O auditório da Fapesp receberá, nesta semana, em São Paulo (dias 22 e 23 de novembro) o IX Congresso Brasileiro de Jornalismo Científico, promovido pela Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC), entidade que completa em 2007 30 anos de fundação.
O evento irá reunir experiências brasileiras de divulgação científica em mesas-redondas e apresentação de trabalhos (cerca de 40 no total), compondo um mosaico plural do ensino, da pesquisa e da prática do Jornalismo Científico brasileiro.
O Jornalismo Científico compreende a veiculação, segundo os padrões jornalísticos, de informações sobre ciência, tecnologia e inovação e se caracteriza por desempenhar inúmeras funções. Em primeiro lugar, ele cumpre o papel, absolutamente indispensável num país onde o ensino formal de ciências é precário, de contribuir para o processo de alfabetização científica, permitindo aos cidadãos tomar contato com o que acontece no universo da ciência e da tecnologia. Trata-se de uma função eminentemente pedagógica a ser cumprida pela mídia, complementar ao da educação, e que atinge não apenas aqueles que já deixaram a escola, mas sobretudo os que estão dela excluídos por inúmeros motivos.
Em segundo lugar, esta divulgação pelos meios de comunicação de massa promove a democratização do conhecimento científico, ampliando o debate sobre temas relevantes de ciência e tecnologia. Se realizada com compromisso e espírito público, ela convoca os brasileiros para participar do processo de tomada de decisões e retira de uma elite (que normalmente se beneficia das benesses do progresso técnico) o poder exclusivo de decidir onde, quanto e como investir em ciência e tecnologia. Esta função se reveste de caráter político (não partidário) no seu sentido mais amplo porque favorece a explicitação dos interesses envolvidos no financiamento, produção e aplicação da ciência e da tecnologia. Finalmente, o Jornalismo Científico abre oportunidade para que os centros produtores e financiadores de ciência e tecnologia (e os pesquisadores em particular) possam prestar contas à sociedade dos investimentos realizados em pesquisa e desenvolvimento, essenciais para a soberania de uma nação.
Tradicionalmente, a literatura em Jornalismo Científico (que não é generosa no Brasil) concentra-se, prioritariamente, em discutir a relação entre cientistas/pesquisadores e jornalistas/divulgadores de ciência ou explora a dificuldade de adaptação do discurso científico, geralmente hermético, ao universo da maioria dos cidadãos, relegando a segundo plano outras temáticas não menos importantes.
É evidente que ainda existem incompreensões (apesar de termos avançado muito nos últimos anos) entre quem faz e quem divulga ciência no Brasil, especialmente porque estamos nos referindo a dois sistemas de produção bastante distintos e com características peculiares (a ciência e a tecnologia e o Jornalismo). Estas incompreensões diminuem sensivelmente (a experiência nos revela isso) quando cada um dos lados passa a ter uma visão mais lúcida do outro e, particularmente, quando pesquisador e jornalista estão identificados com os mesmos objetivos: a alfabetização científica e a democratização do conhecimento, por exemplo.
É forçoso reconhecer também que não é tarefa fácil trazer temas complexos de ciência e e tecnologia para o dia-a-dia das pessoas, especialmente quando elas não estão familiarizadas com os conceitos básicos da área, mas isso é possível com esforço, talento e competência. É sobretudo realizável quando jornalistas/divulgadores e cientistas/pesquisadores trabalham em parceria e estão empenhados em cumprir adequadamente este papel.
A literatura não tem, no entanto, dado conta de uma realidade que merece ser sempre considerada na produção e divulgação da ciência e da tecnologia: a conjugação de interesses de toda ordem (políticos, econômicos, militares, empresariais etc) que, gradativamente, constrangem e penalizam a qualidade destes dois processos (produção e divulgação). Basta lembrar que o maior esforço de pesquisa e de desenvolvimento está hoje a serviço de interesses militares e que o investimento em determinadas áreas (saúde, biotecnologia etc) tem por fim, prioritariamente, favorecer grandes corporações (ou seja o lucro) e não os cidadãos de maneira geral. A divulgação científica tem estado cada vez mais cerceada pelos contratos de exclusividade (sigilo de informações) firmados entre universidades e institutos de pesquisa com empresas privadas e públicas. Pode-se dizer, sem medo de cometer injustiças, que a ciência e a tecnologia de ponta estão a mercê do capital e não do interesse público, apesar do discurso de governos e empresas que pregam a cidadania, o compromisso com a sociedade, mas estão apenas interessados em atender os seus acionistas.
