Pular para o conteúdo principal

A Comunicação Integrada entre o discurso e a prática

Transcrevo aqui a íntegra do artigo "A Comunicação Integrada entre o discurso e a prática" de autoria do professor Wilson da Costa Bueno, diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa. Sempre com uma visão crítica sobre a comunicação empresarial, as reflexões do autor não deixam de ser pertinentes e merecem ser repensadas com muita atenção. Concordo plenamente com a idéia de que falar de comunicação integrada é fácil, difícil mesmo são as empresas colocá-las em prática. De fato, o que temos encontrado nas organizações é uma realidade onde a comunicação interna e a externa estão totalmente desarticuladas, sendo tratadas como meros planos e ações que, muitas vezes, se distinguem e se antagonizam. E essa visão míope de muitos comunicadores empresariais que ainda insistem em rejeitar o marketing e as vendas e querer separar o institucional do mercadológico? Isto também precisa ser repensado. A leitura deste artigo contribui para refletir e amadurecer sobre o assunto. Leitura obrigatória.


"O conceito de comunicação integrada, ao que parece, não tem sido levado a sério nesse País em que, na verdade, pouca coisa é tratada com seriedade. Basta navegar na Web ou dar uma olhada em alguns folders de agências/assessorias para concluir que todo mundo, de uma hora para outra, pratica a comunicação integrada. Assim como toda organização é sustentável, socialmente responsável e cidadão. Na prática, comunicação integrada funciona como uma palavra mágica para dizer, provavelmente, que a agência/assessoria "faz qualquer negócio" ou que pratica a política do "o que cair na rede, é peixe".

Vamos ser mais precisos: quando nos referimos à comunicação integrada não queremos apenas dizer que as atividades de comunicação se tangenciam numa organização, mas que elas se integram umbilicalmente ao processo de gestão, de planejamento, de marketing e que obedecem a uma política e diretrizes comuns. A comunicação se integra não na superfície, não é uma questão de epiderme, mas de DNA, de cultura . É para valer mesmo.

Na maioria dos casos, em nossas organizações (pelo menos a maioria que a gente conhece por aqui), nem ao menos a comunicação interna e a externa estão articuladas e são tratadas com planos, ações e estratégias que se diferenciam bastante e muitas vezes se antagonizam. Além disso, ainda se cultiva na Comunicação Empresarial uma rejeição profunda às atividades de marketing e vendas, como se fosse possível ( e razoável) separar o institucional do mercadológico. Se o nosso olhar contemplasse a questão de maneira mais abrangente, veríamos que os preconceitos e incompreensões existem inclusive (e como!) entre os profissionais de comunicação (ou você nunca escutou que o jornalista vê chifre em cabeça de cavalo, que o publicitário desperdiça dinheiro do cliente e que o Relações Públicas não passa de um tremendo puxa-saco?) Integrar o quê, se a realidade a que estamos assistindo é bem outra: uma disputa intensa e sangrenta entre áreas e profissionais (da própria área de Comunicação), eivada de equívocos e preconceitos, um embate ruidoso de egos e uma ausência total de espírito crítico e de uma perspectiva abrangente do universo da Comunicação Empresarial. Não podemos ser integrados, se ao menos não nos dispusermos a ser solidários e a entender o outro. Em Comunicação (que tem a mesma origem da palavra comunhão), integrar significa estar junto, partilhar e, certamente, é o que menos estamos dispostos a fazer na área.

Estamos integrando muito pouco porque, já nas faculdades/escolas/cursos de Comunicação, aprendemos a superestimar as partes em detrimento do todo (Jornalismo, Relações Públicas, Propaganda/Publicidade é que valem alguma coisa, comunicação não existe!). Por isso é que costumamos ter uma visão equivocada do outro, incentivados por professores que não enxergam um palmo além do nariz e que cultivam um arcaico corporativismo profissional. As empresas integram muito pouco porque , na prática, a gestão das organizações, com as exceções a serem saudadas (até porque são muito poucas!), privilegia o controle, a censura, o desestímulo à participação, a rejeição à diversidade de idéias e opiniões etc. Vemos as outras áreas como adversárias e não como parceiras e estamos mais empenhados em valorizar as nossas virtudes (algumas não tão virtuosas assim) do quem em reconhecer as competências dos outros.

