Consumir con.su.mir (lat. consumere) vtd. e vpr. 1. Destruir(-se), devorar(-se); corroer(-se), gastar(-se) até a total destruição… 2. Utilizar, para satisfação das próprias necessidades ou desejos, comida, bebida, vestuário, habitação e correlatos; gastar… 3. Abater, enfraquecer… 4. Afligir(-se), desgostar(-se), mortificar(-se)… 5. Apagar, fazer esquecer… 6. Empregar ou dedicar inteiramente. Consumir a hóstia: comungar. (Michaelis Online)
“Consumo” é palavra fácil no Meio & Mensagem, seções de economia e discursos de poderosos. Em tons de celebração: o consumo aumentou, a classe C pode consumir mais, o consumo sofisticado da classe AAA.
Claro. Veículos de comunicação vivem de publicidade, que existe para ajudar fabricantes a vender seus produtos. Menos consumo, menos propaganda, caixa baixa na mídia.
Se ficarmos nisso, vamos todos para a lata de lixo da história — jornalistas, publicitários, agências, veículos. Chega de gastar verbo e verba para defender o indefensável: o consumo idiota e inútil, danoso para nós mesmos, para nossa rua, nossa cidade, nosso mundo.
Criamos um mundo de mentirinha, em que você vale o que você consome. Hei, releia o verbete acima. Consumo não é positivo, é negativo. É corroer. Serve para fazer esquecer. Te abate e enfraquece. É causa de aflição.
O consumo é mau negócio. Nosso arquiinimigo em dois níveis, global e pessoal. As evidências do erro estão na água, no solo, no ar, mas principalmente em nós mesmos. São conseqüências da adoção de um sistema econômico ineficiente que é movido pelo consumo (e seu irmão gêmeo, o crédito).
No ritual do consumo conjunto fingimos comungar valores, princípios, jeitos de ser e viver. É uma ilusão intoxicante e insustentável, em termos globais e na vida pessoal de cada um.
Para consumir mais, sacrificamos nosso melhor, nosso pouco tempo neste planetinha, nossos amores, vendemos nossos dias e noites pelo próximo carnê.
A maior parte desse estrago é feita não pelas pessoas, mas pelas empresas. As mesmas que contratam agências de publicidade e anunciam em nossos sites, revistas, TVs.
Muitas investem bastante em “responsabilidade social”. São patrocinadores eméritos de institutos e fundações. Às vezes, no conjunto da ação, a empresa tem um saldo positivo. Às vezes, é só relações públicas. Mas todas pecam e todos pecamos por alimentar o mesmo sistema burro.
No passado, era normal um dia de trabalho de 16 horas para crianças de 10 anos. Isso mudou através da pressão organizada de pessoas que exigiam mudanças. Elas forçaram a aprovação de novas leis e vigiaram seu cumprimento. Empresas são criações humanas e mudam também, para melhor.
O ponto-chave aqui é “organização”. Individualmente, você pode estar fazendo o melhor que pode. Parabéns. Mas “cada um tem de fazer a sua parte” é o mantra ecológico da classe média babaca, repetindo roboticamente os comandos do telejornal.
“Consumo consciente” é uma contradição em termos. Se cada um mudar seu comportamento mas não forçar a mudança do comportamento das empresas (e governos e ONGs e organizações multilaterais etc.), viveremos num mundo imundo do mesmo jeito.
E que papo é esse de eleger como relação fundamental do século 21 a do indivíduo solitário com a empresa? Foi para isso que inventamos uma coisa chamada Lei e outra chamada Estado, faz um tempinho já.
Felizmente, agora só fica sozinho quem quer. O maior equívoco conceitual do mundo digital é que a tecnologia apodera o indivíduo. A tecnologia apodera mesmo as comunidades, os grupos de pessoas com interesses em comum.
Precisamos mudar e mudança é na pressão. Quem pode mais chora menos, e bastante gente berrando junto faz mais barulho.
O lema do Google, “não faça o mal”, é bom mas insuficiente. É preciso fazer o bem e escolher a quem. Descobrir os fatos. Elogiar os heróis. Expor, ridicularizar e esculhambar os vilões. Eu pensava assim em 1979 e nada me fez mudar de opinião.
No século 21, “comunicação” é um só monstro, com duas cabeças (jornalismo & publicidade), e usando mal as duas. Mas ainda temos muito poder. Não podemos usá-lo só para transformar seres humanos em “consumidores”, escravos de um estilo de vida insustentável e de dívidas que nunca acabam.
Melhor usar o poder da comunicação para promover um novo sistema econômico e um novo estilo de vida. Para investigar as novas cabeças que já estão inventando o estilo de vida do século 21, mais são, sossegado e sustentável (e, por que não, sedutor).
