Controverso, remando contra a maré da incensada web 2.0, Andrew Keen é crítico da proliferação exagerada de blogs e considera a internet uma atmosfera inconsequente e narcisista. Suas ideias estão no livro ‘O culto do amador – Como blogs, MySpace, YouTube e a pirataria digital estão destruindo nossa economia, cultura e valores’, lançado este ano no Brasil pela Jorge Zahar Editor.
O historiador inglês, ex-professor das universidades de Berkeley e Massachusetts, nos Estados Unidos, investe pesado contra a celebração do amadorismo representado pela interatividade facilitada de serviços, como Wikipedia e YouTube. Em entrevista ao Nós da Comunicação, Keen mostra porque é a voz dissonante da web colaborativa.
Nós da Comunicação – É fácil concordar quando você defende que a internet estimula a criação de uma subcultura digital. Mas dizer que a web está matando nossa cultura não é um exagero? Uma pessoa, hoje, com o mínimo de discernimento, não sabe que não pode confiar 100% nas informações da Wikipedia, por exemplo?
Andrew Keen – A noção de que a internet está matando nossa cultura é uma vulgarização da relação causal existente entre tecnologia e cultura. Em vez de ser um efeito colateral de nossa cultura, a internet é realmente nossa cultura. Então, quando olhamos para a Rede, estamos encarando a nós mesmos. É um espelho que nos diz o modo como pensamos sobre nós mesmos.
Nós da Comunicação – Grandes empresas de mídia não são capazes de coexistir com os milhões de blogueiros pelo mundo postando notícias? No fim das contas, o bom jornalismo é feito de credibilidade. Em sua opinião, por causa do volume imenso de informação e fragmentação, os leitores não estão mais conseguindo separar o joio do trigo?
A. K. – Sim, o jornalismo realmente é feito de credibilidade, e esse é o real problema atualmente. Você sugere que pessoas com o mínimo de informação sabem que nem tudo que está na Wikipedia está correto. Mas isso está errado. Muitas crianças confiam na Wikipedia e no Google como se fossem fontes absolutamente confiáveis (pergunte aos pais e professores, que confirmarão isso). Vivemos em uma era com muita credibilidade quando, na verdade, o que precisamos é ceticismo. A única maneira de lidar com a web 2.0 é sendo incrédulo, e incredulidade é um dos recursos mais escassos ultimamente em nossa evangélica cultura popular.
Nós da Comunicação – Como você responde às críticas do jornalista Jeff Jarvis, autor do popular blog BuzzMachine, que definiu você como ‘grosseiro, um conservador tentando se agarrar ao passado, um mastodonte rosnando contra o vento da mudança’?
A. K. – Respondo rosnando, latindo e cheirando o traseiro dele.
Nós da Comunicação – Em 2006, a revista ‘Time’, em vez de conceder seu tradicional prêmio ‘personalidade do ano’ a uma pessoa, estendeu a premiação aos criadores individuais de conteúdo, “You” (“Você”). O que você achou disso?
A. K. – Achei o auge do absurdo do movimento web 2.0, e eu estava certo. Desde então, todo esse movimento de usuário gerando conteúdo passou a entrar em declínio. Agora, nem o YouTube, o terceiro local mais visitado da web, consegue ganhar dinheiro. Como disse anteriormente, quando olhamos para a internet, olhamos para nós mesmos. Então, esse ‘Você’ é, na realidade, você e eu. O prêmio foi um exemplo desavergonhado de narcisismo digital. Os gregos – que inventaram o mito de Narciso – teriam se divertido muito.
Nós da Comunicação – Você realmente pensa que conteúdo de boa qualidade só pode ser o pago e produzido necessariamente por profissionais?
A. K. – Um profissional é alguém que é pago por seu trabalho; um amador faz isso de graça. Acredito que o bom conteúdo deve ser recompensado financeiramente, porque é preciso tempo e energia para produzi-lo. Quando esse criador não é remunerado e tem de ter outro emprego para manter seu trabalho criativo, então, é provável que esse resultado seja inferior.
Nós da Comunicação – Existe algum lado positivo na democratização da internet?
A. K. – Sim, existem muitos aspectos positivos. Fico empolgado quando vejo que a mídia tradicional está sendo forçada a se transformar radicalmente. Sou um grande admirador de serviços em tempo real, como Twitter e Friendfeed, e sou a favor de capacitar jovens jornalistas, cineastas e escritores, que têm sido ignorados pela grande mídia. O desafio, porém, é ter certeza de que há o talento, e não seja apenas autopromoção sendo recompensada. Temo que por trás da ‘democratização da internet’ esteja uma nova oligarquia de aristocratas da autopromoção que moldará nossa cultura, a seu capricho.