A ciência e a tecnologia são mercadorias valiosas e não estão necessariamente, como sempre se buscou acentuar nos colégios, a serviço da humanidade porque, muitas vezes, têm a ver mais com os objetivos do complexo militar, industrial, financeiro etc. É certo que, pelo menos grande parte da pesquisa brasileira, realizada por investigadores individuais ou em pequenas equipes nas universidades e centros de pesquisa, ainda assume uma perspectiva positiva, desvinculada de outros interesses extra-científicos, mas o cenário vai pouco a pouco se modificando com o aumento da complexidade dos projetos e a necessidade de recursos para sua realização. É preciso, em alguns casos, tomar cuidado com algumas fontes suspeitas que, travestidas de titulação acadêmica e respaldadas em prestígio derivado dos seus trabalhos de pesquisa, não passam de porta-vozes dos grandes interesses comerciais. Será sempre interessante verificar quem anda financiando estes "phds com bocas alugadas" que comparecem às redações, apresentados por agências de comunicação, para veicular pretensas notícias científicas que nada mais são do que propaganda de determinadas empresas ou setores. Quem se propõe a fazer isso (seguir o dinheiro - "follow the money", como dizem os americanos) descobrirá atrás do noticiário sobre transgênicos (cuidado com o CIB- Conselho de Informações sobre Biotecnologia!) a mão das multinacionais que andam promovendo o monopólio das sementes e vociferando contra a biodiversidade. Nem sempre é saudável acreditar em empresas que têm santo no nome ou que proclamam os seus "embaixadores ambientais". Há uma ciência e uma tecnologia comprometidas atrás dos releases e do noticiário que se originam de algumas fontes. Uma pista: se uma empresa agroquímica, mineradora ou de celulose incorpora o discurso da sustentabilidade em sua divulgação, mesmo apoiada no depoimento de um especialista, não caia no logro: tem, como diz o ditado, gato na tuba, ou seja, estão querendo passar a perna em todos nós. Não confunda ciência com marketing verde porque nem sempre "a química está a serviço da vida" e fabricar cigarro será sempre produzir droga, independente dos prêmios recebidos pelo "relatório social" da indústria tabagista.
No mundo inteiro - e não apenas no Brasil - as empresas estão cada vez mais próximas das universidades e centros de pesquisa e, ressalvadas as exceções, muitas acabam, pela fragilidade das nossas instituições de ensino e pesquisa, se apropriando do conhecimento nelas desenvolvido com intenções meramente comerciais. Grupos de pesquisa, formados com dinheiro público, se transferem para empresas privadas e continuam desenvolvendo projetos relevantes que beneficiam mais as organizações que os financiam do que a sociedade. Quem se lembra da relação entre a Novartis , uma poderosa indústria farmacêutica, e um instituto voltado para a pesquisa da biodiversidade na Amazônia (consulte com a palavra-chave " Projeto BioAmazônia Novartis" no Google e ficará surpreso com o que vai encontrar por lá), pode imaginar o que tende a ocorrer, se não houver uma vigilância permanente sobre essa interação nem sempre transparente e ética entre empresas e centros geradores de ciência e tecnologia.
A ciência e a tecnologia precisam estar comprometidas com o interesse dos cidadãos que as financiam e, especialmente no Brasil, as instituições de ensino e pesquisa que são subsidiadas pela sociedade têm a obrigação de prestar contas dos recursos investidos em ciência e tecnologia. Merecem menção sob este aspecto entidades como a Fapesp (referência internacional no apoio a projetos de pesquisa mas também em divulgação científica) e alguns institutos e empresas de pesquisa que promovem tanto a produção como a divulgação de ciência e tecnologia (a Fiocruz e a Embrapa são exemplos modelares). Outras entidades estaduais (Fapemig, Faperj etc) também merecem ser lembradas pelo mesmo trabalho, especialmente porque, pouco a pouco, buscam dar visibilidade aos projetos que financiam, cumprindo a função primordial de prestar contas dos investimentos realizados com recursos públicos.
O Jornalismo Científico ganhou novo impulso com a internet e multiplicam-se felizmente as publicações na internet (a revista ComCiência, do Labjor/Unicamp é excelente!), bem como são dignas de elogios algumas publicações tradicionais de divulgação e Jornalismo Científico, como Ciência Hoje, Revista Pesquisa Fapesp, Scientific American Brasil e mesmo as de maior tiragem, como Galileu e Superinteressante. É preciso ressaltar que esta última tende, infelizmente neste momento, a se desviar um pouco desta área, seduzida pelo apelo comercial do esoterismo, de temas sensacionais e/ou sensacionalistas e do espírito de almanaque, embora cumpra um papel fundamental junto aos jovens, seu principal público-alvo.
