Crises econômicas como a eclodida em 2008, além dos prejuízos intrínsecos à queda do nível de atividade, costumam produzir um grave efeito colateral: relegar a segundo plano temas da mais alta importância, como a mudança climática, os riscos quanto à insegurança alimentar, as Metas do Milênio, os gargalos da saúde e do ensino, o meio ambiente e a exclusão social. Embora compreensível, é equivocado mitigar o foco na sustentabilidade, não só no âmbito dos governos, como das empresas, para as quais essas questões têm significado cada vez mais decisivo.
Os balanços sociais das companhias de capital aberto e suas políticas de governança corporativa há muito não se restringem às ações voltadas à melhoria da qualidade de vida e de trabalho de seus funcionários, de seus programas de qualidade e dos cuidados em não poluir o entorno de sua sede, escritórios e unidades produtivas. Muito além desses relevantes valores inerentes ao universo interno e de sua rede direta de relacionamento, os compromissos das empresas incluem, cada vez mais, contribuições à promoção social no universo externo, bem como relação ética e transparente com clientes, consumidores e a sociedade.
Essas práticas, felizmente, disseminam-se de modo amplo e rápido no Brasil, abrangendo também as empresas de capital fechado. A grande maioria inclina-se à responsabilidade socioambiental, sensibilizada pela consciência crescente da presente civilização, na qual indústrias, lojas, prestadores de serviços e bancos política e ambientalmente corretos têm a preferência explícita dos consumidores. A empresa longeva e vencedora neste século será aquela que conciliar qualidade em tudo o que faz e produz, boas condições de trabalho para preservar seus talentos e muito foco — extra e intramuros — na sustentabilidade, em sua mais ampla acepção.
Essas premissas constituem-se no parâmetro da atuação empresarial no Terceiro Setor. Por meio de fundações e institutos próprios, apoio a instituições similares mantidas por terceiros, participação em projetos de entidades beneficentes, culturais, esportivas, educacionais, de saúde e ambientais, ou com a realização de iniciativas próprias, toda empresa pode e deve adotar práticas focadas no bem comum. Vivemos em uma era de plena democracia, na qual “público” deixou de ser um quase sinônimo de “estatal”.
É óbvio que a crise econômica pode ter impacto sobre as ações do Terceiro Setor, em especial no tocante à redução de investimentos. Contudo, não é prudente perder o foco e deixá-las em segundo plano, inclusive pelo fato de que não haverá solução para o capitalismo contemporâneo alheia à sustentabilidade e à responsabilidade socioambiental. Assim, em paralelo às soluções de mercado, é muito importante que as empresas, respeitando o limite de suas possibilidades, mantenham seus programas no âmbito do Terceiro Setor.
A cada brasileiro que for dada uma chance de alcançar os direitos básicos da cidadania, o País avançará um pouco na solução da crise e no contexto mais amplo do processo de desenvolvimento. Nesse sentido, são prioritárias as iniciativas com maior capacidade de inclusão social, capazes de propiciar alimentação adequada, assistência médica, alguma habilidade profissional, encaminhamento ao ensino regular e suplementação educacional. A porta de entrada pode ser um projeto de esporte, cultura, teatro ou convivência. O importante é que a sociedade contribua para a democratização das oportunidades. No universo corporativo brasileiro há programas emblemáticos de responsabilidade socioambiental, que se transformaram em verdadeiras referências, pois apresentam resultados concretos e comprovados.
O engajamento crescente da iniciativa privada na causa da sustentabilidade é muito relevante, pois não existe perspectiva de sobrevivência digna para a humanidade num cenário de devastação ambiental, temperaturas escaldantes, escassez de recursos naturais e insumos e bilhões de pessoas sem pão, teto, saúde e educação. Tornar essa visão caótica mera ficção histórica do presente ou se resignar a ela como realidade do futuro dependerá exclusivamente da capacidade de governos, empresas e pessoas de equacionar uma sociedade sustentável do ponto de vista econômico, social e ambiental.
Assim, como se percebe, a relação das empresas com o Terceiro Setor tem um significado muito mais profundo. É, portanto, na soma da razão, gestão responsável, governança corporativa adequada, espírito empreendedor e responsabilidade socioambiental que se sustentam as perspectivas quanto ao presente e ao futuro. Essa visão mais ampla não pode ser preterida nos momentos agudos de dificuldade, nos quais a prioridade imediata é fechar o caixa no final da tarde, garantir os salários e pagar os fornecedores. É preciso, sim, matar os leões diários da crise, mas sem capitular na luta ferrenha contra as bestas do apocalipse.
