Suspiramos pelo privilégio de comandar equipes de alto rendimento, com iniciativa e criatividade para encontrar soluções novas. No entanto, quando isso acontece, muitas vezes não sabemos como liderá-las e motivá-las. Para administrar com sucesso, a primeira coisa que devemos lembrar é que as pessoas realmente criativas são raras e constituem uma raça à parte. Têm os próprios códigos de valores e sensibilidade à flor da pele. Em compensação, são emocionalmente frágeis. Já vimos marmanjos de dois metros de altura se partirem ao meio, como se fossem de vidro.
Ao longo de minha vida profissional liderei equipes de todos os tipos: grupos de planejamento e criação nas agências de propaganda, equipes de desenvolvimento de novos produtos, especialistas de marketing, consultores e professores. Em meio a tanta diversidade, havia no entanto um traço em comum - eram, quase todos, individualistas, questionadores e freqüentemente imprevisíveis. Todas essas categorias profissionais têm um elemento histriônico em sua natureza - enxergam o que os outros não vêem, mas tropeçam no primeiro buraco da calçada. De certa forma, são todos artistas, tanto quanto um jovem arquiteto criador ou um jogador de vôlei.
Não é fácil liderar essas equipes, mas quando o conseguimos podemos obter resultados extraordinários. É o que está acontecendo, por exemplo, com nossa seleção masculina de vôlei, liderada por esse técnico excepcional que é Bernardinho. Em suas mãos, um grupo heterogêneo de craques (a maioria jogando na Europa) transformou-se em um time vencedor, que coleciona títulos mundiais há vários anos. A equipe é liderada com uma competência de fazer inveja, e creio que as empresas teriam muito a aprender observando os métodos de Bernardinho. Veja abaixo alguns ensinamentos que podemos obter de seu trabalho:
>>> 1. A mística da vitória Todo time vencedor entra em campo confiante na vitória, e isso vale também para planejadores, professores, consultores ou gerentes de produtos. Diferentemente do que dizem os manuais de auto-ajuda, o importante mesmo é vencer. Cabe ao líder desfraldar uma causa, a bandeira que todos empunharão, como os porta-estandartes dos antigos exércitos. No mundo dos negócios, isso corresponde aos valores da cultura empresarial e aos objetivos estratégicos. De certa forma, o presente é determinado pelos sonhos do futuro.
>>> 2. Uma equipe aberta às mudanças Quem acompanha a performance da seleção de vôlei sabe que o estilo de jogo e as táticas empregadas se renovam praticamente todos os anos. Não creio que essas inovações saiam todas da cabeça do Bernardinho. O clima de discussão aberta que existe na seleção faz com que as idéias novas brotem de todos os jogadores e membros da comissão técnica. Mas cabe a Bernardinho, naturalmente, a tarefa de abrir novos caminhos e escolher as melhores idéias.
>>> 3. As decisões são solidárias, mas solitárias Não resta dúvida sobre quem manda no time. Bernardinho tem carta branca da confederação, com a autoridade correspondente à sua responsabilidade. Sabe-se que a comissão técnica tem até psicólogos e especialistas em TI, mas depois de ouvi-los cabe ao técnico a decisão final. O caso do levantador Ricardinho é sintomático. Ele tentou instaurar uma "democracia corintiana" na equipe e foi imediatamente afastado.
>>> 4. Disciplina tática Assistir aos jogos da seleção faz bem ao espírito. É uma sucessão contínua de jogadas ensaiadas em que cada jogador realiza a sua parte, contribuindo para o êxito do conjunto. Exatamente como deve ser nos times vencedores no mundo dos negócios.
>>> 5. Unidade na diversidade Bernardinho sabe muito bem que lida com personalidades individualistas, vaidosas e preocupadas com as próprias carreiras. Seus homens são muito diferentes entre si, e essas diferenças devem ser respeitadas, para evitar a "unanimidade burra" de que falava Nelson Rodrigues. No entanto, é preciso construir a unidade a partir dessa diversidade. É indispensável que todos comunguem dos mesmos valores, de tal forma que a vitória seja sempre da equipe. Os jogadores da retaguarda, que nunca dão uma cortada, vibram com cada ponto conquistado pelos gigantes que estão na rede. Essas lições valem para todos aqueles que têm a responsabilidade de administrar e liderar. Mas se aplicam principalmente aos setores de serviços, atividades criativas e de relacionamento, onde o fator humano é essencial. Nessas equipes, de alto rendimento, o problema maior consiste em fazê-las render tudo de que são capazes.
>>> Epílogo Em dezembro, o time brasileiro conquistou mais um campeonato mundial, no Japão. Na partida decisiva, contra os russos, nosso talento superou o vigor físico dos adversários, lembrando a briga das pequenas empresas contra os concorrentes maiores. Na verdade, vencemos o jogo porque soubemos explorar os pontos fracos dos oponentes. Nossa comissão técnica dedicou certamente horas intermináveis ao estudo do estilo de jogo dos russos e, a partir daí, desenvolveu as táticas aplicadas por nossos jogadores. É apenas um lembrete de que a verdadeira inspiração brota da transpiração. Ou, como sugere Bernardinho no título de seu livro, é do suor que nasce o ouro.