A divulgação científica também tem sido estimulada pela iniciativa de editoras e autores (ainda tímida no Brasil) de publicar livros sobre temas de ciência para os nossos jovens e as nossas crianças. É imperioso destacar, neste momento, o trabalho realizado pela Oficina de Textos, uma editora paulista que tem publicado obras de divulgação sobre temas de ciência atuais e relevantes, premiando a nossa juventude.
Não se pode deixar de mencionar o trabalho competente e pioneiro coordenado pelo prof. Ildeu de Castro Moreira , no MCT, com a realização de pesquisas (lembremos, por exemplo, a investigação recente sobre a percepção da ciência e da tecnologia pelo brasileiro), apoio a projetos e contribuição efetiva ao aumento da massa crítica na área da divulgação científica no Brasil.
Finalmente, é preciso reconhecer o apoio que a Universidade Metodista de São Paulo - UMESP tem dado à pesquisa na área, especialmente no seu Programa de Pós-Graduação, que há quase 3 décadas abriga projetos de mestrado e mais recentemente de doutorado em Jornalismo Científico e Comunicação Científica, de maneira geral. Ela é responsável por pelo menos uma centena de dissertações e teses já defendidas neste campo, contribuindo, vigorosamente, para a formação de novos quadros (basta lembrar que dos 5 diretores da ABJC, 4 têm mestrado ou doutorado pela UMESP e dois são seus professores).
Os exemplos citados merecem ser seguidos porque indicam o caminho adequado para o crescimento do Jornalismo Científico e da divulgação científica no Brasil. A área precisa de apoio permanente para continuar se desenvolvendo porque é vital para a democracia e para a qualificação do debate sobre ciência, tecnologia e inovação. Os exemplos da Fapesp, do Labjor/Unicamp, da UMESP e da Sanofi-Aventis, que emprestaram apoio ao Congresso Brasileiro de Jornalismo Científico, merecem ser seguidos.
Sem uma divulgação e um Jornalismo Científico qualificados, a ciência e a tecnologia brasileira que, em muitas áreas, competem com as realizadas nos países chamados hegemônicos, permanecerão distantes dos cidadãos, das autoridades, dos parlamentares, da sociedade de maneira geral. Impedir que isso aconteça é dever de todos nós.
Fonte: Por Wilson da Costa Bueno, in portalimprensa.uol.com.br
O evento irá reunir experiências brasileiras de divulgação científica em mesas-redondas e apresentação de trabalhos (cerca de 40 no total), compondo um mosaico plural do ensino, da pesquisa e da prática do Jornalismo Científico brasileiro.
O Jornalismo Científico compreende a veiculação, segundo os padrões jornalísticos, de informações sobre ciência, tecnologia e inovação e se caracteriza por desempenhar inúmeras funções. Em primeiro lugar, ele cumpre o papel, absolutamente indispensável num país onde o ensino formal de ciências é precário, de contribuir para o processo de alfabetização científica, permitindo aos cidadãos tomar contato com o que acontece no universo da ciência e da tecnologia. Trata-se de uma função eminentemente pedagógica a ser cumprida pela mídia, complementar ao da educação, e que atinge não apenas aqueles que já deixaram a escola, mas sobretudo os que estão dela excluídos por inúmeros motivos.
Em segundo lugar, esta divulgação pelos meios de comunicação de massa promove a democratização do conhecimento científico, ampliando o debate sobre temas relevantes de ciência e tecnologia. Se realizada com compromisso e espírito público, ela convoca os brasileiros para participar do processo de tomada de decisões e retira de uma elite (que normalmente se beneficia das benesses do progresso técnico) o poder exclusivo de decidir onde, quanto e como investir em ciência e tecnologia. Esta função se reveste de caráter político (não partidário) no seu sentido mais amplo porque favorece a explicitação dos interesses envolvidos no financiamento, produção e aplicação da ciência e da tecnologia. Finalmente, o Jornalismo Científico abre oportunidade para que os centros produtores e financiadores de ciência e tecnologia (e os pesquisadores em particular) possam prestar contas à sociedade dos investimentos realizados em pesquisa e desenvolvimento, essenciais para a soberania de uma nação.
Tradicionalmente, a literatura em Jornalismo Científico (que não é generosa no Brasil) concentra-se, prioritariamente, em discutir a relação entre cientistas/pesquisadores e jornalistas/divulgadores de ciência ou explora a dificuldade de adaptação do discurso científico, geralmente hermético, ao universo da maioria dos cidadãos, relegando a segundo plano outras temáticas não menos importantes.
