Nesta exata tarde em que paro para escrever esta coluna, sou bombardeada por informações em linha cruzada sobre a tal gripe suína que estoura em todos os lados do mundo; os detalhes sobre o câncer de Dilma Roussef; a declaração do médico do Botafogo de que Maicosuel não jogará a final contra o Flamengo, no domingo; que Rubinho reclamou de Nelsinho Piquet na corrida de Formula 1 do Bahrein ontem, atrapalhando-o; que a Forrester Research fez um seminário bacana sobre Social Media, em Orlando; que tem “novidade” sobre as fotos antigas de Susan Boyle; que Ronaldo Fenômeno esnobou as redes de TV depois do jogo contra o Santos em que fez dois golaços; que Fábio Fernandes criará um agência de publicidade house no Vasco e ajudará a levantar a comunicação e o marketing do clube; que a Receita Federal recomenda “correr” para entregar a declaração do IRPF 2009; que Roberto Carlos quer ter 1 milhão de amigos no Facebook; que...... ufa... coisa à beça, hein?
Isso sem contar os trabalhos caseiros e domésticos e toda a agenda de trabalho corporativo. Palestras, projetos, pesquisas, enfim. Olhando para essa lista, que é só de algumas horas de uma segunda-feira, me pergunto se estamos fazendo bem a nosso tempo “humano” diante de um quadro desses.
No último fim de semana, li uma entrevista interessante do sociólogo polonês Sigmunt Bauman. Aos 83 anos, ele entende bastante de tempo – convenhamos, tem por onde –, e não apenas pela ampulheta bem usada, mas fundamentalmente porque é um apegado analista das consequências sociais trazidas pelo chamado progresso. E progresso, sabemos, aparece sempre “geminado” ao tempo.
A parte mais interessante da entrevista de mister Bauman é sua declaração de que “estamos correndo atrás constantemente. Mas, o que ninguém sabe, é correndo atrás de quê.”
Meio assustador, não é? Na análise do sábio mestre, ele também discorre de forma interessante sobre a noção do tempo dos nativos digitais. Sem parâmetros do passado para comparar o uso do próprio tempo, eles se consideram como os novos sábios, muito mais atentos e disponíveis para receber informações do que seus pais ou avós. O tempo dessa geração virou o tempo preenchido em seu limite máximo. Chegam a construir uma nova valência de tempo. Tempo que, sabemos, continua inelástico, mas que diante dessa geração parece ter criado uma dimensão paralela, nos permitindo abrir vários browsers ao mesmo tempo, ver o vídeo na tela enquanto a música do iPod explode no ouvido ao mesmo tempo que o SMS quica no smartphone. Natural, natural. Ficando muito natural isso tudo...
Esse “novo” tempo – o do homo digitalis – sempre foi minha linha mais apaixonada de análise quando penso nos meios digitais e em como eles têm sido um ponto inflexor de nosso “modus vivendi” e da qualidade de vida. O componente humano (defendo que eles, os computadores, ainda não nos venceram, ok? rsrs) na cadeia da informação onipresente é um enigma, sem dúvida, intrigante e excitante.
A capacidade de desconstruir a informação em vários pedaços e juntá-los depois de forma natural, concomitante ao consumo paralelo e transversal de outro lote de ideias, imagens, vídeos e notícias está nos fazendo mais felizes? Mais confortáveis? Mais sábios?
Não sei. O que me parece é que estamos mais questionadores, nos tornamos melhores consumidores (mais críticos), treinamos nossa inteligência em mais assuntos, questionamos nossos especialistas (médicos, por exemplo) com mais segurança, exercemos a onipresença virtual através das redes de relacionamento como “polvos alienígenas”, desclassificamos velhas teorias sobre público e privado e, enfim, com certeza, chegamos ao fim do dia com um “buffer” respeitável de aprendizado.
Mas aí vem a pergunta que o sábio professor de 83 anos deixa no ar, e que eu faço minha também: onde fica o tal do tempo da reflexão que antes não era preenchido por esse volume de informação? O do autoquestionamento, da conversa consigo mesmo e, por que não, o tempo do tédio? Estaremos nós virando sábios dos ‘mashups”, estruturados, bem falantes, bem pensantes, mas... “pasteurizados”? Tipos antenados que comentam no Twitter sobre as fraldas dos filhos e a nova pesquisa do trabalho, mas que nunca param para ouvir o silêncio? E até onde esse silêncio faz mesmo falta? Até onde gastar o tempo com pensamentos próprios faz falta para nós, humanos twitteiros? Segundo Bauman, no My Space, no Twitter e no Facebook, “o ser humano, enfim, conseguiu abolir a solidão, o olho no olho consigo mesmo.”
Pois é. Não estou escrevendo aqui sobre esse tema para dar respostas, e sim para desconfortavelmente jogá-los no meio das perguntas. Eu não as tenho. Só alguns palpites como os que emiti aqui. O que sei como profissional é que isso impacta demais a comunicação das marcas com seus targets incluídos e não incluídos digitalmente. Há de se ter um olhar além da comunicação, mais perto do antropológico, para rastrear essa nova horda de “novos” humanos que somos. Como pessoa, fico intrigada imaginando qual será a capacidade que temos, no curto prazo, de conviver e, principalmente, entender nosso lugar de “sábios” neste mundo de exabytes em demasia (1 exabyte equivale a mais de 1 bilhão de gigabytes). E que tipo de sábios – e isso é crucial – estamos nos tornando?
