Uma crise constitui sempre um momento propício para reflexão porque incorpora elementos novos, desdobramentos inesperados e impacta, em maior ou menor grau, os governos, as organizações e as pessoas.
Infelizmente, as crises têm sido cada vez mais comuns. Nem saímos da crise financeira (muito pelo contrário) e já mergulhamos em outra, a chamada "gripe suína" (agora Influenza e mais alguma coisa em virtude da reclamação correta dos produtores de carne). Mas neste caso (e aí está a questão), a crise só existe, se aceitarmos a opinião de fontes ditas abalizadas (OMS, Ministérios da Saúde de vários países etc), amplificadas pelo trombone da mídia.
A crise provocada pela nova gripe que, ao que parece, tem mesmo seu epicentro no México permite inúmeras leituras que remetem a um sem número de considerações.
Em primeiro lugar, toda disseminação planetária e sem controle de uma doença é mesmo uma crise pelas conseqüências que pode acarretar e isto não está em discussão. Mas há crises e crises e, pelo andar da carruagem, essa não parece, até o momento, tão dramática como outras por nós vivenciadas na área da saúde (a gripe espanhola de 1918 e a aviária, de alguns anos atrás, dentre outras).
Na prática, temos crises na saúde todos os dias em nosso País, como atestam os surtos repetidos de dengue, as milhares de mortes pela malária , esquitossomose ou doença de Chagas, as pestes decorrentes da água suja e da ausência de saneamento, as contaminações pelo combustível nada limpinho da Petrobrás e do uso indiscriminado de agrotóxicos, sem contar nas centenas de milhares de mortes provocadas pelos produtos da indústria tabagista. Logo, esta crise não é a grande crise, ainda que sirva para nos alertar de que a globalização tem também esta armadilha embutida: a de favorecer a propagação de doenças, como a ganância e a especulação financeiras e gripes de todos os tipos. Mas temos tido recorrentemente crises piores, mais letais e não temos olhado para elas com a devida atenção.
Em segundo lugar, numa situação caracterizada pelo absoluto caos informativo, é preciso de imediato definir uma governança global, um plano global de gerenciamento de crises, para evitar que tantas informações desencontradas circulem pelo mundo, causando pânico entre a população. A gente já viu que essa governança e esse gerenciamento não existem e que a própria OMS (Organização Mundial de Saúde) anda brigando com os números todos os dias e que há fontes demais com qualificação de menos para garantir os dados divulgados.
Finalmente, é preciso avaliar o comportamento da mídia que, premida pelo sensacionalismo e pela falta de investigação, anda a reboque de fontes sem credibilidade, divulgando dados a torto e a direito, contribuindo para disseminar o medo, para deixar as pessoas em polvorosa, como se estivéssemos diante de uma catástrofe iminente. Embora estejamos ainda no meio do furacão (no fundo, acho que não é um furacão coisa alguma), levando em conta as crises de gripe anteriores, é mais razoável imaginar que não estamos diante de uma ameaça tão grave. Se assim fosse, já teríamos casos e casos confirmados em todo o mundo, com milhares ou milhões de mortes. Correndo o risco de ter que voltar atrás nos próximos dias, sinto-me obrigado a acreditar que isso não ocorrerá e que estamos literalmente fazendo tempestade em copo de água.
É possível concluir também que há muitos interesses em jogo em crises como essa, como podemos ver pela aquisição descontrolada de remédios e máscaras (funcionam?) por governos que estão correndo pra lá e pra cá como baratas tontas com medo de serem acusados de não terem tomado providências adequadas para evitar a propagação da gripe. A indústria da saúde anda rindo a toa e, e em nome de sua saúde, bem que gostaria que estas gripes acontecessem com mais freqüência porque elas fazem bem para os seus bolsos.
Estamos assistindo no Brasil a uma verdadeira corrida às drograrias para a compra de antigripais e até antibióticos - inúteis contra o vírus e perigosos por aumentar a resistência dos vírus e bactérias , certamente provocada pelo estímulo nefasto de balconistas de farmácias que andam até usando, sem ficar corados, jalecos doados por laboratórios farmacêuticos (não deveria ser proibido isso em nome da ética e da cidadania?).
