Problemas de relacionamento são o estopim para 10% dos desligamentos de executivos. Quando usou sua ciência na composição da dinamite, na segunda metade do século XIX, o químico sueco Alfred Nobel não suspeitava da estreita analogia entre o seu invento e o potencial explosivo que algumas relações de trabalho ganhariam, mais de um século depois. Hoje, as diferenças entre estilos e as dificuldades de relacionamento profissionais podem ser tão destrutivas a uma carreira quanto o TNT. Quando não administrada, a falta de química no ambiente de trabalho pode virar nitroglicerina pura, com potencial explosivo para detonar uma trajetória profissional.
Uma prova de que o problema vem se acentuando nos últimos anos consta em pesquisa da DBM Consultoria. Segundo o estudo, a "química" - entendida como os problemas de relacionamento na equipe - aparece como terceiro maior fator para o desligamento de gerentes, superintendentes, diretores, vice-presidentes e presidentes de companhias dos mais diversos portes no Brasil.
À frente da química, apenas os processos de reestruturação, fusões e aquisições (responsáveis por 54%) e de redução de quadro (16% do total). "As pessoas tratam como normais os desligamentos motivados por ausência de química, mas trata-se de um custo muito elevado, tanto para as empresas quanto para os profissionais perderem seus laços por conta de um item que poderia ser gerenciado", avalia o presidente da DBM Brasil e América Latina, Marcelo Cardoso.
Segundo ele, as empresas precisam buscar soluções rápidas para o problema, sob pena de sofrerem prejuízos, entre eles a perda de bons profissionais. "As migrações causadas por reestruturações, fusões ou necessidade de corte são muitas vezes motivadas por fatores externos, que não podem ser administrados pela companhia. Mas, no caso da química, há possibilidade de monitorar melhor o relacionamento entre executivos e time para evitar perdas desnecessárias de talentos", afirma o consultor.
Conforme o headhunter Robert Wong, sócio-diretor da P&L e Robert Wong Consultores Associados, da mesma forma que as empresas saem perdendo, os profissionais também correm o risco de que a falta de química culmine de maneira negativa para eles mesmos. "Quando há química positiva, a situação pode ser boa para todos. Mas quando não há, isso pode ou não prejudicar o trabalho."
Na opinião do consultor, o comportamento do profissional diante da falta de compatibilidade será determinante para o desfecho da situação. "Dependerá da atitude tomada. Se for positiva, cria-se uma oportunidade de melhoria. Se for negativa, cria-se um problema", assegura.
Segundo Wong, quando detectar a falta de química, especialmente, com um superior hierárquico, o profissional deve tentar minimizar a situação. Para isso, precisará de habilidades como auto-estima e auto-crítica. "Temos uma série de inseguranças, como a vontade de querer agradar o chefe. Precisamos de auto-validação. Não trabalhamos para o chefe. Trabalhamos para a empresa, para o cliente, para a obtenção de resultados."
Por esta ótica, explica o consultor, a dedicação ainda maior ao cumprimento das tarefas pode ser positiva, transformando o limão da falta de compatibilidade em uma limonada - o melhor desempenho profissional. "É preciso focar no resultado. Não posso controlar a variação do dólar, a flutuação do câmbio. Só posso cuidar das minhas atitudes. Fazendo isso, posso aproveitar bem as oportunidades profissionais."
Apontar a química como fator para algum possível insucesso, segundo o consultor, é como culpar o outro pelo problema. "Se a gente deixar que isso nos afete, isso vai nos afetar. E aí cai na situação que, eventualmente, o chefe pode querer: a gente deixa de ser comprometido, não se mostra tão interessado e dá razões para uma possível demissão."
A consultora sênior da Carrer Center, Mara Turolla, afirma que a incompatibilidade com os superiores é das situações mais determinantes para a saída dos profissionais. "As pessoas entram por causa da empresa e saem por causa do chefe. Mas se o chefe é bom, mesmo quando não satisfeitas com a empresa, elas podem até continuar."
Segundo ela, para evitar futuros problemas com a química, depois de participar de uma entrevista de emprego, o profissional deve avaliar bem se aceita ou não o cargo, com base no que conseguiu perceber durante o primeiro contato. "O processo de seleção é meio artificial, com os dois lados tentando mostrar o seu melhor. Esse intangível deve ser analisado desde o começo. Se o estilo da empresa ou do chefe for muito diferente, o profissional deve pensar muito bem se vale a pena aceitar o trabalho"
Mas a química não pode ser apenas um fator de desligamento. Ao contrário. Pode resultar em parcerias duradouras e produtivas. Quando atuava na Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró-Genéricos), a executiva Vera Valente levou algum tempo até encontrar a profissional que buscava para ocupar um cargo técnico, cujas atribuições interferiam diretamente em seu posto de diretora executiva. A dificuldade persistiu até a seleção de Katherine Ruas para a função.
