Pular para o conteúdo principal

Natura: Menos conversa, mais ação

Em pouco mais de um mês, a Natura anunciou a contratação de dois executivos para seu alto escalão. O primeiro desses anúncios aconteceu em fevereiro, quando a empresa contratou o então presidente da área de consumo da Johnson&Johnson no Brasil, José Vicente Marino, como vice-presidente de marketing e vendas. No final de março foi a vez de Marcelo Cardoso, ex-presidente da consultoria de recursos humanos DBM, recrutado para o recém-criado cargo de vice-presidente de desenvolvimento organizacional. A chegada dos dois forasteiros simboliza uma nova fase que a Natura atravessa. Ao lado do presidente, Alessandro Carlucci, e do vice-presidente de inovação, Eduardo Luppi, os recém-chegados formam um time que tem se dedicado intensamente nas últimas semanas a repensar a maneira como a empresa se organiza e faz negócios. Neste momento, esse pequeno grupo está avaliando até mesmo o limite de uma das principais características da cultura da companhia, a decisão por consenso. Tradicionalmente, até 20 diretores costumam se reunir em encontros do comitê executivo para decidir os principais assuntos estratégicos da Natura, o que tende a tornar qualquer decisão mais lenta. "A idéia é manter os principais valores da companhia, mas adaptá-los à agilidade que o mercado exige", diz um executivo próximo à empresa. Procurado por EXAME, Carlucci não deu entrevista.


Em busca de velocidade
Algumas medidas da Natura para acelerar seu crescimento :
Fim do consenso
Decisões que envolviam um grupo de até 20 diretores deverão se concentrar agora em times menores para aumentar a rapidez do processo

Investimento em publicidade
Em vez de promover apenas campanhas institucionais, a empresa iniciou neste ano uma agressiva campanha para os produtos da linha Amor América

Parcerias no exterior
A entrada em outros países sempre foi independente. Pela primeira vez os diretores começam a cogitar parcerias com empresas locais


As diversas frentes das mudanças em andamento têm um objetivo único: melhorar rapidamente indicadores de eficiência operacional (veja quadro na pág. 95). Acostumada a uma trajetória meteórica, a Natura vem experimentando pela primeira vez em sua história um período menos exuberante. As vendas continuam em ascensão, mas as taxas de crescimento são mais modestas. Em 2007, as vendas somaram 4,3 bilhões de reais, 10% mais em relação ao ano anterior -- ante uma média histórica de cerca de 30%. O lucro apresentou ligeira queda no primeiro trimestre deste ano comparado ao do mesmo período no ano passado, de 1,6%. No entanto, o dado que mais preocupa os analistas é a margem Ebitda, o indicador que melhor demonstra a eficiência operacional de uma companhia, que vem caindo 1 ponto percentual por ano desde 2005. Para tentar recuperar o vigor dos bons tempos, em fevereiro a Natura anunciou que fará um agressivo plano de corte de custos. O objetivo é, ainda neste ano, levar a margem Ebitda ao patamar de 23% -- distante dos atuais 19,7%, registrados no primeiro trimestre deste ano. Numa teleconferência de resultados realizada no dia 25 de abril, Carlucci afirmou a analistas que os resultados da reestruturação deverão aparecer ao longo dos próximos trimestres. "Por enquanto, não percebemos avanços", afirma Juliana Rozenbaum, analista do Unibanco. "As margens continuam esmagadas por uma operação cada vez mais cara."

Uma das reformulações mais delicadas que deverão acontecer nos próximos meses compreende uma ampla revisão da diretoria da empresa. A meta é reavaliar o atualmente inchado grupo de 34 diretores -- a profusão de cargos criou posições incomuns, como uma diretoria do núcleo olfativo. Essa multiplicação de cargos pode ser explicada por duas razões. A primeira delas é que em muitas empresas o crescimento acelerado acaba provocando certa desorganização. A segunda é que o tamanho do time é uma espécie de resquício de uma complexa estrutura matricial -- similar à de uma grande multinacional --, desmontada no ano passado. Criada pela Natura para gerenciar as operações fora do país, a estrutura compreendia um diretor corporativo para cada uma das funções, outro para a operação brasileira e um terceiro para cada uma das sete subsidiárias que a empresa possui hoje. Na prática, a área de recursos humanos, por exemplo, tinha nove diretores. Como as vendas no Brasil representam 95% do faturamento total da companhia, o modelo provou-se desnecessário e oneroso demais. Não houve, porém, demissões após a desarticulação dessa estrutura corporativa. "Alguns diretores foram acomodados em funções similares, e hoje muitas posições são redundantes", diz um executivo próximo à empresa. "Pela primeira vez a Natura prepara uma grande revisão desse time." Em seu plano de ação divulgado em fevereiro, a empresa apresentou a meta de reduzir níveis hierárquicos -- mas não revela os alvos potenciais dessa redução.