A crise da "gripe suína" evidencia a ameaça a que estamos submetidos pela pandemia de informação que caracteriza esta sociedade incrivelmente conectada, que gera dados e estatísticas descontroladamente e que não consegue (nem quer) avaliar o impacto desta veiculação.
A mídia, brasileira e internacional, com raras exceções (Marcelo Leite em sua coluna de domingo no Caderno Mais! da Folha e também Carlos Eduardo Lins da Silva, ombudsman da Folha de S. Paulo, ambos dia 03/05, entre outros poucos jornalistas), não tem criticado esta avalanche desordenada de informações e a intenção deliberada de aumentar a audiência porque, na prática, também lucra com esta postura irresponsável.
A crise é uma crise da saúde, mas sobretudo uma crise das instituições. Crise das organizações que deveriam ser mais cautelosas na divulgação de informações. Crise da mídia que deveria refletir um pouco, averiguar um pouco, antes de colocar manchetes sensacionalistas nos jornais, revistas, rádio, TV e internet.
Esperamos que esta gripe atenue e que nos deixe em paz. Esperamos que tenhamos aprendido uma lição e que estejamos melhor preparados para notícias deste tipo no futuro. Uma sociedade conectada precisa obrigatoriamente de uma governança global, de um gerenciamento global, inclusive para a disseminação de informações em âmbito planetário. Esperamos que a imprensa cumpra o seu papel de maneira responsável e que contemple as notícias também em função de seu impacto social, não servindo de "laranja" ou "mula" para interesses excusos que sempre esperam uma crise como essas para faturar... e muito.
Há uma conclusão importante a se tirar desta crise: há máscaras demais e fontes confiáveis de menos. A pandemia verdadeira é a pandemia de informação e contra essa ainda nem pensamos em desenvolver uma vacina. Enfim, é mais fácil combater vírus do que mudar o caráter de governos e organizações. Entramos definitivamente na era da comunicação geneticamente modificada. Como no caso dos transgênicos, tem gente ganhando com a venda de sementes e de herbicida. E todos nós, infelizmente, é que vamos pagar essa conta.
Fonte: Por Wilson da Costa Bueno, in portalimprensa.uol.com.br
Infelizmente, as crises têm sido cada vez mais comuns. Nem saímos da crise financeira (muito pelo contrário) e já mergulhamos em outra, a chamada "gripe suína" (agora Influenza e mais alguma coisa em virtude da reclamação correta dos produtores de carne). Mas neste caso (e aí está a questão), a crise só existe, se aceitarmos a opinião de fontes ditas abalizadas (OMS, Ministérios da Saúde de vários países etc), amplificadas pelo trombone da mídia.
A crise provocada pela nova gripe que, ao que parece, tem mesmo seu epicentro no México permite inúmeras leituras que remetem a um sem número de considerações.
Em primeiro lugar, toda disseminação planetária e sem controle de uma doença é mesmo uma crise pelas conseqüências que pode acarretar e isto não está em discussão. Mas há crises e crises e, pelo andar da carruagem, essa não parece, até o momento, tão dramática como outras por nós vivenciadas na área da saúde (a gripe espanhola de 1918 e a aviária, de alguns anos atrás, dentre outras).
Na prática, temos crises na saúde todos os dias em nosso País, como atestam os surtos repetidos de dengue, as milhares de mortes pela malária , esquitossomose ou doença de Chagas, as pestes decorrentes da água suja e da ausência de saneamento, as contaminações pelo combustível nada limpinho da Petrobrás e do uso indiscriminado de agrotóxicos, sem contar nas centenas de milhares de mortes provocadas pelos produtos da indústria tabagista. Logo, esta crise não é a grande crise, ainda que sirva para nos alertar de que a globalização tem também esta armadilha embutida: a de favorecer a propagação de doenças, como a ganância e a especulação financeiras e gripes de todos os tipos. Mas temos tido recorrentemente crises piores, mais letais e não temos olhado para elas com a devida atenção.
