É como se vivêssemos nesses dias uma nova fase imposta pelo calendário institucional recente do País: poderíamos chamar essa etapa de "entre-escândalos". Seria o período decorrente entre o mais recente abalo ético brasileiro - a chamada Operação Satiagraha, da Polícia Federal - e o próximo caso que irá incendiar as manchetes, devorar a reputação de algum figurão, hipnotizar a nação perante horas e horas de diálogos suspeitos levados ao ar pela tevê. Quem será o próximo alvo? Quão devastadoras serão as revelações? Nessa rotina nada animadora, chegará o dia em que o caso irá perdendo adrenalina, se sucedera uma nova entressafra - como a atual - até que um novo escândalo surja. E assim por diante.
Nada melhor, então, do que aproveitar essa espécie de recesso dos escândalos nativos para refletir sobre um aspecto que vem permeando todos os abalos de reputação recentes: o descaso com a nanoética, expressão que irei explicar mais à frente. Primeiro, é preciso lembrar como os maiores escândalos dos últimos tempos vêm se processando. Na maioria esmagadora dos casos, são robustas investigações da Polícia Federal que vêm atazanando a vida daqueles que não andam na linha. Mas não se esqueça: por acaso você viu agentes da PF trocando tiros na última operação levada ao ar pela televisão? Viu os policiais federais com suas jaquetas pretas arrebentando portas com metralhadoras nas mãos?
Aí reside uma pista importante: a Polícia Federal hoje poderia ser chamada de Polícia Digital. Seu aparato inclui gravadores de última geração, programas de computadores ultra-sofisticados e equipamentos capazes de escutas ambientais. A arma dos policiais digitais é a tecnologia e seu alvo, a incapacidade de muitos de lidarem com os novos perigos do mundo em que passamos a viver. Vivemos uma revolução que se autoproclama "tecnológica". E tecnologia, na prática, significa que estamos mais próximos dos outros e os outros de nós - sobretudo dos nossos erros. Nossos erros estão mais próximos dos outros e, muitas vezes, nem percebemos. Muitos só se dão conta quando ouvem a própria voz no horário nobre. Mas aí já é tarde, não é mesmo?
Daí porque a nanoética é tão fundamental. Hoje, qualquer negócio, qualquer atividade, consiste em gerir complexas cadeias de confiança. Você precisa confiar no seu fornecedor chinês para fabricar no Brasil o produto que vai vender para os americanos. E ele precisa ser confiável para você. E você para todos os seus parceiros e clientes. O problema é que, cada vez mais, dependemos da confiança que depositamos nos outros e na que somos capazes de inspirar. Uma mínima falha, uma microscópica peça falha e daí o avião cai, o brinquedo põe crianças em risco, o produto pode poluir.
Por isso, não somos mais gestores de produtos ou serviços. Somos administradores de confiança. Nossa reputação estará em jogo em cada mínimo detalhe da complexa cadeia de confiança que nos cabe gerir. Sendo assim, temos que levar nosso cuidado a um nível de preocupação que vá ao detalhe do detalhe do detalhe: para escapar do megaescândalo só mesmo com a prevenção da nanoética.
Fonte: Por Mário Rosa, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 13
Nada melhor, então, do que aproveitar essa espécie de recesso dos escândalos nativos para refletir sobre um aspecto que vem permeando todos os abalos de reputação recentes: o descaso com a nanoética, expressão que irei explicar mais à frente. Primeiro, é preciso lembrar como os maiores escândalos dos últimos tempos vêm se processando. Na maioria esmagadora dos casos, são robustas investigações da Polícia Federal que vêm atazanando a vida daqueles que não andam na linha. Mas não se esqueça: por acaso você viu agentes da PF trocando tiros na última operação levada ao ar pela televisão? Viu os policiais federais com suas jaquetas pretas arrebentando portas com metralhadoras nas mãos?
Aí reside uma pista importante: a Polícia Federal hoje poderia ser chamada de Polícia Digital. Seu aparato inclui gravadores de última geração, programas de computadores ultra-sofisticados e equipamentos capazes de escutas ambientais. A arma dos policiais digitais é a tecnologia e seu alvo, a incapacidade de muitos de lidarem com os novos perigos do mundo em que passamos a viver. Vivemos uma revolução que se autoproclama "tecnológica". E tecnologia, na prática, significa que estamos mais próximos dos outros e os outros de nós - sobretudo dos nossos erros. Nossos erros estão mais próximos dos outros e, muitas vezes, nem percebemos. Muitos só se dão conta quando ouvem a própria voz no horário nobre. Mas aí já é tarde, não é mesmo?
Daí porque a nanoética é tão fundamental. Hoje, qualquer negócio, qualquer atividade, consiste em gerir complexas cadeias de confiança. Você precisa confiar no seu fornecedor chinês para fabricar no Brasil o produto que vai vender para os americanos. E ele precisa ser confiável para você. E você para todos os seus parceiros e clientes. O problema é que, cada vez mais, dependemos da confiança que depositamos nos outros e na que somos capazes de inspirar. Uma mínima falha, uma microscópica peça falha e daí o avião cai, o brinquedo põe crianças em risco, o produto pode poluir.
Por isso, não somos mais gestores de produtos ou serviços. Somos administradores de confiança. Nossa reputação estará em jogo em cada mínimo detalhe da complexa cadeia de confiança que nos cabe gerir. Sendo assim, temos que levar nosso cuidado a um nível de preocupação que vá ao detalhe do detalhe do detalhe: para escapar do megaescândalo só mesmo com a prevenção da nanoética.
Fonte: Por Mário Rosa, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 13
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