Queda
O preço das ações da Natura vem caindo nos últimos 12 meses
25/abr/07: 24,29
25/abr/08: 18,10
Fonte: Bovespa


OUTRA TRADICIONAL convicção da empresa está sendo questionada. Desde que iniciou suas operações no exterior, em países como Argentina e Chile nos anos 90, a Natura sempre montou uma estrutura própria a partir do zero e com capital próprio. Agora, a empresa está avaliando a possibilidade de fechar parcerias para a fabricação de produtos fora do Brasil (até hoje, a maior ousadia da empresa em termos de parcerias é um contrato de distribuição na Bolívia, que existe há quase uma década). Atualmente, todos os produtos vendidos pela Natura dentro ou fora do país saem da fábrica em Cajamar, na Grande São Paulo. Com a valorização do real, as vendas para o exterior se tornaram mais caras -- e pesaram de maneira negativa nos resultados divulgados pela companhia relativos ao primeiro trimestre deste ano. A Natura também dá sinais de agressividade em outras frentes, como a anunciada aceleração dos investimentos em marketing. A empresa tradicionalmente direcionava seus investimentos apenas para o marketing institucional. Neste ano, decidiu mudar de estratégia e iniciou uma grande campanha para a recém-lançada linha de perfumes Amor América. A previsão é que até 2010 os investimentos em marketing alcancem quase 400 milhões de reais -- um recorde na história da companhia.


Fonte: Por Cristiane Mano, in portalexame.abril.uol.com.br

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

H2OH! - um produto desacreditado que virou sucesso

O executivo carioca Carlos Ricardo, diretor de marketing da divisão Elma Chips da Pepsico, a gigante americana do setor de alimentos e bebidas, é hoje visto como uma estrela em ascensão no mundo do marketing. Ele é o principal responsável pela criação e pelo lançamento de um produto que movimentou, de forma surpreendente, o mercado de bebidas em 11 países. A princípio, pouca gente fora da Pepsi e da Ambev, empresas responsáveis por sua produção, colocava fé na H2OH!, bebida que fica a meio caminho entre a água com sabor e o refrigerante diet. Mas em apenas um ano a H2OH! conquistou 25% do mercado brasileiro de bebidas sem açúcar, deixando para trás marcas tradicionais, como Coca-Cola Light e Guaraná Antarctica Diet. Além dos números de vendas, a H2OH! praticamente deu origem a uma nova categoria de produto, na qual tem concorrentes como a Aquarius Fresh, da Coca-Cola, e que já é maior do que segmentos consagrados, como os de leites com sabores, bebidas à base de soja, chás gelados e su

Doze passos para deixar de ser o “bode expiatório” na sua empresa

Você já viu alguma vez um colega de trabalho ser culpado, exposto ou demitido por erros que não foi ele que cometeu, e sim seu chefe ou outro colega? Quais foram os efeitos neste indivíduo e nos seus colegas? Como isso foi absorvido por eles? No meu trabalho como coach, tenho encontrado mais e mais casos de “bodes expiatórios corporativos”, que a Scapegoat Society, uma ONG britânica cujo objetivo é aumentar a consciência sobre esta questão no ambiente de trabalho, define como uma rotina social hostil ou calúnia psicológica, através da qual as pessoas passam a culpa ou responsabilidade adiante, para um alvo ou grupo. Os efeitos são extremamente danosos, com conseqüências de longo-prazo para a vítima. Recentemente, dei orientação executiva a um gerente sênior que nunca mais se recuperou por ter sido um dia bode expiatório. John, 39 anos, trabalhou para uma empresa quando tinha algo em torno de 20 anos de idade e tudo ia bem até que ele foi usado como bode expiatório por um novo chefe. De

Conselho Federal de Marketing?

A falta de regulamentação da profissão de marketing está gerando um verdadeiro furdunço na Bahia. O consultor de marketing André Saback diz estar sendo perseguido por membros do Conselho Regional de Administração da Bahia (CRA/BA) por liderar uma associação – com nome de Conselho Federal de Marketing e que ainda não está registrada – cujo objetivo, segundo ele, é regulamentar a profissão. O CRA responde dizendo que Saback está praticando estelionato e que as medidas tomadas visam a defender os profissionais de administração. Enquanto André Saback, formado em marketing pela FIB - Centro Universitário da Bahia -, diz militar pela regulamentação da profissão, o Presidente do CRA/BA, Roberto Ibrahim Uehbe, afirma que o profissional criou uma associação clandestina, está emitindo carteirinhas, cobrando taxas e que foi cobrado pelo Conselho Federal de Administração por medidas que passam até por processar Saback, que diz ter recebido dois telefonemas anônimos na última semana em tom de ameaç