Segundo Vera, a consistência e a firmeza de Katherine nas respostas foram fundamentais para a escolha. "Tem essa coisa do primeiro contato, de ver como a pessoa olha no seu olho. Foi um pouco de ‘olho no olho’ e de confiar no que ela estava falando. Uma coisa é o que está no currículo, outra é quando começa o trabalho. Mas geralmente essa primeira impressão se confirma comigo."
E a executiva, que em fevereiro assumiu a presidência da Prevsaúde, garante não ter se enganado. Há cerca de um mês, com a saída de Katherine da Pró-Genéricos, contratou a fiel escudeira como gerente de relacionamento com a rede de farmácias. "Temos uma boa forma de trabalhar juntas. Preciso de uma pessoa em que possa confiar e que arregace as mangas comigo, faça tudo bem alinhado e dentro do mesmo foco. Se a pessoa for só técnica, não adianta. Precisa transformar o conhecimento em ação."
Na opinião de Cardoso, da DBM, a diferença de perfis, bastante comum nas corporações atuais, pode ser um fator positivo, evidentemente, quando bem gerenciada. "Realmente, é um luxo caríssimo deixar que a química seja uma barreira para a formação de melhores times. É da diferença entre os perfis dos integrantes de um time que nasce um grupo capaz de dar resultados sustentáveis", reflete.
Estudo complementar da DBM apontou a valorização crescente no mercado de profissionais com competências como a aptidão para estabelecer relações adultas e saudáveis e a capacidade de persuasão e criação de elos psicológicos com os times. Conforme o levantamento, profissionais que conquistam um novo trabalho de forma mais rápida são os que mostram habilidades como extroversão, independência, capacidade de resolução, de controle e de adaptação. "Muitas companhias já vêm sentindo a iminência de um ‘apagão de talentos’ e, por isso, começam a atuar para minimizar o problema de relacionamento", afirma Cardoso.
Kicker: É desperdício deixar que as dificuldadesde relacionamento sejam uma barreira à formação dos melhores times, aponta consultor
Kicker2: Se a atitude diante do conflito for positiva, criam-se oportunidadesde melhoria. Mas se for negativa, criam-se problemas
Fonte: Por Marcelo Monteiro, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 9
Uma prova de que o problema vem se acentuando nos últimos anos consta em pesquisa da DBM Consultoria. Segundo o estudo, a "química" - entendida como os problemas de relacionamento na equipe - aparece como terceiro maior fator para o desligamento de gerentes, superintendentes, diretores, vice-presidentes e presidentes de companhias dos mais diversos portes no Brasil.
À frente da química, apenas os processos de reestruturação, fusões e aquisições (responsáveis por 54%) e de redução de quadro (16% do total). "As pessoas tratam como normais os desligamentos motivados por ausência de química, mas trata-se de um custo muito elevado, tanto para as empresas quanto para os profissionais perderem seus laços por conta de um item que poderia ser gerenciado", avalia o presidente da DBM Brasil e América Latina, Marcelo Cardoso.
Segundo ele, as empresas precisam buscar soluções rápidas para o problema, sob pena de sofrerem prejuízos, entre eles a perda de bons profissionais. "As migrações causadas por reestruturações, fusões ou necessidade de corte são muitas vezes motivadas por fatores externos, que não podem ser administrados pela companhia. Mas, no caso da química, há possibilidade de monitorar melhor o relacionamento entre executivos e time para evitar perdas desnecessárias de talentos", afirma o consultor.
Conforme o headhunter Robert Wong, sócio-diretor da P&L e Robert Wong Consultores Associados, da mesma forma que as empresas saem perdendo, os profissionais também correm o risco de que a falta de química culmine de maneira negativa para eles mesmos. "Quando há química positiva, a situação pode ser boa para todos. Mas quando não há, isso pode ou não prejudicar o trabalho."
Na opinião do consultor, o comportamento do profissional diante da falta de compatibilidade será determinante para o desfecho da situação. "Dependerá da atitude tomada. Se for positiva, cria-se uma oportunidade de melhoria. Se for negativa, cria-se um problema", assegura.