Fonte: Por Antoninho Marmo Trevisan - presidente da Trevisan Consultoria e Gestão, da Trevisan Escola de Negócios e do Conselho Consultivo da BDO Trevisan, in HSM Online
Os balanços sociais das companhias de capital aberto e suas políticas de governança corporativa há muito não se restringem às ações voltadas à melhoria da qualidade de vida e de trabalho de seus funcionários, de seus programas de qualidade e dos cuidados em não poluir o entorno de sua sede, escritórios e unidades produtivas. Muito além desses relevantes valores inerentes ao universo interno e de sua rede direta de relacionamento, os compromissos das empresas incluem, cada vez mais, contribuições à promoção social no universo externo, bem como relação ética e transparente com clientes, consumidores e a sociedade.
Essas práticas, felizmente, disseminam-se de modo amplo e rápido no Brasil, abrangendo também as empresas de capital fechado. A grande maioria inclina-se à responsabilidade socioambiental, sensibilizada pela consciência crescente da presente civilização, na qual indústrias, lojas, prestadores de serviços e bancos política e ambientalmente corretos têm a preferência explícita dos consumidores. A empresa longeva e vencedora neste século será aquela que conciliar qualidade em tudo o que faz e produz, boas condições de trabalho para preservar seus talentos e muito foco — extra e intramuros — na sustentabilidade, em sua mais ampla acepção.
Essas premissas constituem-se no parâmetro da atuação empresarial no Terceiro Setor. Por meio de fundações e institutos próprios, apoio a instituições similares mantidas por terceiros, participação em projetos de entidades beneficentes, culturais, esportivas, educacionais, de saúde e ambientais, ou com a realização de iniciativas próprias, toda empresa pode e deve adotar práticas focadas no bem comum. Vivemos em uma era de plena democracia, na qual “público” deixou de ser um quase sinônimo de “estatal”.
É óbvio que a crise econômica pode ter impacto sobre as ações do Terceiro Setor, em especial no tocante à redução de investimentos. Contudo, não é prudente perder o foco e deixá-las em segundo plano, inclusive pelo fato de que não haverá solução para o capitalismo contemporâneo alheia à sustentabilidade e à responsabilidade socioambiental. Assim, em paralelo às soluções de mercado, é muito importante que as empresas, respeitando o limite de suas possibilidades, mantenham seus programas no âmbito do Terceiro Setor.
A cada brasileiro que for dada uma chance de alcançar os direitos básicos da cidadania, o País avançará um pouco na solução da crise e no contexto mais amplo do processo de desenvolvimento. Nesse sentido, são prioritárias as iniciativas com maior capacidade de inclusão social, capazes de propiciar alimentação adequada, assistência médica, alguma habilidade profissional, encaminhamento ao ensino regular e suplementação educacional. A porta de entrada pode ser um projeto de esporte, cultura, teatro ou convivência. O importante é que a sociedade contribua para a democratização das oportunidades. No universo corporativo brasileiro há programas emblemáticos de responsabilidade socioambiental, que se transformaram em verdadeiras referências, pois apresentam resultados concretos e comprovados.
O engajamento crescente da iniciativa privada na causa da sustentabilidade é muito relevante, pois não existe perspectiva de sobrevivência digna para a humanidade num cenário de devastação ambiental, temperaturas escaldantes, escassez de recursos naturais e insumos e bilhões de pessoas sem pão, teto, saúde e educação. Tornar essa visão caótica mera ficção histórica do presente ou se resignar a ela como realidade do futuro dependerá exclusivamente da capacidade de governos, empresas e pessoas de equacionar uma sociedade sustentável do ponto de vista econômico, social e ambiental.
Assim, como se percebe, a relação das empresas com o Terceiro Setor tem um significado muito mais profundo. É, portanto, na soma da razão, gestão responsável, governança corporativa adequada, espírito empreendedor e responsabilidade socioambiental que se sustentam as perspectivas quanto ao presente e ao futuro. Essa visão mais ampla não pode ser preterida nos momentos agudos de dificuldade, nos quais a prioridade imediata é fechar o caixa no final da tarde, garantir os salários e pagar os fornecedores. É preciso, sim, matar os leões diários da crise, mas sem capitular na luta ferrenha contra as bestas do apocalipse.
Fonte: Por Antoninho Marmo Trevisan - presidente da Trevisan Consultoria e Gestão, da Trevisan Escola de Negócios e do Conselho Consultivo da BDO Trevisan, in HSM Online
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