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As novas competências

Imaginação e criatividade estão muito interligadas na visão popular. É comum ouvirmos alguém associando as duas ou sinonimizando-as, quando atribui "extrema imaginação" a quem dá provas de criatividade. Na realidade, a capacidade de "imaginar" substancia o pensamento criativo, mas "imaginar" não é "ter pensamento criativo"; é meio, não é fim.

Para imaginar, a mente se serve aleatóriamente dos seus registros e processa-os sem nenhum critério; para ter "pensamentos criativos" esse processamento é criterioso apesar do princípio ser também aleatório. Melhor explicando: qualquer um de nós pode imaginar coisas sem o menor sentido e que logo se dissiparão sem deixar resíduos. No pensamento criativo, também podemos imaginar coisas sem sentido, mas que deixarão resíduo lógico.

Thomas Edison costumava deixar os pensamentos vagarem à vontade sempre que se detinha diante de um problema de difícil solução. Tinha por hábito até mesmo tirar uma soneca para que o cérebro, livre de qualquer interferência, pudesse processar tudo sem o controle da razão. Vendo os resultados práticos que obteve, somos forçados a admitir que aquele método tinha sua funcionalidade.

Ocorre, entretanto, que o cérebro não processa o que não sabe. Se a pessoa não conhece absolutamente nada sobre física nuclear, não adianta. Por mais soneca que tire, não vai ter pensamento criativo algum. Imaginar, até que pode, porém, não restará qualquer resíduo satisfatório.

Sabemos que "criatividade" é um modo de pensar, da mesma forma como sabemos que o pensamento se dá em cima de registros (informações). Ninguém consegue pensar sobre o que não sabe. Imaginem uma situação onde alguém sugere a um grupo que estude uma forma de melhorar a tecnologia dos noetes. Ora, se ninguém souber o que é noete, por mais criativo que seja o grupo não haverá solução. Em tempo: noete é aquele rodízio onde se reúnem as varetas do guarda-chuva.

Por este motivo, a qualificação da informação é fundamental para fomentar a criatividade. E por isso, também, é fundamental despertar interesse específico. Pelo interesse a pessoa adquire quantidade de informação que então processa gerando registros qualitativos. E isso é o alicerce do pensamento criativo.

Há um conceito social que associa o bom humor à inteligência e, pelos exemplos e experiência que temos, não há como contestar. De fato, pessoas bem-humoradas são naturalmente inteligentes enquanto os tacanhos e macambúzios demonstram quase sempre uma certa dificuldade para entender as coisas do mundo. Há pessoas que entendem piadas mais rapidamente do que outras. Só que essa velocidade para "captar" a piada é naturalmente a mesma para "captar e processar" as demais informações. Essa velocidade é chamada de inteligência.

Se a pessoa tem registros mentais suficientes para dar várias versões para a mesma informação, e uma delas é bem-humorada, fica caracterizada uma situação de amplitude intelectual. Se, no entanto, tem poucos registros e por isso não consegue produzir versões imediatas, terá poucas chances de manifestar o seu espírito criativo. Por isso não é errado afirmar-se que o bom humor é decorrente, em grande parte, do nível de inteligência. Exceto problemas de ordem emocional ou física, nada além da ignorância justifica o mau humor. Assim:

- Demonstrar bom humor é evidenciar inteligência;
- Reunir uma quantidade suficientemente grande de informações pertinentes a determinado assunto é o mesmo que prover o espírito de tranqüilidade e segurança nas relações interpessoais, condições inerentes à imagem dos bem-humorados;

O mau humorado pode assim o ser por ignorância (falta de registros ou inabilidade para processar esses registros) ou por problemas orgânicos. Calo no joanete, por exemplo, afeta o bom humor de qualquer cristão. Não consideramos, evidentemente, casos de desvios de personalidade ou problemas neurológicos. Aí é caso para psiquiatra e não para profissional de neurolingüística.


Fonte: Por Elson Teixeira, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 9

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