É evidente que ainda existem incompreensões (apesar de termos avançado muito nos últimos anos) entre quem faz e quem divulga ciência no Brasil, especialmente porque estamos nos referindo a dois sistemas de produção bastante distintos e com características peculiares (a ciência e a tecnologia e o Jornalismo). Estas incompreensões diminuem sensivelmente (a experiência nos revela isso) quando cada um dos lados passa a ter uma visão mais lúcida do outro e, particularmente, quando pesquisador e jornalista estão identificados com os mesmos objetivos: a alfabetização científica e a democratização do conhecimento, por exemplo.
É forçoso reconhecer também que não é tarefa fácil trazer temas complexos de ciência e e tecnologia para o dia-a-dia das pessoas, especialmente quando elas não estão familiarizadas com os conceitos básicos da área, mas isso é possível com esforço, talento e competência. É sobretudo realizável quando jornalistas/divulgadores e cientistas/pesquisadores trabalham em parceria e estão empenhados em cumprir adequadamente este papel.
A literatura não tem, no entanto, dado conta de uma realidade que merece ser sempre considerada na produção e divulgação da ciência e da tecnologia: a conjugação de interesses de toda ordem (políticos, econômicos, militares, empresariais etc) que, gradativamente, constrangem e penalizam a qualidade destes dois processos (produção e divulgação). Basta lembrar que o maior esforço de pesquisa e de desenvolvimento está hoje a serviço de interesses militares e que o investimento em determinadas áreas (saúde, biotecnologia etc) tem por fim, prioritariamente, favorecer grandes corporações (ou seja o lucro) e não os cidadãos de maneira geral. A divulgação científica tem estado cada vez mais cerceada pelos contratos de exclusividade (sigilo de informações) firmados entre universidades e institutos de pesquisa com empresas privadas e públicas. Pode-se dizer, sem medo de cometer injustiças, que a ciência e a tecnologia de ponta estão a mercê do capital e não do interesse público, apesar do discurso de governos e empresas que pregam a cidadania, o compromisso com a sociedade, mas estão apenas interessados em atender os seus acionistas.
A ciência e a tecnologia são mercadorias valiosas e não estão necessariamente, como sempre se buscou acentuar nos colégios, a serviço da humanidade porque, muitas vezes, têm a ver mais com os objetivos do complexo militar, industrial, financeiro etc. É certo que, pelo menos grande parte da pesquisa brasileira, realizada por investigadores individuais ou em pequenas equipes nas universidades e centros de pesquisa, ainda assume uma perspectiva positiva, desvinculada de outros interesses extra-científicos, mas o cenário vai pouco a pouco se modificando com o aumento da complexidade dos projetos e a necessidade de recursos para sua realização. É preciso, em alguns casos, tomar cuidado com algumas fontes suspeitas que, travestidas de titulação acadêmica e respaldadas em prestígio derivado dos seus trabalhos de pesquisa, não passam de porta-vozes dos grandes interesses comerciais. Será sempre interessante verificar quem anda financiando estes "phds com bocas alugadas" que comparecem às redações, apresentados por agências de comunicação, para veicular pretensas notícias científicas que nada mais são do que propaganda de determinadas empresas ou setores. Quem se propõe a fazer isso (seguir o dinheiro - "follow the money", como dizem os americanos) descobrirá atrás do noticiário sobre transgênicos (cuidado com o CIB- Conselho de Informações sobre Biotecnologia!) a mão das multinacionais que andam promovendo o monopólio das sementes e vociferando contra a biodiversidade. Nem sempre é saudável acreditar em empresas que têm santo no nome ou que proclamam os seus "embaixadores ambientais". Há uma ciência e uma tecnologia comprometidas atrás dos releases e do noticiário que se originam de algumas fontes. Uma pista: se uma empresa agroquímica, mineradora ou de celulose incorpora o discurso da sustentabilidade em sua divulgação, mesmo apoiada no depoimento de um especialista, não caia no logro: tem, como diz o ditado, gato na tuba, ou seja, estão querendo passar a perna em todos nós. Não confunda ciência com marketing verde porque nem sempre "a química está a serviço da vida" e fabricar cigarro será sempre produzir droga, independente dos prêmios recebidos pelo "relatório social" da indústria tabagista.