Fonte: Por Francisco Gracioso, in epocanegocios.globo.com
Ao longo de minha vida profissional liderei equipes de todos os tipos: grupos de planejamento e criação nas agências de propaganda, equipes de desenvolvimento de novos produtos, especialistas de marketing, consultores e professores. Em meio a tanta diversidade, havia no entanto um traço em comum - eram, quase todos, individualistas, questionadores e freqüentemente imprevisíveis. Todas essas categorias profissionais têm um elemento histriônico em sua natureza - enxergam o que os outros não vêem, mas tropeçam no primeiro buraco da calçada. De certa forma, são todos artistas, tanto quanto um jovem arquiteto criador ou um jogador de vôlei.
Não é fácil liderar essas equipes, mas quando o conseguimos podemos obter resultados extraordinários. É o que está acontecendo, por exemplo, com nossa seleção masculina de vôlei, liderada por esse técnico excepcional que é Bernardinho. Em suas mãos, um grupo heterogêneo de craques (a maioria jogando na Europa) transformou-se em um time vencedor, que coleciona títulos mundiais há vários anos. A equipe é liderada com uma competência de fazer inveja, e creio que as empresas teriam muito a aprender observando os métodos de Bernardinho. Veja abaixo alguns ensinamentos que podemos obter de seu trabalho:
>>> 1. A mística da vitória Todo time vencedor entra em campo confiante na vitória, e isso vale também para planejadores, professores, consultores ou gerentes de produtos. Diferentemente do que dizem os manuais de auto-ajuda, o importante mesmo é vencer. Cabe ao líder desfraldar uma causa, a bandeira que todos empunharão, como os porta-estandartes dos antigos exércitos. No mundo dos negócios, isso corresponde aos valores da cultura empresarial e aos objetivos estratégicos. De certa forma, o presente é determinado pelos sonhos do futuro.
>>> 2. Uma equipe aberta às mudanças Quem acompanha a performance da seleção de vôlei sabe que o estilo de jogo e as táticas empregadas se renovam praticamente todos os anos. Não creio que essas inovações saiam todas da cabeça do Bernardinho. O clima de discussão aberta que existe na seleção faz com que as idéias novas brotem de todos os jogadores e membros da comissão técnica. Mas cabe a Bernardinho, naturalmente, a tarefa de abrir novos caminhos e escolher as melhores idéias.
>>> 3. As decisões são solidárias, mas solitárias Não resta dúvida sobre quem manda no time. Bernardinho tem carta branca da confederação, com a autoridade correspondente à sua responsabilidade. Sabe-se que a comissão técnica tem até psicólogos e especialistas em TI, mas depois de ouvi-los cabe ao técnico a decisão final. O caso do levantador Ricardinho é sintomático. Ele tentou instaurar uma "democracia corintiana" na equipe e foi imediatamente afastado.
>>> 4. Disciplina tática Assistir aos jogos da seleção faz bem ao espírito. É uma sucessão contínua de jogadas ensaiadas em que cada jogador realiza a sua parte, contribuindo para o êxito do conjunto. Exatamente como deve ser nos times vencedores no mundo dos negócios.
>>> 5. Unidade na diversidade Bernardinho sabe muito bem que lida com personalidades individualistas, vaidosas e preocupadas com as próprias carreiras. Seus homens são muito diferentes entre si, e essas diferenças devem ser respeitadas, para evitar a "unanimidade burra" de que falava Nelson Rodrigues. No entanto, é preciso construir a unidade a partir dessa diversidade. É indispensável que todos comunguem dos mesmos valores, de tal forma que a vitória seja sempre da equipe. Os jogadores da retaguarda, que nunca dão uma cortada, vibram com cada ponto conquistado pelos gigantes que estão na rede. Essas lições valem para todos aqueles que têm a responsabilidade de administrar e liderar. Mas se aplicam principalmente aos setores de serviços, atividades criativas e de relacionamento, onde o fator humano é essencial. Nessas equipes, de alto rendimento, o problema maior consiste em fazê-las render tudo de que são capazes.
>>> Epílogo Em dezembro, o time brasileiro conquistou mais um campeonato mundial, no Japão. Na partida decisiva, contra os russos, nosso talento superou o vigor físico dos adversários, lembrando a briga das pequenas empresas contra os concorrentes maiores. Na verdade, vencemos o jogo porque soubemos explorar os pontos fracos dos oponentes. Nossa comissão técnica dedicou certamente horas intermináveis ao estudo do estilo de jogo dos russos e, a partir daí, desenvolveu as táticas aplicadas por nossos jogadores. É apenas um lembrete de que a verdadeira inspiração brota da transpiração. Ou, como sugere Bernardinho no título de seu livro, é do suor que nasce o ouro.
Fonte: Por Francisco Gracioso, in epocanegocios.globo.com
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