São iniciativas individuais, de grupos, de empresas. De aparentes malucos até megainvestidores, como John Doerr, evangelista da Green Tech, que prevê nada menos que uma “reindustrialização” do planeta em padrões responsáveis (veja na versão online desta coluna). Gente que sabe que um mundo diferente é mais que necessário — é urgente e inevitável.
Fonte: Por André Forastieri, in www.meioemensagem.com.br
“Consumo” é palavra fácil no Meio & Mensagem, seções de economia e discursos de poderosos. Em tons de celebração: o consumo aumentou, a classe C pode consumir mais, o consumo sofisticado da classe AAA.
Claro. Veículos de comunicação vivem de publicidade, que existe para ajudar fabricantes a vender seus produtos. Menos consumo, menos propaganda, caixa baixa na mídia.
Se ficarmos nisso, vamos todos para a lata de lixo da história — jornalistas, publicitários, agências, veículos. Chega de gastar verbo e verba para defender o indefensável: o consumo idiota e inútil, danoso para nós mesmos, para nossa rua, nossa cidade, nosso mundo.
Criamos um mundo de mentirinha, em que você vale o que você consome. Hei, releia o verbete acima. Consumo não é positivo, é negativo. É corroer. Serve para fazer esquecer. Te abate e enfraquece. É causa de aflição.
O consumo é mau negócio. Nosso arquiinimigo em dois níveis, global e pessoal. As evidências do erro estão na água, no solo, no ar, mas principalmente em nós mesmos. São conseqüências da adoção de um sistema econômico ineficiente que é movido pelo consumo (e seu irmão gêmeo, o crédito).
No ritual do consumo conjunto fingimos comungar valores, princípios, jeitos de ser e viver. É uma ilusão intoxicante e insustentável, em termos globais e na vida pessoal de cada um.
Para consumir mais, sacrificamos nosso melhor, nosso pouco tempo neste planetinha, nossos amores, vendemos nossos dias e noites pelo próximo carnê.
A maior parte desse estrago é feita não pelas pessoas, mas pelas empresas. As mesmas que contratam agências de publicidade e anunciam em nossos sites, revistas, TVs.
Muitas investem bastante em “responsabilidade social”. São patrocinadores eméritos de institutos e fundações. Às vezes, no conjunto da ação, a empresa tem um saldo positivo. Às vezes, é só relações públicas. Mas todas pecam e todos pecamos por alimentar o mesmo sistema burro.
No passado, era normal um dia de trabalho de 16 horas para crianças de 10 anos. Isso mudou através da pressão organizada de pessoas que exigiam mudanças. Elas forçaram a aprovação de novas leis e vigiaram seu cumprimento. Empresas são criações humanas e mudam também, para melhor.
O ponto-chave aqui é “organização”. Individualmente, você pode estar fazendo o melhor que pode. Parabéns. Mas “cada um tem de fazer a sua parte” é o mantra ecológico da classe média babaca, repetindo roboticamente os comandos do telejornal.
“Consumo consciente” é uma contradição em termos. Se cada um mudar seu comportamento mas não forçar a mudança do comportamento das empresas (e governos e ONGs e organizações multilaterais etc.), viveremos num mundo imundo do mesmo jeito.
E que papo é esse de eleger como relação fundamental do século 21 a do indivíduo solitário com a empresa? Foi para isso que inventamos uma coisa chamada Lei e outra chamada Estado, faz um tempinho já.
Felizmente, agora só fica sozinho quem quer. O maior equívoco conceitual do mundo digital é que a tecnologia apodera o indivíduo. A tecnologia apodera mesmo as comunidades, os grupos de pessoas com interesses em comum.
Precisamos mudar e mudança é na pressão. Quem pode mais chora menos, e bastante gente berrando junto faz mais barulho.
O lema do Google, “não faça o mal”, é bom mas insuficiente. É preciso fazer o bem e escolher a quem. Descobrir os fatos. Elogiar os heróis. Expor, ridicularizar e esculhambar os vilões. Eu pensava assim em 1979 e nada me fez mudar de opinião.
No século 21, “comunicação” é um só monstro, com duas cabeças (jornalismo & publicidade), e usando mal as duas. Mas ainda temos muito poder. Não podemos usá-lo só para transformar seres humanos em “consumidores”, escravos de um estilo de vida insustentável e de dívidas que nunca acabam.
Melhor usar o poder da comunicação para promover um novo sistema econômico e um novo estilo de vida. Para investigar as novas cabeças que já estão inventando o estilo de vida do século 21, mais são, sossegado e sustentável (e, por que não, sedutor).
São iniciativas individuais, de grupos, de empresas. De aparentes malucos até megainvestidores, como John Doerr, evangelista da Green Tech, que prevê nada menos que uma “reindustrialização” do planeta em padrões responsáveis (veja na versão online desta coluna). Gente que sabe que um mundo diferente é mais que necessário — é urgente e inevitável.
Fonte: Por André Forastieri, in www.meioemensagem.com.br
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