No mundo inteiro - e não apenas no Brasil - as empresas estão cada vez mais próximas das universidades e centros de pesquisa e, ressalvadas as exceções, muitas acabam, pela fragilidade das nossas instituições de ensino e pesquisa, se apropriando do conhecimento nelas desenvolvido com intenções meramente comerciais. Grupos de pesquisa, formados com dinheiro público, se transferem para empresas privadas e continuam desenvolvendo projetos relevantes que beneficiam mais as organizações que os financiam do que a sociedade. Quem se lembra da relação entre a Novartis , uma poderosa indústria farmacêutica, e um instituto voltado para a pesquisa da biodiversidade na Amazônia (consulte com a palavra-chave " Projeto BioAmazônia Novartis" no Google e ficará surpreso com o que vai encontrar por lá), pode imaginar o que tende a ocorrer, se não houver uma vigilância permanente sobre essa interação nem sempre transparente e ética entre empresas e centros geradores de ciência e tecnologia.
A ciência e a tecnologia precisam estar comprometidas com o interesse dos cidadãos que as financiam e, especialmente no Brasil, as instituições de ensino e pesquisa que são subsidiadas pela sociedade têm a obrigação de prestar contas dos recursos investidos em ciência e tecnologia. Merecem menção sob este aspecto entidades como a Fapesp (referência internacional no apoio a projetos de pesquisa mas também em divulgação científica) e alguns institutos e empresas de pesquisa que promovem tanto a produção como a divulgação de ciência e tecnologia (a Fiocruz e a Embrapa são exemplos modelares). Outras entidades estaduais (Fapemig, Faperj etc) também merecem ser lembradas pelo mesmo trabalho, especialmente porque, pouco a pouco, buscam dar visibilidade aos projetos que financiam, cumprindo a função primordial de prestar contas dos investimentos realizados com recursos públicos.
O Jornalismo Científico ganhou novo impulso com a internet e multiplicam-se felizmente as publicações na internet (a revista ComCiência, do Labjor/Unicamp é excelente!), bem como são dignas de elogios algumas publicações tradicionais de divulgação e Jornalismo Científico, como Ciência Hoje, Revista Pesquisa Fapesp, Scientific American Brasil e mesmo as de maior tiragem, como Galileu e Superinteressante. É preciso ressaltar que esta última tende, infelizmente neste momento, a se desviar um pouco desta área, seduzida pelo apelo comercial do esoterismo, de temas sensacionais e/ou sensacionalistas e do espírito de almanaque, embora cumpra um papel fundamental junto aos jovens, seu principal público-alvo.
A divulgação científica também tem sido estimulada pela iniciativa de editoras e autores (ainda tímida no Brasil) de publicar livros sobre temas de ciência para os nossos jovens e as nossas crianças. É imperioso destacar, neste momento, o trabalho realizado pela Oficina de Textos, uma editora paulista que tem publicado obras de divulgação sobre temas de ciência atuais e relevantes, premiando a nossa juventude.
Não se pode deixar de mencionar o trabalho competente e pioneiro coordenado pelo prof. Ildeu de Castro Moreira , no MCT, com a realização de pesquisas (lembremos, por exemplo, a investigação recente sobre a percepção da ciência e da tecnologia pelo brasileiro), apoio a projetos e contribuição efetiva ao aumento da massa crítica na área da divulgação científica no Brasil.
Finalmente, é preciso reconhecer o apoio que a Universidade Metodista de São Paulo - UMESP tem dado à pesquisa na área, especialmente no seu Programa de Pós-Graduação, que há quase 3 décadas abriga projetos de mestrado e mais recentemente de doutorado em Jornalismo Científico e Comunicação Científica, de maneira geral. Ela é responsável por pelo menos uma centena de dissertações e teses já defendidas neste campo, contribuindo, vigorosamente, para a formação de novos quadros (basta lembrar que dos 5 diretores da ABJC, 4 têm mestrado ou doutorado pela UMESP e dois são seus professores).
Os exemplos citados merecem ser seguidos porque indicam o caminho adequado para o crescimento do Jornalismo Científico e da divulgação científica no Brasil. A área precisa de apoio permanente para continuar se desenvolvendo porque é vital para a democracia e para a qualificação do debate sobre ciência, tecnologia e inovação. Os exemplos da Fapesp, do Labjor/Unicamp, da UMESP e da Sanofi-Aventis, que emprestaram apoio ao Congresso Brasileiro de Jornalismo Científico, merecem ser seguidos.
Sem uma divulgação e um Jornalismo Científico qualificados, a ciência e a tecnologia brasileira que, em muitas áreas, competem com as realizadas nos países chamados hegemônicos, permanecerão distantes dos cidadãos, das autoridades, dos parlamentares, da sociedade de maneira geral. Impedir que isso aconteça é dever de todos nós.
Fonte: Por Wilson da Costa Bueno, in portalimprensa.uol.com.br
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