Pular para o conteúdo principal

Terminados os jogos, começa a luta pelo ouro

O velocista negro Jesse Owens entrou para a história depois de conquistar quatro medalhas de ouro nos Jogos de Berlim, em 1936, frustrando os planos de Adolf Hitler de demonstrar nas competições na Alemanha nazista a supremacia da “raça ariana”. De volta para os Estados Unidos, Owens passou a exibir suas habilidades atléticas apostando corridas contra motos e cavalos em troca de um cachê de 2 000 dólares. A quem perguntasse o motivo de ter se humilhado a esse ponto, ele respondia: “Porque não posso comer as minhas medalhas”. Esse foi o preço que Owens pagou por ter sido um campeão da fase amadora do esporte. Hoje, ideais olímpicos à parte, com a dinheirama em jogo bancada por empresas esportivas, patrocinadores e emissoras de televisão, os atletas podem esperar muito mais de suas conquistas em pistas, piscinas, quadras e campos. Uma medalha de ouro da Olimpíada de Pequim, se derretida, valeria menos de 200 dólares. Mas a imagem de um campeão pode valer milhões de dólares. As competições na China não só reafirmaram essa máxima como elevaram as cifras a um novo patamar.

Estrela máxima da competição em Pequim, com seu recorde de oito medalhas de ouro arrebanhadas no Cubo d’Água, o americano Michael Phelps, de 23 anos, ganhava cerca de 5 milhões de dólares por ano, entre salário e patrocínios. Segundo especialistas em marketing esportivo, em breve a cifra pode subir para a marca de 30 milhões de dólares. Apesar do salto impressionante, ainda é um número modesto para os rendimentos de astros como o golfista Tiger Woods, que recebe quase 130 milhões de dólares por ano (veja quadro). Isso se explica pela natureza das competições de natação, esporte que não tem grande visibilidade fora de grandes eventos, como a Olimpíada. Este é, portanto, o momento para que astros como Phelps valorizem sua imagem.

Enquanto Owens mostrou seu talento num circo deprimente após o sucesso olímpico, Phelps vai iniciar, neste mês, uma turnê mundial por Austrália, Japão, China, Europa e Estados Unidos para nadar em provas de exibição. O show foi organizado pela principal patrocinadora do campeão, a fabricante de material esportivo Speedo. A empresa vai aproveitar a ocasião para lançar uma versão para atletas amadores do supermaiô LZR, peça que ajudou Phelps e outros competidores a pulverizar 25 recordes olímpicos em Pequim. Existe hoje também uma enorme preocupação na Speedo, pois o contrato de Phelps expira no início de 2009, o que abre espaço para alguma concorrente tentar fisgar o homem-tubarão. Segundo publicou recentemente o jornal americano The Wall Street Journal, a Nike estaria disposta a pagar de 40 milhões a 50 milhões de dólares por um contrato de quatro anos com Phelps. A Nike não confirmou nem negou a possibilidade. “A empresa não discute seus contratos, e isso vale para potenciais futuras relações de marketing esportivo”, disse um porta-voz da Nike.

Segundo alguns analistas, as 14 medalhas de ouro conquistadas nas duas últimas Olimpíadas podem transformar Phelps num novo Michael Jordan, o superastro do basquete profissional americano que faturou alto com publicidade no auge de sua carreira, nos anos 90. O nadador americano virou o nome mais procurado no site de relacionamentos Facebook. Sua página contabiliza quase 1 milhão de fãs. A fama de Phelps também aparece na multiplicação das manchetes dedicadas a ele em jornais do mundo inteiro (a especulação do momento é sobre o namoro com a modelo inglesa Lily Donaldson). O desempenho avassalador, sua juventude e o perfil de bom moço credenciam o atleta ao papel de herói dos Estados Unidos. Na ficha corrida de Phelps consta apenas uma escorregada em forma de detenção por dirigir embriagado em 2004. Ele já pediu desculpas públicas e cumpriu a pena de 18 meses executando serviços comunitários.

Para quem duvida do potencial para impulsionar uma marca que um atleta pode ter, os Jogos de Pequim forneceram dois ótimos exemplos instantâneos. O primeiro deles, logo na cerimônia de abertura. A honra de acender a pira olímpica coube ao ex-atleta Li Ning, que se tornou ídolo nacional ao conquistar três medalhas de ouro para a China nos Jogos de Los Angeles, em 1984. Depois da aposentadoria, ele fundou a fabricante de material esportivo Li Ning Co., conhecida como a “Nike chinesa”. Horas depois da aparição do dono da empresa nos Jogos de Pequim, as ações da Li Ning Co. subiram 4% na bolsa de Hong Kong. Na semana seguinte, uma pesquisa do instituto CTR mostrou que 40% dos chineses achavam que a Li Ning era uma das patrocinadoras dos Jogos, ante apenas 23% que reconheciam a Adidas como uma das marcas oficiais da competição. Detalhe: a empresa alemã pagou 20 milhões de dólares para se associar ao evento.