Em segundo lugar, numa situação caracterizada pelo absoluto caos informativo, é preciso de imediato definir uma governança global, um plano global de gerenciamento de crises, para evitar que tantas informações desencontradas circulem pelo mundo, causando pânico entre a população. A gente já viu que essa governança e esse gerenciamento não existem e que a própria OMS (Organização Mundial de Saúde) anda brigando com os números todos os dias e que há fontes demais com qualificação de menos para garantir os dados divulgados.
Finalmente, é preciso avaliar o comportamento da mídia que, premida pelo sensacionalismo e pela falta de investigação, anda a reboque de fontes sem credibilidade, divulgando dados a torto e a direito, contribuindo para disseminar o medo, para deixar as pessoas em polvorosa, como se estivéssemos diante de uma catástrofe iminente. Embora estejamos ainda no meio do furacão (no fundo, acho que não é um furacão coisa alguma), levando em conta as crises de gripe anteriores, é mais razoável imaginar que não estamos diante de uma ameaça tão grave. Se assim fosse, já teríamos casos e casos confirmados em todo o mundo, com milhares ou milhões de mortes. Correndo o risco de ter que voltar atrás nos próximos dias, sinto-me obrigado a acreditar que isso não ocorrerá e que estamos literalmente fazendo tempestade em copo de água.
É possível concluir também que há muitos interesses em jogo em crises como essa, como podemos ver pela aquisição descontrolada de remédios e máscaras (funcionam?) por governos que estão correndo pra lá e pra cá como baratas tontas com medo de serem acusados de não terem tomado providências adequadas para evitar a propagação da gripe. A indústria da saúde anda rindo a toa e, e em nome de sua saúde, bem que gostaria que estas gripes acontecessem com mais freqüência porque elas fazem bem para os seus bolsos.
Estamos assistindo no Brasil a uma verdadeira corrida às drograrias para a compra de antigripais e até antibióticos - inúteis contra o vírus e perigosos por aumentar a resistência dos vírus e bactérias , certamente provocada pelo estímulo nefasto de balconistas de farmácias que andam até usando, sem ficar corados, jalecos doados por laboratórios farmacêuticos (não deveria ser proibido isso em nome da ética e da cidadania?).
A crise da "gripe suína" evidencia a ameaça a que estamos submetidos pela pandemia de informação que caracteriza esta sociedade incrivelmente conectada, que gera dados e estatísticas descontroladamente e que não consegue (nem quer) avaliar o impacto desta veiculação.
A mídia, brasileira e internacional, com raras exceções (Marcelo Leite em sua coluna de domingo no Caderno Mais! da Folha e também Carlos Eduardo Lins da Silva, ombudsman da Folha de S. Paulo, ambos dia 03/05, entre outros poucos jornalistas), não tem criticado esta avalanche desordenada de informações e a intenção deliberada de aumentar a audiência porque, na prática, também lucra com esta postura irresponsável.
A crise é uma crise da saúde, mas sobretudo uma crise das instituições. Crise das organizações que deveriam ser mais cautelosas na divulgação de informações. Crise da mídia que deveria refletir um pouco, averiguar um pouco, antes de colocar manchetes sensacionalistas nos jornais, revistas, rádio, TV e internet.
Esperamos que esta gripe atenue e que nos deixe em paz. Esperamos que tenhamos aprendido uma lição e que estejamos melhor preparados para notícias deste tipo no futuro. Uma sociedade conectada precisa obrigatoriamente de uma governança global, de um gerenciamento global, inclusive para a disseminação de informações em âmbito planetário. Esperamos que a imprensa cumpra o seu papel de maneira responsável e que contemple as notícias também em função de seu impacto social, não servindo de "laranja" ou "mula" para interesses excusos que sempre esperam uma crise como essas para faturar... e muito.
Há uma conclusão importante a se tirar desta crise: há máscaras demais e fontes confiáveis de menos. A pandemia verdadeira é a pandemia de informação e contra essa ainda nem pensamos em desenvolver uma vacina. Enfim, é mais fácil combater vírus do que mudar o caráter de governos e organizações. Entramos definitivamente na era da comunicação geneticamente modificada. Como no caso dos transgênicos, tem gente ganhando com a venda de sementes e de herbicida. E todos nós, infelizmente, é que vamos pagar essa conta.
Fonte: Por Wilson da Costa Bueno, in portalimprensa.uol.com.br
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