Em menos de uma década, a palavra startup saiu do
desconhecido para ocupar uma posição consolidada no senso comum de muita gente.
Quando se fala em digital, tecnologia ou empreendedorismo, você certamente vai
cruzar com o conceito que engloba as empresas em estágio inicial. Criadoras de
soluções e facilidades, elas têm alterado as relações socioeconômicas, mas,
agora, começamos a ver os problemas sofridos por esse modelo.
Como uma reação tardia à feroz (e por vezes cega)
difusão das startups, cada vez mais se pergunta: qual o verdadeiro significado
desse movimento? Por trás de tantos ganhos e vantagens que essas empresas
sustentam em seus discursos, onde é que estão as perdas? Elas prosperam em um
ambiente verdadeiramente sustentável? Será que lá na frente vamos poder dizer
que entre mortos e feridos, salvaram-se todos?
Muitas das questões só serão respondidas com o
passar do tempo, mas, como sempre, a história nos permite esboçar algumas
conclusões. A primeira delas é que certas rupturas, de fato, já foram
consolidadas. Alguns projetos que se apoiam no "sharing economy"
(economia compartilhada) confirmam que a criatividade, o compartilhamento, a
colaboração e a sustentabilidade de fato impulsionam a uma revisão de processos,
instituições e tradições constituídas. Por exemplo o Airbnb, que revolucionou o
processo de ocupação de domicílios e o Uber, mudando a cara do transporte
público.
Do outro lado, há um mar de casos de insucesso,
cujas histórias são varridas para debaixo do tapete como se fosse essencial
esquecer deles (e cujos responsáveis, curiosamente, agora são coach e
palestrantes de auto ajuda).
A HomeJoy, por exemplo, que intermediava trabalho
doméstico nos Estados Unidos da mesma forma como o Helpling o faz no Brasil.
Promoveu ruptura, mas não conseguiu seguir com as tão necessárias injeções de
dinheiro e, por isso, fechou as portas. Entre as justificativas que levaram o
projeto ao fracasso está a falta de respaldo jurídico e o receio de que a
startup tivesse que assumir vínculos empregatícios com seus colaboradores.
Chega-se, portanto, à pergunta: quem vai vencer?
Como aconteceu na bolha da internet, algumas
novidades terão vida longa e baterão de frente com empresas tradicionais. A
grande maioria não vai suportar o rigoroso inverno, pois já nasceu velha,
frágil e inadequada. É fundamental que o empreendedor brasileiro saiba
exatamente o tamanho, a profundidade e a escuridão do buraco em que está se
enfiando antes de se jogar de cabeça.
O primeiro ponto a se pensar bem quando se fala de
startups brasileiras é que, até agora, ninguém sabe ao certo como ganhar
dinheiro com elas. Todo mundo acha que ter participação numa empresa é como
comprar ações do Facebook quando ele era pequeno - você investe mil reais e
tira um bilhão de volta. Só que no Brasil são raríssimos os casos de startups
que foram vendidas por valores altos e que retornaram uma quantia significativa
para o investidor.
Além disso, dificilmente um acionista vai ganhar
dinheiro só com dividendos (distribuição de lucros), uma vez que a grande
maioria dos projetos necessita de constante alavancagem. Ou seja, a receita que
entra é usada para continuar acelerando o negócio. Pelo menos enquanto ele se
mostrar viável.
Há milhares de investidores de primeira viagem que
ganhariam muito mais aplicando seu dinheiro na poupança do que na loteria das
startups.
Outro ponto preocupante é a qualidade das empresas.
Às vezes a ideia e o produto são bons, mas a
administração é temerária e, na grande maioria, a necessidade e a procura pelo
produto (normalmente aplicativos) é inexistente ou já existem competidores
internacionais muito melhores.
São raros os casos de bons administradores, bem
assessorados, com bons investidores (que não só tem dinheiro, mas conhecem a
área em que se metem) e com bons produtos. O que há muito é gente dando murro
em ponto de faca até que o dinheiro da empresa se esgota e o empreendedor
precisa se socorrer com familiares e amigos para continuar seu sonho, que nessa
fase já é um pesadelo. E perde-se muito dinheiro sustentando essas ilusões.
O Brasil não tem (ainda) um impacto internacional
relevante na área de tecnologia. Assim, empresas brasileiras de tecnologia tem
que se provar mais do que empresas de outros países. Além disso, a cultura
empresarial brasileira ainda é vista sob certa desconfiança no cenário
internacional. Vide o constante desaparecimento de aceleradoras e investidores
internacionais no país.
E por último, muito se ouve nesse mundo de startups
que todos falham e que isso não é problema, que você não só pode, como deve
quebrar uma, duas, três vezes até alcançar o sucesso. Só que é importante saber
que nem sempre o fracasso é um degrau na escalada para o sucesso, às vezes ele
é só mais uma passo em direção ao abismo.
Fonte: Por Pedro Schaffa
- sócio-fundador da SBAC Advogados, escritório de advocacia que fornece soluções
jurídicas para startups, disponível em http://boo-box.link/22A24
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