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Acadêmicos e executivos debatem o perfil da liderança “responsável”

Virou lugar-comum apontar problemas de liderança para explicar a atual crise global. Não restam dúvidas de que CEOs e altos executivos de alguns dos maiores bancos e companhias do planeta empurram o mundo para a pior crise econômica dos últimos 70 anos. Mas como esses homens de negócios admirados e copiados por todos tornaram-se vilões? Como sua liderança inspiradora provou-se tão danosa? O que deve ser colocado no lugar? Para debater o assunto, a escola de administração suíça IMD (International Institute for Management Development) realizou em fevereiro um encontro de três dias. “Liderança Responsável”, é como foi batizado.

Das mesas-redondas, surgiram ideias que vão além de reforçar os controles corporativos e a regulamentação dos mercados. Não faltaram palestrantes para apostar que a crise abre espaço para mudança de paradigmas e uma economia mais saudável. “Agora é o momento de redobrar nossos esforços e colocar a liderança responsável no centro [do debate]”, diz John R. Wells, presidente do IMD. Ele afirma que essa liderança tem de entregar os resultados corretos (“retornos de longo prazo”) da forma certa (“respeitando as pessoas e as instituições”). Eis algumas das ideias que surgiram do encontro:

Visão - Em momentos de demissão em massa, executivos e pesquisadores alertaram para o risco de se cair na armadilha do curto prazo. “Os executivos atuais foram treinados para maximizar os retornos sem uma discussão mais profunda sobre a sustentabilidade da companhia, sua imagem e a durabilidade das suas relações”, diz Luiz Edmundo Rosa, diretor de Recursos Humanos da Accor na América Latina, que participou do encontro na Suíça. Muitas empresas, segundo afirma, estão enfrentando uma situação de vida ou morte. Mas outras estão cortando para assegurar a manutenção de lucros gordos, sem levar em conta que o ambiente de negócios mudou e que talvez seja mais vantajoso aceitar ganhos menores agora para garantir o fôlego futuro.

Diálogo - Do ponto de vista dos CEOs, nem sempre é fácil discutir com o conselho e os acionistas sobre o equilíbrio entre ganhos no curto e no longo prazos. Mas uma das sugestões do encontro é que se abram diálogos mais honestos e claros sobre como perseguir resultados imediatos pode ferir o negócio. É preciso rever os sistemas de remuneração que podem incentivar esse imediatismo, além dos parâmetros de retorno e crescimento.

Ética - Escândalos de cair o queixo como o promovido pelo americano Bernard Madoff, que criou um sistema de pirâmide de US$ 50 bilhões, expuseram como uma parcela do mundo dos negócios despiu-se completamente dos preceitos básicos da ética. Mesmo reconhecendo que esses são casos extremos, os executivos disseram que é preciso reforçar ideias fundamentais. “Verdade e honestidade são parte de qualquer boa estratégia de negócios”, afirma Surendra Munshi, da fundação alemã Bertelsmann Stiftung. Na opinião de George Kohlrieser, professor de organização comportamental do IMD, a liderança responsável consiste em colocar o interesse geral acima do seu próprio.

Consequências - A empresa deve levar em consideração tanto a sua interligação com a sociedade como ajudar no entendimento das consequências do consumo. No caso das demissões, é preciso se perguntar como elas podem afetar os ganhos futuros e a economia, já que as reduções podem comprometer o crescimento como um todo. A empresa, afinal, não existe no vazio. Peter Baker, CEO da TNT, diz também que as empresas podem ajudar o consumidor a entender o impacto de suas ações. Ele dá como exemplo a alternativa que os americanos têm de receber iPhones personalizados num prazo mais curto do que o normal, que é de 30 dias. Por um valor um pouco maior, o aparelho pode ser entregue em uma semana. O pequeno luxo gera dois voos extras de Boeings 777 entre a China e os Estados Unidos todas as semanas. Para o CEO, o consumidor deveria ser avisado do impacto ambiental de sua decisão.

Oportunidade - Muitos líderes ainda confundem responsabilidade social com caridade. Mas há uma crescente percepção de que o negócio deve considerar seu papel na sociedade. Essa lógica pode inclusive gerar oportunidades. É o que Kamal Quadir, fundador da CellBazaar, conseguiu em Bangladesh. Ele criou um mercado eletrônico para que agricultores e comerciantes locais negociem por meio do celular. A intenção era melhorar as condições de negociação para os camponeses. O negócio mostrou-se um sucesso maior do que o esperado.


Fonte: epocanegocios.globo.com

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