O fenômeno da colaboração pela internet mudou radicalmente as fronteiras do mundo corporativo, a competição nos negócios e a responsabilidade das lideranças. Mas nem todas as empresas enxergam isso claramente, porque ainda existem muitos mitos a serem quebrados. A opinião é do estudioso americano Andrew McAfee, 42 anos, criador do conceito Enterprise 2.0, em 2006, e hoje diretor do centro de negócios digitais do Sloan School of Management do MIT. Autor do recém-lançado Enterprise 2.0: New Collaborative Tools for Your Organization’s Toughest Challenges (“Empresa 2.0: novas ferramentas de colaboração para os desafios mais difíceis da sua organização”), McAfee diz que qualquer companhia pode se beneficiar das chamadas tecnologias de ruptura, e o primeiro passo é ingressar no mundo das redes sociais. McAfee estará no Brasil em abril para um fórum de gestão da HSM.
1. As mudanças geradas pelas novas tecnologias têm sido lentas ou rápidas desde que o senhor criou a expressão Enterprise 2.0, em 2006?
Algumas questões evoluíram rapidamente e outras, vagarosamente. Com a web 2.0, as empresas perderam quase que instantaneamente o controle sobre as suas marcas e sobre como são percebidas no mundo. É impossível controlar o que é dito sobre a companhia. Por outro lado, anda lentamente a mudança na estrutura das empresas, em sua forma de trabalhar e de avaliar o desempenho dos empregados. Acredito que isso mude com o tempo. Muitos executivos são entusiastas da colaboração, pois percebem valor para a empresa. E as companhias inteligentes aproveitarão as facilidades que as novas ferramentas proporcionam, como avaliar a cooperação entre os funcionários e o grau de inovação que esse espírito colaborativo proporciona.
2. Por que empresas resistem a investir nessas tecnologias de ruptura? É medo da transparência?
A transparência é certamente uma das questões que inibem os executivos. Mas uma questão muito importante é abrir mão do controle sobre a mensagem transmitida pela empresa. Com os blogs e os wikis, as empresas deixam de ter apenas um porta-voz e passam a contar com várias pessoas falando livremente sobre a empresa e até em nome da empresa.
3. O senhor afirma que existem ainda muitos mitos a serem quebrados sobre a empresa 2.0. Quais são?
Alguns desses mitos têm a ver com a questão da segurança da informação, que poderia ser afetada pelo mau comportamento dos empregados. É um mito, porque as pessoas têm demonstrado que se comportam adequadamente mesmo com a transparência e a exposição causadas por blogs, wikis e redes sociais. Outro mito é que o grande benefício das novas tecnologias é o maior acesso à informação. Ou seja, a grande vantagem dos wikis seria a informação que eles fornecem. Mas não é isso. O mais relevante na empresa 2.0 não é uma pessoa encontrar informação, mas uma pessoa encontrar outra pessoa que tem um expertise útil para os negócios. A empresa 2.0 não tem como objetivo criar fontes de informação, como grandes enciclopédias. Mas colocar em contato pessoas com interesses em comum.
4. Os aparelhos móveis são o futuro da comunicação e da colaboração nas empresas?
Os aparelhos móveis vão ganhar importância no mundo corporativo, mas não substituirão os computadores, que continuarão oferecendo uma forma muito fácil de obter e de registrar informações, além de permitir a digitação rápida de textos. Nos países em desenvolvimento, onde os computadores e a infraestrutura de banda larga ainda são caros, acredito que os celulares farão a diferença.
5. Os funcionários reclamam de problemas para usar sistemas de web 2.0 oferecidos pelas empresas?
Sim, isso ainda é um problema. Um dos erros que vejo as companhias cometerem é tentar imitar o Facebook, o Orkut ou o Twitter sem levar em conta o tempo de desenvolvimento e de refinamento desses sites. A equipe de programadores nas empresas acaba tendo poucos meses para elaborar algo semelhante, e o resultado são ferramentas difíceis de usar e pouco intuitivas.