O profissional de Comunicação Empresarial que, nos encontros reservados se queixa da falta de autonomia, da mão pesada dos chefes, das pressões por resultados a qualquer custo, não deveria continuar sustentando esta farsa, colocando-se como porta-voz das empresas em palestras e cases. Poucas organizações estão dispostas a integrar e, portanto, a comunicação, reflexo da cultura organizacional que vigora no mercado, não pode, como repetem muitos executivos que se proclamam os gurus do momento , ser verdadeiramente integrada.

Há uma diferença importante entre acreditar que a comunicação integrada é a melhor solução (também acreditamos nisso!) e imaginar que isso já acontece em nosso País. Estamos longe, muito longe, de alcançar este patamar. Podemos até chegar à conclusão de que, com a mentalidade empresarial que prevalece, e de que, com a falta de independência e espírito crítico de parcela significativa de nossos profissionais de comunicação, esta integração (ideal, democrática, saudável) nunca acontecerá. Mas preferimos ser otimistas e imaginar que, pressionados pelo mercado e pela sociedade mais do que por sua própria iniciativa, as organizações terão que efetivamente buscar a integração em comunicação.

Mas a comunicação integrada tem que ser pra valer, assim como a responsabilidade social, a comunicação estratégica não podem representar conceitos vazios. Enquanto acreditarmos que a indústria tabagista e de bebidas estão sendo sinceras, ao insistirem na moderação no fumar e no beber, e houver agências de propaganda/comunicação para repetir esse discurso cínico, a situação não se modificará.

Chega de "conversa mole". O conceito de comunicação integrada tem que ser tratado com respeito: não é para ficar freqüentando o discurso de empresas que desrespeitam os seus funcionários e consumidores, de agências/assessorias que vendem a alma por dinheiro e de executivos que repetem o que não entendem. Certas coisas não se aprendem nos "MBAs" em comunicação/marketing que se multiplicam como pragas por aí. Comunicação Integrada, Comunicação Estratégica, Responsabilidade Social e Cidadania Planetária têm menos a ver com diploma e mais com a postura, com a cultura das organizações. Fica fácil concluir que a comunicação integrada que muita gente proclama por aí é mais uma "história para boi dormir" no difuso universo da Comunicação Empresarial. Pensando bem, há certas coisas que não deveriam ser ditas, deveriam ser praticadas. Comunicação Integrada é uma delas. Está na hora de fazer direito a lição de casa!"


Fonte: Por Wilson da Costa Bueno, in portalimprensa.uol.com.br

Comentários

Anônimo disse…
Realmente, estamos bem longe de praticar a comunicação integrada nas organizações. Atualmente, nossa batalha tem sido a de integrar, pelo menos, os diversos canais de comunicação interna dentro de uma mesma empresa, fazendo-os complementares, e não repetitivos. Quem diria incluir aí as ações de Relações Públicas e Marketing?
Pois é Renata. Na verdade é muito discurso e pouca prática da comunicação integrada nas organizações. A quem caberá transformar essa realidade?

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Conselho Federal de Marketing?

A falta de regulamentação da profissão de marketing está gerando um verdadeiro furdunço na Bahia. O consultor de marketing André Saback diz estar sendo perseguido por membros do Conselho Regional de Administração da Bahia (CRA/BA) por liderar uma associação – com nome de Conselho Federal de Marketing e que ainda não está registrada – cujo objetivo, segundo ele, é regulamentar a profissão. O CRA responde dizendo que Saback está praticando estelionato e que as medidas tomadas visam a defender os profissionais de administração. Enquanto André Saback, formado em marketing pela FIB - Centro Universitário da Bahia -, diz militar pela regulamentação da profissão, o Presidente do CRA/BA, Roberto Ibrahim Uehbe, afirma que o profissional criou uma associação clandestina, está emitindo carteirinhas, cobrando taxas e que foi cobrado pelo Conselho Federal de Administração por medidas que passam até por processar Saback, que diz ter recebido dois telefonemas anônimos na última semana em tom de ameaç