Paulo Lima previu o meu futuro em 1993. Contei que tinha largado o emprego para fundar minha própria editora, ele riu: “Welcome to hell”.
Realmente. De repórter a editor, a criador de novas empresas e novos negócios (quantos?), passei anos quentes aprendendo que o inferno é mais divertido que o paraíso. Acertei umas boas, errei umas incríveis. Fui mais que chamuscado — fui temperado.
Quando comecei era simples, era rock’n’roll, e era você contra ou a favor do “Sistema”. Em 1988 eu era um cabeludo que escrevia sobre música na Folha. Lidava todo dia com o poder e a arrogância da indústria fonográfica. Não existia internet nem CD nem MTV nem disco e, na prática, nem PC. Hoje ela está moribunda. No Brasil, encolheu 31,2% de 2007 para 2008. Caiu para R$ 312,5 milhões, incluindo DVDs e venda digital via net e celular.
A indústria morreu, viva a música. Nunca tivemos acesso a tantos artistas, e de graça. Cada um deles está virando sua própria gravadora e competindo pelos “mil fãs” que devem bastar para sustentar (não enriquecer) qualquer criador, segundo a teoria de Kevin Kelly.
Ninguém sensato preveria o fim melancólico da indústria fonográfica em 1998. Mas ninguém nunca me acusou de sensatez, então vaticino: as próximas vítimas serão justamente as empresas de comunicação e as agências de publicidade.
É um fenômeno global, local e causado por avanços tecnológicos e mudanças sociais irreversíveis. A maioria dos grupos de comunicação brasileiros já está em situação financeira frágil ou pior. Sobrarão poucos, quase irreconhecíveis — assunto para outro dia.
A indústria está morrendo, viva a comunicação. A maneira mais fácil de prever o futuro é criá-lo. Quem está criando nosso futuro, e que cara ele terá? Responder a essas duas questões é meu trabalho — e meu assunto no Meio & Mensagem.
Minhas apostas revelam minhas respostas. Parte importante do futuro da comunicação é da tal Décima Arte, o entretenimento audiovisual interativo, também conhecido como videogame. Puxo a sardinha para a minha brasa, mas os números são incontestáveis (leia a versão desta coluna no M&M Online).
Quer saber como será a Copa de 2014? Compre um Nintendo Wii. É muito mais estimulante jogar/participar/competir/interferir do que ficar jogado no sofá deglutindo a mesma coisa de sempre. Seriados, reality shows, jornalismo, publicidade, novelas — tudo será recriado do ponto de vista da interatividade, do jogo, da diversão comunitária.
2014 será a primeira Copa que não será somente assistida, mas jogada por milhões (bilhões?) de pessoas. A maioria dos grande players do mundo da comunicação não será capaz de se reinventar nos próximos seis anos. Tchauzinho.
O apocalipse digital na comunicação é só a parte visível do iceberg. Chris Anderson, autor de A Cauda Longa, defende em seu novo livro, Free: a tecnologia tem poder deflacionário. E todas as indústrias estão se tornando parcialmente indústrias digitais. Por isso, “grátis” é o melhor preço para a maioria dos produtos e serviços que consumimos.
Um exemplo de Anderson que interessa aos leitores do M&M: o Google transformou a publicidade em um software. Era um negócio baseado em economia humana, analógica (as coisas ficam cada vez mais escassas e mais raras). Hoje é um negócio digital (as coisas barateiam a cada minuto).
Chris Anderson é, antes de mais nada, um repórter de tecnologia. Sabe o que alguns dos maiores cérebros vivos estão pensando — por exemplo, Ben Shneiderman, professor de ciência da computação da Universidade de Maryland e autor de Leonardo’s Laptop (MIT Press).
Ele cunhou o termo “Ciência 2.0”, que define os novos tipos de ciência sendo criados para dar conta dos novos problemas. O método da Ciência tradicional continua valendo: testar as hipóteses, construir modelos, validar, replicar, generalizar.
Mas os desafios da Ciência 2.0 não podem ser estudados adequadamente em condições de laboratório. Eles estão por aí — são colaborações entre pessoas, comunicação entre comunidades, operações financeiras planetárias. O nome bonito é “sistemas sociotecnológicos”.
Shnaiderman diz que a grande aventura científica dos próximos 400 anos será definir, mensurar e prever a interação entre quatro variáveis: Empatia, Responsabilidade, Privacidade e Confiança.
Agora a gente tem de entender de ciência também? É. E de moda, sociologia, comércio, sustentabilidade. Ei, não me culpe. Mas estamos vivendo num mundo de ficção científica. Precisamos de estilo sedutor e técnica eficiente. Essa é a Nova Fronteira da comunicação. E nós — na manha ou na marra — somos seus exploradores.