Os dividendos de Pequim
O faturamento de Michael Phelps poderá passar de 5 milhões para 30 milhões de dólares por ano. O quadro compara esse valor com os rendimentos atuais de outros esportistas

Faturamento anual(1)(em milhões de dólares):
Michael Phelps (EUA) — natação 30(2)
Roger Federer (Suíça) — tênis 35,1
Ronaldinho Gaúcho (Brasil) — futebol 37,5
LeBron James (EUA) — basquete 40,5
Kimi Raikkonen (Finlândia) — F1 46
Tiger Woods (EUA) — golfe 127,9

(1) Valores incluem salários, bônus e contratos de patrocínio e publicidade (2) Estimativa


Ainda mais impressionante foi o efeito do fenômeno jamaicano Usain Bolt. O “relâmpago Bolt”, como foi apelidado, exibiu ao mundo inteiro as sapatilhas douradas da Puma que estava calçando quando bateu o recorde dos 100 metros rasos, com 9,69 segundos. Segundo a Puma, no mesmo dia do espetáculo de Bolt foram vendidos 2 milhões de tênis da marca em 80 países diferentes — isso representa cerca de 200 milhões de dólares em receitas com o produto. Mas, apesar de seu carisma e de suas marcas impressionantes, Bolt não é um garoto-propaganda com o mesmo potencial de Phelps. Ainda nos Jogos de Pequim, alguns competidores apontaram o dedo contra Bolt insinuando que ele poderia ser o novo Ben Johnson — o canadense que assombrou o mundo nos Jogos de Seul, em 1988, quebrando o recorde dos 100 metros rasos, mas que foi desmascarado em seguida no exame antidoping. Justa ou não a suspeita que paira sobre Bolt, o fato é que a polêmica pode afastar potenciais patrocinadores do corredor.

No universo dos competidores brasileiros, a saltadora Maurren Maggi e o nadador César Cielo, únicos medalhistas de ouro do país em esportes individuais, mudaram de patamar na escala do marketing esportivo. Maurren enfrentou um caso de doping e a aposentadoria voluntária antes do salto consagrador. Com a medalha, recebeu 300 000 reais em prêmios dos patrocinadores e do Comitê Olímpico Brasileiro. Sua imagem de superação pode atrair agora novos contratos publicitários — isso apesar das poucas chances de medalha na próxima Olimpíada. Maurren tem 32 anos. Na ala masculina, o menino de ouro da vez do esporte nacional é César Cielo. “Ele é a imagem do vencedor”, afirma o ex-nadador Fernando Scherer, atual empresário de Cielo. “Assistir ao cara mais rápido das piscinas do mundo quebrar novos recordes tem o mesmo apelo para a TV que uma corrida de Fórmula 1.” Até Pequim, entre o salário do clube Pinheiros, em São Paulo, e os patrocínios da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e da Samsung, Cielo faturava por mês cerca de 30000 reais. Scherer espera multiplicar por 10 esse valor. “Agora, as empresas é que correm atrás do Cielo”, diz ele.


Fonte: Por Tiago Maranhão, in portalexame.abril.com.br

Comentários

Anônimo disse…
Most of you hunger to know more about the glitzy life styles of glamorous celebrities and sensual
models. Stay connected with for the latest tit-bits of pick me up news and cool celebrity pictures.
instantly and cannot wait for magazines then celebritynewsapp is the best available source which keeps on updating instantly.



my blog; latest celeb news

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Conselho Federal de Marketing?

A falta de regulamentação da profissão de marketing está gerando um verdadeiro furdunço na Bahia. O consultor de marketing André Saback diz estar sendo perseguido por membros do Conselho Regional de Administração da Bahia (CRA/BA) por liderar uma associação – com nome de Conselho Federal de Marketing e que ainda não está registrada – cujo objetivo, segundo ele, é regulamentar a profissão. O CRA responde dizendo que Saback está praticando estelionato e que as medidas tomadas visam a defender os profissionais de administração. Enquanto André Saback, formado em marketing pela FIB - Centro Universitário da Bahia -, diz militar pela regulamentação da profissão, o Presidente do CRA/BA, Roberto Ibrahim Uehbe, afirma que o profissional criou uma associação clandestina, está emitindo carteirinhas, cobrando taxas e que foi cobrado pelo Conselho Federal de Administração por medidas que passam até por processar Saback, que diz ter recebido dois telefonemas anônimos na última semana em tom de ameaç