Fonte: Por Christina Lima, in www.nosdacomunicacao.com
O historiador inglês, ex-professor das universidades de Berkeley e Massachusetts, nos Estados Unidos, investe pesado contra a celebração do amadorismo representado pela interatividade facilitada de serviços, como Wikipedia e YouTube. Em entrevista ao Nós da Comunicação, Keen mostra porque é a voz dissonante da web colaborativa.
Nós da Comunicação – É fácil concordar quando você defende que a internet estimula a criação de uma subcultura digital. Mas dizer que a web está matando nossa cultura não é um exagero? Uma pessoa, hoje, com o mínimo de discernimento, não sabe que não pode confiar 100% nas informações da Wikipedia, por exemplo?
Andrew Keen – A noção de que a internet está matando nossa cultura é uma vulgarização da relação causal existente entre tecnologia e cultura. Em vez de ser um efeito colateral de nossa cultura, a internet é realmente nossa cultura. Então, quando olhamos para a Rede, estamos encarando a nós mesmos. É um espelho que nos diz o modo como pensamos sobre nós mesmos.
Nós da Comunicação – Grandes empresas de mídia não são capazes de coexistir com os milhões de blogueiros pelo mundo postando notícias? No fim das contas, o bom jornalismo é feito de credibilidade. Em sua opinião, por causa do volume imenso de informação e fragmentação, os leitores não estão mais conseguindo separar o joio do trigo?
A. K. – Sim, o jornalismo realmente é feito de credibilidade, e esse é o real problema atualmente. Você sugere que pessoas com o mínimo de informação sabem que nem tudo que está na Wikipedia está correto. Mas isso está errado. Muitas crianças confiam na Wikipedia e no Google como se fossem fontes absolutamente confiáveis (pergunte aos pais e professores, que confirmarão isso). Vivemos em uma era com muita credibilidade quando, na verdade, o que precisamos é ceticismo. A única maneira de lidar com a web 2.0 é sendo incrédulo, e incredulidade é um dos recursos mais escassos ultimamente em nossa evangélica cultura popular.
Nós da Comunicação – Como você responde às críticas do jornalista Jeff Jarvis, autor do popular blog BuzzMachine, que definiu você como ‘grosseiro, um conservador tentando se agarrar ao passado, um mastodonte rosnando contra o vento da mudança’?
A. K. – Respondo rosnando, latindo e cheirando o traseiro dele.
Nós da Comunicação – Em 2006, a revista ‘Time’, em vez de conceder seu tradicional prêmio ‘personalidade do ano’ a uma pessoa, estendeu a premiação aos criadores individuais de conteúdo, “You” (“Você”). O que você achou disso?
A. K. – Achei o auge do absurdo do movimento web 2.0, e eu estava certo. Desde então, todo esse movimento de usuário gerando conteúdo passou a entrar em declínio. Agora, nem o YouTube, o terceiro local mais visitado da web, consegue ganhar dinheiro. Como disse anteriormente, quando olhamos para a internet, olhamos para nós mesmos. Então, esse ‘Você’ é, na realidade, você e eu. O prêmio foi um exemplo desavergonhado de narcisismo digital. Os gregos – que inventaram o mito de Narciso – teriam se divertido muito.
Nós da Comunicação – Você realmente pensa que conteúdo de boa qualidade só pode ser o pago e produzido necessariamente por profissionais?
A. K. – Um profissional é alguém que é pago por seu trabalho; um amador faz isso de graça. Acredito que o bom conteúdo deve ser recompensado financeiramente, porque é preciso tempo e energia para produzi-lo. Quando esse criador não é remunerado e tem de ter outro emprego para manter seu trabalho criativo, então, é provável que esse resultado seja inferior.
Nós da Comunicação – Existe algum lado positivo na democratização da internet?
A. K. – Sim, existem muitos aspectos positivos. Fico empolgado quando vejo que a mídia tradicional está sendo forçada a se transformar radicalmente. Sou um grande admirador de serviços em tempo real, como Twitter e Friendfeed, e sou a favor de capacitar jovens jornalistas, cineastas e escritores, que têm sido ignorados pela grande mídia. O desafio, porém, é ter certeza de que há o talento, e não seja apenas autopromoção sendo recompensada. Temo que por trás da ‘democratização da internet’ esteja uma nova oligarquia de aristocratas da autopromoção que moldará nossa cultura, a seu capricho.
Fonte: Por Christina Lima, in www.nosdacomunicacao.com
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