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Alto escalão demora para dar resultado

A contratação equivocada de um executivo pode sair muito caro para a empresa. Estudos apontam que o custo de uma falha no processo chega a US$ 2,7 milhões, em média. Conforme estimativas, um gerente sênior leva mais de meio ano até atingir o "break-even", ou seja, o ponto em que sua colaboração para a empresa ultrapassa os investimentos feitos na sua contratação. Além disso, cerca de 40% dos líderes recém-contratados falham nos primeiros 18 meses de companhia.

Todas estas estatísticas levaram as consultorias em recursos humanos a desenvolverem ferramentas específicas, com o objetivo de acelerar o desempenho de novos executivos seniores. O chamado "onboarding" é um processo que mistura os tradicionais programas de orientação de novos funcionários a técnicas de socialização. "O onboarding tem crescido muito rápido nos últimos dois anos nos Estados Unidos e acreditamos que em breve será um dos aspectos mais importantes no treinamento de executivos", comenta Kevin Cashman, fundador e presidente da norte-americana LeaderSource, adquirida recentemente pela Korn/Ferry International - uma das maiores consultorias do mundo, em entrevista exclusiva à Gazeta Mercantil.

Segundo ele, o onboarding é focado no desenvolvimento do executivo, melhorando sua adaptação à companhia, seu trânsito na equipe de trabalho e na empresa como um todo. Com a ferramenta, é possível construir relações em todos os níveis (para cima, para baixo, para os lados) mais rapidamente, formar equipes eficazes, ouvir ativamente, desenvolver estratégias e obter sucessos mais rápidos. "O onboarding visa desbravar todo o ambiente das empresas. Não só conhecer, mas se integrar de fato, a partir de uma dinâmica de relações humanas, pessoal e interpessoal, em oposição ao processo tradicional de assimilação da cultura. Ou seja: vai além de assimilação e orientação, em um processo de coaching de alta performance."

A melhor aplicação da ferramenta, conforme Cashman, visa desenvolver o potencial dos profissionais nos quais a empresa aposta que realmente possam ter bons resultados, e não sanar eventuais falhas de desempenho. "Usar o treinamento para resolver problemas era uma tendência antigamente. Mas a utilização do processo nas empresas mais bem-sucedidas, ao contrário, visa desenvolver executivos com alto potencial, ajudando-os a obter mais resultados - e não corrigir problemas de performance."

Colunista da revista Forbes e autor do livro Leadership from the inside out, sucesso de vendas nos Estados Unidos, Cashman atua há mais de 30 anos no mercado de treinamento executivo. Segundo ele, um estudo da Texas Instruments mostrou que os executivos que passaram pelo onboarding atingem a esperada "produtividade total" dois meses antes dos demais.

A aplicação do onboarding em empresas norte-americanas também garantiu o aumento do engajamento dos profissionais. De acordo com os dados da Texas Instruments, os executivos que participaram do programa têm 69% mais chances de ficar na companhia depois de três anos de atuação. A empresa Hunter Douglas, por exemplo, detectou uma redução na taxa de rotatividade de 70% para 16%, em seis meses. "O onboarding ajuda a atrair um executivo, mas também se tornou um diferencial na retenção de profissionais, pois os ajuda a atingir o sucesso e entender as necessidades da companhia mais rapidamente", diz Cashman.

Uma pesquisa feita pela Korn/Ferry com mais de 17 mil empresas no mundo todo constatou que, em média, 42% das companhias não conseguem encontrar os talentos que precisam. Os índices mais altos foram detectados no México (90%) e na Costa Rica (92%). "Na América Latina é muito difícil encontrar o talento ideal para uma empresa, quando se compara ao resto do mundo. Por isso, é essencial para essas empresas reterem os talentos, evitando perdê-los logo nos 12 primeiros meses", diz Cashman.

Desta forma, o onboarding pode desempenhar papel essencial na manutenção de líderes nas companhias. O percentual de empresas que não aplicavam (ou planejavam aplicar) o onboarding nos Estados Unidos caiu de 60% (em 2005) para 24% (em 2006). "A ferramenta tem foco no esforço contínuo de recrutamento e atração do profissional, mesmo depois dele ter entrado. A empresa continua tentando atrair o executivo por seis a 12 meses, o que aumenta a possibilidade dele ficar."

O consultor diz que, para as companhias, mais do que a própria melhoria no desempenho dos executivos, a aplicação do onboarding pode significar uma economia com a reposição de profissionais desertores. "Há um custo gigantesco envolvido na perda do talento (contratação, desenvolvimento, etc) e o próprio custo de achar o seu substituto. Isso é muito caro", conclui Cashman.


Fonte: Por Marcelo Monteiro, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 9

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