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Engajar ou morrer na praia

No meio empresarial preocupado com o destino dos negócios, está em voga uma expressão nascida na língua inglesa que pretende traduzir um processo cada vez mais crucial para as organizações: o "engajamento das partes interessadas", ou stakeholder engagement.

Trata-se tanto da disposição quanto do esforço, por parte de empresas e instituições, em aproximar-se de indivíduos ou grupos que, de uma ou de outra forma, são ou podem ser por elas afetados, e de cuja boa vontade (good will) elas dependem para alcançar seus objetivos, sejam estes sucesso nos negócios, relacionamentos construtivos ou êxitos políticos, entre outros.

Associado ao conceito de engajamento está um outro, relativamente novo, o da "licença social para operar", que os descomprometidos com o politicamente correto resumem em "licença para lucrar".

Pois a idéia é exatamente essa: para tocar o negócio, e obter o retorno financeiro necessário para continuar na praça, no novo cenário não bastam as licenças tradicionais — regulatórias, ambientais e outras. Há que contar com o aval da sociedade, representada por interlocutores como ONGs, sindicatos, associações de bairro, paroquiais e outros.


Mas, por que "engajamento"?
No excelente Dicionário Houaiss da língua portuguesa, é somente em sua quarta acepção que a palavra tem o sentido mais próximo do desejado por aqueles que adotaram a tradução literal do original em inglês: "participação ativa em assuntos e circunstâncias de relevância política e social, passível de ocorrer por meio de manifestação pública, de natureza teórica, artística ou jornalística, ou em atividade prática no interior de grupos organizados, movimentos, partidos etc.".

Antes disso, como terceira acepção, o registro do sentido figurado do vocábulo pode até comprometer as melhores intenções — "aliciamento de adeptos para uma causa" —, o que não é o caso.

Já no inglês, a coisa se complica um pouco mais, visto que o verbo (to engage) associado ao termo tem sentidos os mais diversos, inclusive o de "travar combate com", que é justo o inverso do que pretendem os agentes do processo em pauta.

Mais simples é qualificar o engajamento como ouvir, entender e buscar pontos afins, tendo em vista harmonizar interesses diferentes. Sempre na convicção — ou constatação — de que vivemos numa teia de interdependências.

Seja com e partindo de quem for, o que se pretende é, abrindo mão do pensamento único e de posições entrincheiradas, ir "às bases" e tratar de chegar a um entendimento, a um relacionamento construtivo. Que passa, é claro, por concessões, as quais nem todo negociador, independentemente da parte que represente, está disposto a fazer — mesmo que a um custo muito alto. Um custo que, pelo lado do empreendedor, pode chegar ao fracasso de um projeto ao qual foram dedicados sonhos, trabalho, recursos financeiros e materiais.

Entre engajar ou morrer na praia, melhor — e, em todos os sentidos, mais econômico — é prevalecerem o bom senso e o diálogo, seja qual for a natureza do empreendimento ou o ambiente onde ele opera.

Afinal, nesses tempos de reordenamento dos fatores geopolíticos que fazem o mundo dos negócios girar, com a emergência de novos e importantes atores, tendo como grande pano de fundo as mudanças climáticas globais, todo e qualquer pensamento sobre o futuro é naturalmente pontilhado de interrogações. E todas as partes são interessadas.



Fonte: Por Luiz Fernando Brandão - gerente de comunicação corporativa da Aracruz Celulose, in www.aberje.com.br

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