6. O e-mail será substituído pelas redes sociais no futuro?
Essa é uma grande questão e, honestamente, não sei. Será muito difícil eliminar o e-mail, porque é um ferramenta valiosa para as pessoas e as empresas. Em muitas delas, é a única forma de comunicação eletrônica com os funcionários. Acredito que o e-mail passará a dividir espaço com as redes sociais, mas não será totalmente substituído.
7. Todos os tipos de empresa devem investir em web 2.0?
Nunca conheci uma empresa 100% satisfeita com os resultados da colaboração, com a quantidade de inovação, com o aproveitamento da energia e da inteligência coletivas. Mas todas certamente melhoraram. Qualquer companhia no mundo pode se beneficiar das novas tecnologias. Uma empresa até pode ignorar esse fato e não investir em blogs, wikis ou redes sociais. Mas, nesse caso, é bom desejar que os concorrentes tomem a mesma decisão e não façam nenhum investimento.
8. Como os gestores podem utilizar as tecnologias para reestruturar a organização e inspirar as pessoas?
Muitos executivos reclamam que estão ocupados demais para participar de redes sociais. Mas aqueles que já escrevem em sites como o Yammer [microblog para empresas] relatam que a iniciativa economiza tempo. Isso porque conseguem transmitir informações importantes e contar as novidades rapidamente. Parte da genialidade do Twitter está no fato de aceitar apenas 140 caracteres. Ou seja, é uma mensagem rápida e que não toma muito tempo.
9. Quais mudanças veremos no modo como as empresas se organizam e são geridas?
Já vemos algumas transformações nas empresas que estão investindo nessas novas tecnologias. Elas estão mais horizontalizadas, e os gestores administram equipes maiores. Um estudo da consultoria McKinsey mostrou um aumento de cerca de 20% nas inovações, além de maior satisfação dos consumidores e dos empregados. Algumas pessoas preveem que, no futuro, não haverá mais hierarquia ou sistemas de gestão como conhecemos hoje, pois ficarão obsoletos. Não acredito nisso. As companhias continuarão precisando gerenciar os negócios, as pessoas, os resultados.
10. Como se preparar para tecnologias de ruptura?
O primeiro passo é o executivo usar as redes sociais e conversar com funcionários jovens sobre a dinâmica desses sites, como e por que eles usam. Não toma tempo e custa nada participar do Orkut, do Twitter ou do Facebook. E, acredite, essa é a forma mais rápida para alguém estrear no mundo da colaboração.
Fonte: Revista Época Negócios
1. As mudanças geradas pelas novas tecnologias têm sido lentas ou rápidas desde que o senhor criou a expressão Enterprise 2.0, em 2006?
Algumas questões evoluíram rapidamente e outras, vagarosamente. Com a web 2.0, as empresas perderam quase que instantaneamente o controle sobre as suas marcas e sobre como são percebidas no mundo. É impossível controlar o que é dito sobre a companhia. Por outro lado, anda lentamente a mudança na estrutura das empresas, em sua forma de trabalhar e de avaliar o desempenho dos empregados. Acredito que isso mude com o tempo. Muitos executivos são entusiastas da colaboração, pois percebem valor para a empresa. E as companhias inteligentes aproveitarão as facilidades que as novas ferramentas proporcionam, como avaliar a cooperação entre os funcionários e o grau de inovação que esse espírito colaborativo proporciona.
2. Por que empresas resistem a investir nessas tecnologias de ruptura? É medo da transparência?
A transparência é certamente uma das questões que inibem os executivos. Mas uma questão muito importante é abrir mão do controle sobre a mensagem transmitida pela empresa. Com os blogs e os wikis, as empresas deixam de ter apenas um porta-voz e passam a contar com várias pessoas falando livremente sobre a empresa e até em nome da empresa.
