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Podres poderes

A adulteração do leite longa vida integral com uma mistura de soda cáustica e água oxigenada, praticada por duas cooperativas de produtores de leite das cidades mineiras de Uberaba e Passos, é um crime que atinge milhões de famílias e suas crianças.

O envenenamento deste alimento básico era praticado havia mais de dois anos. E, mais uma vez, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e o Ministério da Agricultura, instituições com responsabilidades relacionadas à qualidade de alimentos consumidos pela população deixaram de fazer o seu trabalho de fiscalizar o que estamos comendo e bebendo, da mesma forma, que na aviação civil, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) não fiscalizou os serviços no contexto do chamado apagão aéreo.

A crise dos serviços de aviação civil, que não terminou ainda, contabilizou quase 200 mortos, manchetes dramáticas, imagens do acidente do aeroporto de Congonhas passadas e repassadas pelas mídias de todo o mundo. Já o crime do leite longa vida, praticado no interior do país, não tem a força considerada pela lógica do espetáculo para virar manchetes, mas deveria, pois, o crime não rastreado pelas lentes das mídias é mais um exemplo que o sistema controlador do Estado brasileiro não controla nada. É apenas mais um grande aparato burocrático inútil e consumidor de recursos sociais, que poderiam ser melhores empregados. Além de desmoralizar e desacreditar a idéia de controle independente, em favor da sociedade, que criou as agências reguladoras.

A imagem e a reputação dessas agências reguladoras andam de mal para pior. Nada se sabe de suas missões e valores reais. Seus dirigentes e suas competências são desconhecidos pela sociedade. A comunicação dessas instituições como expressão de suas inoperâncias administrativas é reduzida aos seus sítios digitais, sem interação com os interessados em saber o que fazer diante dos crimes de consumo contra passageiros e, no caso do leite envenenado, crianças indefesas.

A reputação é construída das memórias que os cidadãos têm de uma organização. Principalmente das proustianas memórias involuntárias, que vêm do passado vivo. Em exposição para centenas de comunicadores que participaram da 3ª Conferência ABERJE de Comunicação Empresarial, acontecida neste outubro, Levi Carneiro, estudioso dos temas da reputação e da marca, lembrou que as boas percepções de consumidores são construídas a partir de sentimentos como a admiração e a confiança que estes têm das organizações com as quais se relacionam. Para Levi, somam-se a estes sentimentos a capacidade de inovação, história e evolução, a qualidade de produtos e serviços e a responsabilidade social da empresa ou instituição.

Pobre do país e da população que têm instituições públicas que geram apenas sentimentos de desconfiança e repugnância.


Fonte: Por Paulo Nassar, in terramagazine.terra.com.br

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