Pular para o conteúdo principal

Os desafios corporativos mais radicais

Para muitos, a montanha mais bonita da Terra é o K2, situada em Karakórum, uma parte da cordilheira do Himalaia, na fronteira entre o Paquistão, Índia e China. Com 8.611 metros, é a mais alta do mundo, logo depois do Everest. Além disso, convenhamos, é também o grande objetivo de qualquer alpinista.

O ano de 2004 foi especialmente bom para o K2, já que se comemoravam os 50 anos da primeira escalada - façanha realizada por dois italianos. Esse feito atraiu um grande número de expedições, entre elas a da basca Edurne Pasabán, que alcançou o pico da montanha nesse mesmo ano, convertendo-se na primeira mulher espanhola a realizar tal proeza, que lhe custou a perda de duas falanges dos dedos dos pés por congelamento.

Além disso, Edurne escalou dez dos quatorze picos mundiais de mais de 8 mil metros. Um integrante da expedição catalã, da qual fazia parte Valentín Giró, também alcançou o cume da montanha em 2004.

Estes dois alpinistas, junto a Joan Quitana, ex-diretor de gestão e desenvolvimento de Recursos Humanos da La Caixa, e professor da Esade, reconstruíram, durante a conferência "Lições Empresariais no K2", a difícil aventura de atingir os picos das montanhas mais inacessíveis do planeta. Também fizeram reflexões sobre os paralelos entre os objetivos empresariais e os esportes radicais.

A audiência? Mais de 200 executivos reunidos em Barcelona por ocasião do encontro mundial da EMA Partners International, uma associação de empresas especializadas na busca e seleção de executivos, muitos deles headhunters.
Javier Guillén, sócio diretor da Status, e integrante da EMA, afirma que os dois desportistas realizam "paralelos reais, não imaginários, como o manejo do fracasso ou como tornar possível um projeto impossível, problemas que também podem surgir escalando uma montanha", destaca.

Este é um campo de aprendizagem, tanto pessoal como profissional. "Essa aprendizagem é muito poderosa porque desnuda a sua personalidade e a de sua equipe rapidamente. Durante dois meses se convive a 5 mil metros de altura, equipando a montanha, carregando material, subindo e descendo. É um processo muito lento, e não só o físico atinge seu limite, mas também a cabeça, o coração e o espírito", disse Giró, formado em ciências empresarias pela Esade.

Para Giró, as pessoas funcionam como indivíduos, profissionais e equipe. "Como indivíduos, falamos do modo como nos recuperamos depois de um desgaste. A ascensão na montanha exaure os alpinistas física, mental, emocional e espiritualmente. É preciso estar consciente a esse respeito, e recarregar as pilhas para continuarmos o trabalho. Os empresários também se desgastam, sobem milhares de metros por ano, e muitas vezes acabam estressados."

Como profissionais, destaca Giró, o mais importante é o compromisso, e isso também ocorre no alpinismo. "Ali é um compromisso de 100%, não existem meias medidas; ou se está ou não se está", prossegue o especialista. "Você se compromete com um projeto, como em uma empresa, e precisa compartilhar os valores, a missão e os sonhos. Para nós, o sonho não era atingir o cume, mas estar no K2 e reabrir a via Magic Line que percorre a SSW."

Como equipe, acrescentou Giró, a confiança é o mais importante ao se escalar, e nos torna fortes. "É a pedra angular e a chave-mestra do desempenho. A confiança existe em termos de honestidade, capacidade e responsabilidade", enumera Giró.
Entretanto, embora existam paralelos entre escalar e dirigir uma empresa, Giró acredita que a gestão empresarial é mais complicada que o alpinismo. "As equipes são maiores, o projeto ocupa mais tempo e o cenário também é mais complexo." Em termos profissionais, o executivo pode muito bem "morrer" na tentativa. "Na Espanha, o estigma do fracasso fica para sempre presente. Nos Estados Unidos, porém, o empresário morre, mas pode ressuscitar. No alpinismo também se vive o êxito e o insucesso", finaliza Giró.


Fonte: Por Ana Colmenarejo/Expansión, in Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 9

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su...

Funcionários da Domino´s Pizza postam vídeo no You Tube e são processados

Dois funcionários irresponsáveis imaginam um vídeo “muito engraçado” usando alimentos e toda sorte de escatologia. O cenário é uma cozinha da pizzaria Domino´s. Pronto, está feito o vídeo que mais chamou a atenção da mídia americana na semana passada. Nele, os dois funcionários se divertem enquanto um espirra na comida, entre outras amostras de higiene pessoal. Tudo isso foi postado no you tube no que eles consideraram “uma grande brincadeira”. O vídeo em questão, agora removido do site, foi visto por mais de 930 mil pessoas em apenas dois dias. (o vídeo já foi removido, mas pode ser conferido em trechos nesta reportagem: http://www.youtube.com/watch?v=eYmFQjszaec ) Mas para os consumidores da rede, é uma grande(síssima) falta de respeito. Restou ao presidente a tarefa de “limpar” a bagunça (e a barra da empresa). Há poucos dias, Patrick Doyle, CEO nos EUA, veio a público e respondeu na mesma moeda. No vídeo de dois minutos no You Tube, Doyle ( http://www.youtube.com/watch?v=7l6AJ49xNS...

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De...