Não há um tempo na história da humanidade em que não tivesse o homem a necessidade de colocar a mão no queixo e pensar para onde iria. Desconfiar de sua sabedoria, temer pelo futuro, desafiar seus adversários com uma ponta necessária de sentir medo de fracassar. Olhar para o futuro com a esperança de conquistar. Coisas que, convenhamos, nos ajudam a entender o fascinante universo que somos. Pois é, como diria uma amiga minha, as pessoas não são mesmo fascinantes? É... conectadamente fascinantes!
Fonte: Por Risoletta Miranda - sócia e diretora da Addcomm, in www.nosdacomunicacao.com
Isso sem contar os trabalhos caseiros e domésticos e toda a agenda de trabalho corporativo. Palestras, projetos, pesquisas, enfim. Olhando para essa lista, que é só de algumas horas de uma segunda-feira, me pergunto se estamos fazendo bem a nosso tempo “humano” diante de um quadro desses.
No último fim de semana, li uma entrevista interessante do sociólogo polonês Sigmunt Bauman. Aos 83 anos, ele entende bastante de tempo – convenhamos, tem por onde –, e não apenas pela ampulheta bem usada, mas fundamentalmente porque é um apegado analista das consequências sociais trazidas pelo chamado progresso. E progresso, sabemos, aparece sempre “geminado” ao tempo.
A parte mais interessante da entrevista de mister Bauman é sua declaração de que “estamos correndo atrás constantemente. Mas, o que ninguém sabe, é correndo atrás de quê.”
Meio assustador, não é? Na análise do sábio mestre, ele também discorre de forma interessante sobre a noção do tempo dos nativos digitais. Sem parâmetros do passado para comparar o uso do próprio tempo, eles se consideram como os novos sábios, muito mais atentos e disponíveis para receber informações do que seus pais ou avós. O tempo dessa geração virou o tempo preenchido em seu limite máximo. Chegam a construir uma nova valência de tempo. Tempo que, sabemos, continua inelástico, mas que diante dessa geração parece ter criado uma dimensão paralela, nos permitindo abrir vários browsers ao mesmo tempo, ver o vídeo na tela enquanto a música do iPod explode no ouvido ao mesmo tempo que o SMS quica no smartphone. Natural, natural. Ficando muito natural isso tudo...
Esse “novo” tempo – o do homo digitalis – sempre foi minha linha mais apaixonada de análise quando penso nos meios digitais e em como eles têm sido um ponto inflexor de nosso “modus vivendi” e da qualidade de vida. O componente humano (defendo que eles, os computadores, ainda não nos venceram, ok? rsrs) na cadeia da informação onipresente é um enigma, sem dúvida, intrigante e excitante.
A capacidade de desconstruir a informação em vários pedaços e juntá-los depois de forma natural, concomitante ao consumo paralelo e transversal de outro lote de ideias, imagens, vídeos e notícias está nos fazendo mais felizes? Mais confortáveis? Mais sábios?
Não sei. O que me parece é que estamos mais questionadores, nos tornamos melhores consumidores (mais críticos), treinamos nossa inteligência em mais assuntos, questionamos nossos especialistas (médicos, por exemplo) com mais segurança, exercemos a onipresença virtual através das redes de relacionamento como “polvos alienígenas”, desclassificamos velhas teorias sobre público e privado e, enfim, com certeza, chegamos ao fim do dia com um “buffer” respeitável de aprendizado.
Mas aí vem a pergunta que o sábio professor de 83 anos deixa no ar, e que eu faço minha também: onde fica o tal do tempo da reflexão que antes não era preenchido por esse volume de informação? O do autoquestionamento, da conversa consigo mesmo e, por que não, o tempo do tédio? Estaremos nós virando sábios dos ‘mashups”, estruturados, bem falantes, bem pensantes, mas... “pasteurizados”? Tipos antenados que comentam no Twitter sobre as fraldas dos filhos e a nova pesquisa do trabalho, mas que nunca param para ouvir o silêncio? E até onde esse silêncio faz mesmo falta? Até onde gastar o tempo com pensamentos próprios faz falta para nós, humanos twitteiros? Segundo Bauman, no My Space, no Twitter e no Facebook, “o ser humano, enfim, conseguiu abolir a solidão, o olho no olho consigo mesmo.”
Pois é. Não estou escrevendo aqui sobre esse tema para dar respostas, e sim para desconfortavelmente jogá-los no meio das perguntas. Eu não as tenho. Só alguns palpites como os que emiti aqui. O que sei como profissional é que isso impacta demais a comunicação das marcas com seus targets incluídos e não incluídos digitalmente. Há de se ter um olhar além da comunicação, mais perto do antropológico, para rastrear essa nova horda de “novos” humanos que somos. Como pessoa, fico intrigada imaginando qual será a capacidade que temos, no curto prazo, de conviver e, principalmente, entender nosso lugar de “sábios” neste mundo de exabytes em demasia (1 exabyte equivale a mais de 1 bilhão de gigabytes). E que tipo de sábios – e isso é crucial – estamos nos tornando?
Não há um tempo na história da humanidade em que não tivesse o homem a necessidade de colocar a mão no queixo e pensar para onde iria. Desconfiar de sua sabedoria, temer pelo futuro, desafiar seus adversários com uma ponta necessária de sentir medo de fracassar. Olhar para o futuro com a esperança de conquistar. Coisas que, convenhamos, nos ajudam a entender o fascinante universo que somos. Pois é, como diria uma amiga minha, as pessoas não são mesmo fascinantes? É... conectadamente fascinantes!
Fonte: Por Risoletta Miranda - sócia e diretora da Addcomm, in www.nosdacomunicacao.com
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