fases criação do plano, desenvolvimento de conteúdo e avaliação. Basicamente, deve ser buscada a conscientização sobre o processo e sobre o avanço de suas etapas, “vendendo” a ideia internamente. Para isso, a identificação e o entendimento dos diversos olhares dos públicos para as estratégias levam a um mapeamento de necessidades e expectativas de cada um. Dentro do chamado “público interno”, estão diferentes perspectivas como a liderança executiva, gerência de unidades de negócio, liderança de linha, equipe de prestadores de serviços internos, funcionários de operação. A diversidade do “público externo” também é significativa. Em todos os casos, a linguagem, os signos, os comparativos e os diagramas devem ser específicos, tendo ainda coordenadas as ondas de sedução, informação e feedback. A escolha dos meios de difusão e relacionamento está na dependência do patamar de interatividade possível ou desejável a cada instante.

Uma agenda estratégica da mudança, resultado do BSC, dá aos executivos as diretrizes para promover o pensamento estratégico em todos os níveis. Este tipo de instrumento insere numa tabela como a organização está e como será, com a dimensão da mudança neste caminho. Quando a necessidade da mudança fica evidente, os líderes compartilham dados e informações organizacionais e definem e discutem ameaças e problemas com maior clareza. Aos líderes cabe manejar a mudança, alterar a estrutura, comunicar visão e estratégia, manter controle de equipe com a socialização, crenças comuns, normas, valores e motivações intrínsecas, promover o aprendizado, a tomada de riscos e a criatividade e influenciar os outros a tomar decisões. “Do contrário, a organização congela, se perde”, enfatiza.

Ela diferencia líder e gestor. A este segundo são alocadas outras responsabilidades de condução cotidiana das atividades, conservando estabilidade e implementando decisões operacionais. O exercício da liderança elimina o gap entre formulação e execução da estratégia. E complementa: “um BSC de sucesso começa com o reconhecimento de que não se trata de um projeto de indicadores, mas sim um processo de mudanças”. E “como comunicação é percepção e não só dados e fatos, precisa de monitoramento”, afirma Fanny, é interessante medir nível de satisfação sobre circulação e qualidade das informações e eficácia das práticas e mecanismos de feedback, além do nível de conhecimento sobre objetivos estratégicos, valores e visão, mudanças, acontecimentos e decisões do dia-a-dia das empresas. Tudo é feito por pesquisas, sondagens com formadores de opinião, grupos de discussão e formulários. Na escala de eficácia da comunicação constam a absorção, entendimento, aceitação, ação e mobilização, numa relação entre conhecimento e nível de informação ao longo do tempo.

CASES - O especialista em planejamento estratégico da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, Marcelo da Silva, falou no evento sobre a retomada de um processo de implementação de BSC. A mobilização das pessoas, a partir de uma forte comunicação para engajamento, foi muito bem sucedida na entidade, com ciência do andamento do trabalho e formatação de mapas. A tradução das estratégias no cotidiano da organização, contudo, não ocorreu a contento. Em análise da situação, foi detectado que houve estabelecimento de indicadores de difícil mensuração, foram deixados projetos sem monitoramento e esbarrou-se na dificuldade de implantar uma cultura de gestão estratégica na equipe. Então, ele relata que foi preciso revisar os mapas, que até então eram três contemplando os órgãos vinculados, e foi iniciada a sensibilização de funcionários com broadside, adesivação do escritório, chamadas na intranet, email marketing, descanso de tela dos computadores, apresentação padronizada dos gestores e de suas equipes. Os funcionários passaram a protagonizar algumas peças para dar proximidade, e o ícone da tecla “play” baseou a programação visual com intenção de deflagrar efetivamente a disseminação.

Na opinião de Daniele Castelo, gerente de Gestão Estratégica da Energisa - que gera e distribui energia para mais de 350 municípios em quatro estados brasileiros, atendendo a seis milhões de clientes, fatores ambientais são determinantes para estabelecer as diferenças de desempenho dos negócios, ao lado das escolhas estratégicas e da excelência na execução. Lembrando que “estratégia é buscar o melhor desempenho possível, gerando valor para vários públicos”, ela acredita que a formulação de tudo inicia pelo traçado do cenário e do estabelecimento de uma modelagem, representada num radar com círculos de tempo onde pontos de oportunidades são alocados. Os mapas são esboçados com a escolha de alternativas e a estruturação da missão, visão e valores que ajudam no entendimento das prioridades. Uma defesa de viabilidades de projetos é outro passo para alocação de verbas, com votação dos gestores dentro de um sistema multicritério. “Afinal, muitas vezes as pessoas planejam e os setores não se falam. Falta a liga do alinhamento e da disciplina”, destaca dentro do desafio de tratar com mais de cinco mil funcionários.

A necessidade de promover transparência em relação a objetivos organizacionais, mesmo numa estrutura bem verticalizada de uma empresa familiar, deve-se à importância da melhora da compreensão do funcionário sobre a contribuição de cada um no alcance das metas corporativas. A atuação tática da comunicação, neste caso, veio em três frentes: comunicar, exercitar e comprometer. “E atenção: toda comunicação, para ter credibilidade, tem que ser feita pelo líder face-a-face”, diz Daniele, com uma atuação sistemática e não pontual. Entre os formatos, estiveram um concurso de frases conceituais na área, que vieram a ilustrar uma campanha interna, e o uso de imagens com os colegas como modelos. O nível médio de escolaridade norteou a linguagem, inclusive na substituição de matérias escritas por diagramas, jogos de caça-palavra, ilustrações e splashs.

Não foi muito diferente para a gerente de Estratégia da Brasilprev, Mariane Bottaro, para quem uma “visão de satélite” é o ponto fundamental explicada como capacidade de enxergar o todo e, ao mesmo tempo, identificar as especificidades de cada área da organização. A estratégia corporativa é desdobrada nos vários níveis de seus mais de 700 colaboradores, com compartilhamento de metas e influência evidente nos resultados. Com um processo de implantação de BSC iniciado em 2004, onde um “jogo de sete acertos” atraiu a atenção da equipe para o tema, ela conta que três anos depois foi criada a figura do “mantenedor”, um profissional responsável em cada área por gerar insumos para acompanhamento da estratégia.


Fonte: Por Rodrigo Cogo - Gerenciador do portal Mundo das Relações Públicas

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Funcionários da Domino´s Pizza postam vídeo no You Tube e são processados

Dois funcionários irresponsáveis imaginam um vídeo “muito engraçado” usando alimentos e toda sorte de escatologia. O cenário é uma cozinha da pizzaria Domino´s. Pronto, está feito o vídeo que mais chamou a atenção da mídia americana na semana passada. Nele, os dois funcionários se divertem enquanto um espirra na comida, entre outras amostras de higiene pessoal. Tudo isso foi postado no you tube no que eles consideraram “uma grande brincadeira”. O vídeo em questão, agora removido do site, foi visto por mais de 930 mil pessoas em apenas dois dias. (o vídeo já foi removido, mas pode ser conferido em trechos nesta reportagem: http://www.youtube.com/watch?v=eYmFQjszaec ) Mas para os consumidores da rede, é uma grande(síssima) falta de respeito. Restou ao presidente a tarefa de “limpar” a bagunça (e a barra da empresa). Há poucos dias, Patrick Doyle, CEO nos EUA, veio a público e respondeu na mesma moeda. No vídeo de dois minutos no You Tube, Doyle ( http://www.youtube.com/watch?v=7l6AJ49xNS