Segundo Wong, quando detectar a falta de química, especialmente, com um superior hierárquico, o profissional deve tentar minimizar a situação. Para isso, precisará de habilidades como auto-estima e auto-crítica. "Temos uma série de inseguranças, como a vontade de querer agradar o chefe. Precisamos de auto-validação. Não trabalhamos para o chefe. Trabalhamos para a empresa, para o cliente, para a obtenção de resultados."
Por esta ótica, explica o consultor, a dedicação ainda maior ao cumprimento das tarefas pode ser positiva, transformando o limão da falta de compatibilidade em uma limonada - o melhor desempenho profissional. "É preciso focar no resultado. Não posso controlar a variação do dólar, a flutuação do câmbio. Só posso cuidar das minhas atitudes. Fazendo isso, posso aproveitar bem as oportunidades profissionais."
Apontar a química como fator para algum possível insucesso, segundo o consultor, é como culpar o outro pelo problema. "Se a gente deixar que isso nos afete, isso vai nos afetar. E aí cai na situação que, eventualmente, o chefe pode querer: a gente deixa de ser comprometido, não se mostra tão interessado e dá razões para uma possível demissão."
A consultora sênior da Carrer Center, Mara Turolla, afirma que a incompatibilidade com os superiores é das situações mais determinantes para a saída dos profissionais. "As pessoas entram por causa da empresa e saem por causa do chefe. Mas se o chefe é bom, mesmo quando não satisfeitas com a empresa, elas podem até continuar."
Segundo ela, para evitar futuros problemas com a química, depois de participar de uma entrevista de emprego, o profissional deve avaliar bem se aceita ou não o cargo, com base no que conseguiu perceber durante o primeiro contato. "O processo de seleção é meio artificial, com os dois lados tentando mostrar o seu melhor. Esse intangível deve ser analisado desde o começo. Se o estilo da empresa ou do chefe for muito diferente, o profissional deve pensar muito bem se vale a pena aceitar o trabalho"
Mas a química não pode ser apenas um fator de desligamento. Ao contrário. Pode resultar em parcerias duradouras e produtivas. Quando atuava na Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró-Genéricos), a executiva Vera Valente levou algum tempo até encontrar a profissional que buscava para ocupar um cargo técnico, cujas atribuições interferiam diretamente em seu posto de diretora executiva. A dificuldade persistiu até a seleção de Katherine Ruas para a função.
Segundo Vera, a consistência e a firmeza de Katherine nas respostas foram fundamentais para a escolha. "Tem essa coisa do primeiro contato, de ver como a pessoa olha no seu olho. Foi um pouco de ‘olho no olho’ e de confiar no que ela estava falando. Uma coisa é o que está no currículo, outra é quando começa o trabalho. Mas geralmente essa primeira impressão se confirma comigo."
E a executiva, que em fevereiro assumiu a presidência da Prevsaúde, garante não ter se enganado. Há cerca de um mês, com a saída de Katherine da Pró-Genéricos, contratou a fiel escudeira como gerente de relacionamento com a rede de farmácias. "Temos uma boa forma de trabalhar juntas. Preciso de uma pessoa em que possa confiar e que arregace as mangas comigo, faça tudo bem alinhado e dentro do mesmo foco. Se a pessoa for só técnica, não adianta. Precisa transformar o conhecimento em ação."
Na opinião de Cardoso, da DBM, a diferença de perfis, bastante comum nas corporações atuais, pode ser um fator positivo, evidentemente, quando bem gerenciada. "Realmente, é um luxo caríssimo deixar que a química seja uma barreira para a formação de melhores times. É da diferença entre os perfis dos integrantes de um time que nasce um grupo capaz de dar resultados sustentáveis", reflete.
Estudo complementar da DBM apontou a valorização crescente no mercado de profissionais com competências como a aptidão para estabelecer relações adultas e saudáveis e a capacidade de persuasão e criação de elos psicológicos com os times. Conforme o levantamento, profissionais que conquistam um novo trabalho de forma mais rápida são os que mostram habilidades como extroversão, independência, capacidade de resolução, de controle e de adaptação. "Muitas companhias já vêm sentindo a iminência de um ‘apagão de talentos’ e, por isso, começam a atuar para minimizar o problema de relacionamento", afirma Cardoso.
Kicker: É desperdício deixar que as dificuldadesde relacionamento sejam uma barreira à formação dos melhores times, aponta consultor
Kicker2: Se a atitude diante do conflito for positiva, criam-se oportunidadesde melhoria. Mas se for negativa, criam-se problemas
Fonte: Por Marcelo Monteiro, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 9
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