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A faca de dois gumes

Eu fui convidada recentemente para ser debatedora numa palestra para varejistas de um determinado segmento. O mote da palestra era a interatividade com o consumidor. Naturalmente este pedido tem fundamento. A platéia sempre vibra com os “cases” tecnológicos. E, atualmente a nossa atividade está repleta de novas aplicações e possibilidades do setor de comunicação e convergência de tecnologia.

Mas, na hora do debate percebi que todas as perguntas eram voltadas para questões estruturais que iam além da interatividade e consumidores. Perguntavam sim, como mudar a sua empresa, seus impostos e como os cases apresentados poderiam ser aplicados nos seus negócios. São questões que enfrentamos todo dia.

Esta cena não saiu da minha mente naquele dia. Estamos num momento da Humanidade onde menosprezamos o autoconhecimento. É preciso ter mais do que ser mais, não é assim?

Neste cenário existe uma grande oportunidade para alguns dos nossos profissionais. Este é um período onde a expertise de operar mudanças de comportamento mental e quebrar paradigmas pode valer muito mais para o mercado anunciante. Além disso, temos gente capaz de operacionalizar diversas ferramentas de venda e comunicação, simultaneamente, em vários ambientes de compra e venda, com excelência.

Por isso devemos expor mais sobre as nossas melhores capacidades intelectuais e aplicação de técnicas para vencer problemas de mercado com obstrução, buscar novas alternativas de impactar e cativar consumidores e shoppers. Nós temos profissionais e agências aptos a discutir estratégias de comunicação e distribuição com a cúpula dos clientes.

Precisamos chamar a atenção sobre a capacidade multidisciplinar de atuação do Marketing Promocional que transcende a comunicação, coordenando grandes contingentes, bancos de dados e gerenciando logística de entrega em atividades do trade e BtoB.

Existe também o turbilhão de demanda em prol de um espetáculo tecnológico. E, quase sempre quem fica nos bastidores somos nós, profissionais de marketing promocional. Ou seja, debatemos muito pouco para mostrar os exemplos de inteligência, a performance profissional, da persistência e a capacidade de realização. Nossos profissionais especificam e gerenciam os aparatos tecnológicos que dão enorme visibilidade às ações no mercado de marketing promocional.

Devemos equilibrar esta balança, valorizando os nossos melhores profissionais. Um profissional de marketing promocional pleno deve conhece um pouco de Astronomia, Astrologia, Folclore, Sociologia, Antropologia, História, Moda, Música, Dança, Cenografia, Teatro, Cinema, Química, Física, Tecnologias novas e muito mais. E, assim transforma em instrumento de venda, uma peça gráfica, um rótulo, um display, uma ação promocional no ponto-de-venda, um concurso ou sorteio, uma campanha de merchandising, um evento de lançamento, uma convenção de venda, uma campanha de incentivo, relacionamento, um grande evento proprietário e assim por diante.

Mas, se falamos em oportunidade, precisamos lembrar que ainda são poucos os excelentes. Precisamos lembrar que somos da área de Serviço e isso pressupõe a necessidade de ter recursos humanos altamente capacitados, treinados e reciclados.

Quando falamos de profissional, não posso deixar de fazer um pedido especial aos empresários do nosso setor. Eles precisam ser capazes de reinvestir no seu próprio negócio e isso pressupõe reserva financeira saudável e considerável. Isso ainda é uma conquista de poucos e nos torna frágeis. Não podemos continuar a lutar isoladamente. Para ganharmos espaço e estatura é preciso ser altruísta e acreditar na união dos pares para lutar pelo setor de forma sustentável. O setor deve buscar seus direitos, em vários setores públicos e privados. Devem se especializar e conquistar selos de qualidade como diferencial. Ao mesmo tempo devem ter a coragem de sensibilizar os prospects sobre as melhores práticas entre cliente e agência. Isso tem um valor inestimável. Devem ser firmes e dizer não a concorrências vergonhosas, tratamentos antiéticos e falta de respeito no relacionamento, inclusive com seus fornecedores. Com certeza serão respeitados pelo mercado e colherão resultados positivos.

Ao mesmo tempo, devem ser justos e abrir seus corações para merecer a confiança de bons clientes. Devem ser sempre transparentes na negociação. Fazer de tudo para entregar o melhor de seu conhecimento e performance em cada trabalho e cobrar o justo e merecido valor que dê para reinvestir nos seus negócios de forma contínua.
Devem estar prontos para mudança contínua e alvos móveis. A boa vida acabou. Por isso hoje a maior motivação deve ser o respeito mútuo. E, por isso é necessário ter uma relação estável e de longo prazo com seus clientes para que ambos possam subsistir em ambiente mutante. Chegou a Era das parcerias de verdade entre si, fornecedores e clientes. Ser justo e responsável fará parte intrínseca dos negócios.

Se não abrir os olhos terá rapidamente um mercado totalmente inflacionado, sem respeito e deteriorado. Nada valerá ter a maior fatia do orçamento se todos os profissionais são considerados medianos e as agências perdem a rentabilidade. Eis a faca de dois gumes. Temos uma enorme oportunidade e um enorme ponto fraco. É urgente a nossa necessidade de reconquistar o lugar de profissional multidisciplinar reconhecido que tínhamos e que estamos perdendo agora por pura miopia.


Fonte: Por Elza Tsumori - presidente da Executiva Nacional da AMPRO, in www.mundodomarketing.com.br

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