Fonte: Por André Forastieri - É fácil prever o futuro, in www.meioemensagem.com.br
Realmente. De repórter a editor, a criador de novas empresas e novos negócios (quantos?), passei anos quentes aprendendo que o inferno é mais divertido que o paraíso. Acertei umas boas, errei umas incríveis. Fui mais que chamuscado — fui temperado.
Quando comecei era simples, era rock’n’roll, e era você contra ou a favor do “Sistema”. Em 1988 eu era um cabeludo que escrevia sobre música na Folha. Lidava todo dia com o poder e a arrogância da indústria fonográfica. Não existia internet nem CD nem MTV nem disco e, na prática, nem PC. Hoje ela está moribunda. No Brasil, encolheu 31,2% de 2007 para 2008. Caiu para R$ 312,5 milhões, incluindo DVDs e venda digital via net e celular.
A indústria morreu, viva a música. Nunca tivemos acesso a tantos artistas, e de graça. Cada um deles está virando sua própria gravadora e competindo pelos “mil fãs” que devem bastar para sustentar (não enriquecer) qualquer criador, segundo a teoria de Kevin Kelly.
Ninguém sensato preveria o fim melancólico da indústria fonográfica em 1998. Mas ninguém nunca me acusou de sensatez, então vaticino: as próximas vítimas serão justamente as empresas de comunicação e as agências de publicidade.
É um fenômeno global, local e causado por avanços tecnológicos e mudanças sociais irreversíveis. A maioria dos grupos de comunicação brasileiros já está em situação financeira frágil ou pior. Sobrarão poucos, quase irreconhecíveis — assunto para outro dia.
A indústria está morrendo, viva a comunicação. A maneira mais fácil de prever o futuro é criá-lo. Quem está criando nosso futuro, e que cara ele terá? Responder a essas duas questões é meu trabalho — e meu assunto no Meio & Mensagem.
Minhas apostas revelam minhas respostas. Parte importante do futuro da comunicação é da tal Décima Arte, o entretenimento audiovisual interativo, também conhecido como videogame. Puxo a sardinha para a minha brasa, mas os números são incontestáveis (leia a versão desta coluna no M&M Online).
Quer saber como será a Copa de 2014? Compre um Nintendo Wii. É muito mais estimulante jogar/participar/competir/interferir do que ficar jogado no sofá deglutindo a mesma coisa de sempre. Seriados, reality shows, jornalismo, publicidade, novelas — tudo será recriado do ponto de vista da interatividade, do jogo, da diversão comunitária.
2014 será a primeira Copa que não será somente assistida, mas jogada por milhões (bilhões?) de pessoas. A maioria dos grande players do mundo da comunicação não será capaz de se reinventar nos próximos seis anos. Tchauzinho.
O apocalipse digital na comunicação é só a parte visível do iceberg. Chris Anderson, autor de A Cauda Longa, defende em seu novo livro, Free: a tecnologia tem poder deflacionário. E todas as indústrias estão se tornando parcialmente indústrias digitais. Por isso, “grátis” é o melhor preço para a maioria dos produtos e serviços que consumimos.
Um exemplo de Anderson que interessa aos leitores do M&M: o Google transformou a publicidade em um software. Era um negócio baseado em economia humana, analógica (as coisas ficam cada vez mais escassas e mais raras). Hoje é um negócio digital (as coisas barateiam a cada minuto).
Chris Anderson é, antes de mais nada, um repórter de tecnologia. Sabe o que alguns dos maiores cérebros vivos estão pensando — por exemplo, Ben Shneiderman, professor de ciência da computação da Universidade de Maryland e autor de Leonardo’s Laptop (MIT Press).
Ele cunhou o termo “Ciência 2.0”, que define os novos tipos de ciência sendo criados para dar conta dos novos problemas. O método da Ciência tradicional continua valendo: testar as hipóteses, construir modelos, validar, replicar, generalizar.
Mas os desafios da Ciência 2.0 não podem ser estudados adequadamente em condições de laboratório. Eles estão por aí — são colaborações entre pessoas, comunicação entre comunidades, operações financeiras planetárias. O nome bonito é “sistemas sociotecnológicos”.
Shnaiderman diz que a grande aventura científica dos próximos 400 anos será definir, mensurar e prever a interação entre quatro variáveis: Empatia, Responsabilidade, Privacidade e Confiança.
Agora a gente tem de entender de ciência também? É. E de moda, sociologia, comércio, sustentabilidade. Ei, não me culpe. Mas estamos vivendo num mundo de ficção científica. Precisamos de estilo sedutor e técnica eficiente. Essa é a Nova Fronteira da comunicação. E nós — na manha ou na marra — somos seus exploradores.
Fonte: Por André Forastieri - É fácil prever o futuro, in www.meioemensagem.com.br
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