Pular para o conteúdo principal

Para ser "coach" não basta saber palpitar

Cada vez mais a figura do "coach" tem sido requisitada, tanto individualmente, quanto por uma demanda das empresas que desejam obter o melhor dos seus colaboradores. Mas a popularização do conceito - aliada à subjetividade que caracteriza esta função - tem criado algumas armadilhas.

Em geral, basta que alguém se considere apto a "dar conselhos" em uma determinada esfera para se auto-intitular "coach". O conceito, no entanto, sobretudo quando atrelado a um contexto empresarial-profissional, requer um nível de conhecimento de técnicas e metodologias que vai muito além do aconselhamento puro e simples.

Em um contexto de negócio, o objetivo do "coach" é ajudar o indivíduo a crescer e, com este crescimento, trazer melhores resultados para a empresa na qual atua, à medida que esteja mais alinhado às estratégias e objetivos da companhia.

Quando trabalha junto aos trainees, por exemplo, muitas vezes, o papel do "coach" é fazer com que estes jovens incorporem elementos culturais e posturas comportamentais do mundo corporativo com as quais não estão familiarizados, que não faziam parte da realidade universitária.

Para profissionais de nível mais sênior ter um "coach", às vezes, é uma oportunidade de trocar experiências sobre aprendizados e dificuldades profissionais com alguém não envolvido emocionalmente com a situação, e que está, portanto, mais preparado a ajudar a iluminar pontos que ficam obscuros na análise parcial.

Como em quase tudo na vida, o bom "coach" é aquele que consegue unir habilidades naturais - como interesse genuíno pelas pessoas, intuição e percepção aguçadas, disposição para ouvir, bom senso, etc. - com um preparo técnico e atualizado que lhe permita ter um bom desempenho em termos de resultados concretos.

A própria evolução do conceito de "coaching" caminha neste sentido de desenvolvimento global do indivíduo. Tanto é assim, que uma das mais modernas técnicas de "coach" é o "coaching adaptável", uma modalidade mais flexível, que (como o próprio nome diz), o "coach" molda o seu estilo de comunicação para facilitar a aprendizagem do "coachee".

Em linhas gerais, o "coaching" adaptável se divide em diretivo e não diretivo, programático ou circunstancial, com foco mais específico (de curto prazo) ou mais holístico (como na definição de um plano de carreira).

Ao cruzar todas estas categorias, o "coaching" pode ser oferecido em oito estilos básicos, simbolizados nas figuras de pai, professor, gerente, filósofo, facilitador, conselheiro, colega e mentor. O desafio passa a ser identificar qual ou quais destas "figuras" terá acesso mais fácil e eficaz ao "coachee", atendendo às suas necessidades de forma assertiva.

Feita a escolha, o trabalho será desenvolvido em várias etapas: estabelecer a real necessidade, determinar como será feito, alinhar expectativas, definir o objetivo, identificar opções e barreiras, criar comprometimento para a ação, acompanhar e encorajar, coletar dados para analisar os resultados, dar feedback, reconhecer ou revisitar as metas.

Como se pode notar, o "coaching" é um processo complexo, que requer um know-how amplo e consolidado. Não basta saber olhar e palpitar. É preciso ser capaz de enxergar o que não está aparente e, principalmente, fazer o outro ver quem ele é, onde está, aonde quer chegar e, se possível, dispor de elementos para iluminar seu caminho.


Fonte: Por Sofia Esteves, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 9

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Funcionários da Domino´s Pizza postam vídeo no You Tube e são processados

Dois funcionários irresponsáveis imaginam um vídeo “muito engraçado” usando alimentos e toda sorte de escatologia. O cenário é uma cozinha da pizzaria Domino´s. Pronto, está feito o vídeo que mais chamou a atenção da mídia americana na semana passada. Nele, os dois funcionários se divertem enquanto um espirra na comida, entre outras amostras de higiene pessoal. Tudo isso foi postado no you tube no que eles consideraram “uma grande brincadeira”. O vídeo em questão, agora removido do site, foi visto por mais de 930 mil pessoas em apenas dois dias. (o vídeo já foi removido, mas pode ser conferido em trechos nesta reportagem: http://www.youtube.com/watch?v=eYmFQjszaec ) Mas para os consumidores da rede, é uma grande(síssima) falta de respeito. Restou ao presidente a tarefa de “limpar” a bagunça (e a barra da empresa). Há poucos dias, Patrick Doyle, CEO nos EUA, veio a público e respondeu na mesma moeda. No vídeo de dois minutos no You Tube, Doyle ( http://www.youtube.com/watch?v=7l6AJ49xNS