3. O senhor afirma que existem ainda muitos mitos a serem quebrados sobre a empresa 2.0. Quais são?
Alguns desses mitos têm a ver com a questão da segurança da informação, que poderia ser afetada pelo mau comportamento dos empregados. É um mito, porque as pessoas têm demonstrado que se comportam adequadamente mesmo com a transparência e a exposição causadas por blogs, wikis e redes sociais. Outro mito é que o grande benefício das novas tecnologias é o maior acesso à informação. Ou seja, a grande vantagem dos wikis seria a informação que eles fornecem. Mas não é isso. O mais relevante na empresa 2.0 não é uma pessoa encontrar informação, mas uma pessoa encontrar outra pessoa que tem um expertise útil para os negócios. A empresa 2.0 não tem como objetivo criar fontes de informação, como grandes enciclopédias. Mas colocar em contato pessoas com interesses em comum.
4. Os aparelhos móveis são o futuro da comunicação e da colaboração nas empresas?
Os aparelhos móveis vão ganhar importância no mundo corporativo, mas não substituirão os computadores, que continuarão oferecendo uma forma muito fácil de obter e de registrar informações, além de permitir a digitação rápida de textos. Nos países em desenvolvimento, onde os computadores e a infraestrutura de banda larga ainda são caros, acredito que os celulares farão a diferença.
5. Os funcionários reclamam de problemas para usar sistemas de web 2.0 oferecidos pelas empresas?
Sim, isso ainda é um problema. Um dos erros que vejo as companhias cometerem é tentar imitar o Facebook, o Orkut ou o Twitter sem levar em conta o tempo de desenvolvimento e de refinamento desses sites. A equipe de programadores nas empresas acaba tendo poucos meses para elaborar algo semelhante, e o resultado são ferramentas difíceis de usar e pouco intuitivas.
6. O e-mail será substituído pelas redes sociais no futuro?
Essa é uma grande questão e, honestamente, não sei. Será muito difícil eliminar o e-mail, porque é um ferramenta valiosa para as pessoas e as empresas. Em muitas delas, é a única forma de comunicação eletrônica com os funcionários. Acredito que o e-mail passará a dividir espaço com as redes sociais, mas não será totalmente substituído.
7. Todos os tipos de empresa devem investir em web 2.0?
Nunca conheci uma empresa 100% satisfeita com os resultados da colaboração, com a quantidade de inovação, com o aproveitamento da energia e da inteligência coletivas. Mas todas certamente melhoraram. Qualquer companhia no mundo pode se beneficiar das novas tecnologias. Uma empresa até pode ignorar esse fato e não investir em blogs, wikis ou redes sociais. Mas, nesse caso, é bom desejar que os concorrentes tomem a mesma decisão e não façam nenhum investimento.
8. Como os gestores podem utilizar as tecnologias para reestruturar a organização e inspirar as pessoas?
Muitos executivos reclamam que estão ocupados demais para participar de redes sociais. Mas aqueles que já escrevem em sites como o Yammer [microblog para empresas] relatam que a iniciativa economiza tempo. Isso porque conseguem transmitir informações importantes e contar as novidades rapidamente. Parte da genialidade do Twitter está no fato de aceitar apenas 140 caracteres. Ou seja, é uma mensagem rápida e que não toma muito tempo.
9. Quais mudanças veremos no modo como as empresas se organizam e são geridas?
Já vemos algumas transformações nas empresas que estão investindo nessas novas tecnologias. Elas estão mais horizontalizadas, e os gestores administram equipes maiores. Um estudo da consultoria McKinsey mostrou um aumento de cerca de 20% nas inovações, além de maior satisfação dos consumidores e dos empregados. Algumas pessoas preveem que, no futuro, não haverá mais hierarquia ou sistemas de gestão como conhecemos hoje, pois ficarão obsoletos. Não acredito nisso. As companhias continuarão precisando gerenciar os negócios, as pessoas, os resultados.
10. Como se preparar para tecnologias de ruptura?
O primeiro passo é o executivo usar as redes sociais e conversar com funcionários jovens sobre a dinâmica desses sites, como e por que eles usam. Não toma tempo e custa nada participar do Orkut, do Twitter ou do Facebook. E, acredite, essa é a forma mais rápida para alguém estrear no mundo da colaboração.
Fonte: Revista Época Negócios
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