É muito comum em palestras e seminários ouvir, da parte de comunicadores, queixas contra o relacionamento com advogados, sobretudo em situações de crise. Normalmente, os advogados são acusados de serem insensíveis quanto aos temas ligados à reputação dos clientes, pensando apenas no aspecto jurídico dos casos. São também acusados de quererem sempre dar a última palavra, de exercerem a real influência sobre os clientes e, muitas vezes, de não hesitar em ameaçar jornalistas com processos. A lista de queixas é extensa. E um fato apenas é, realmente, concreto: os advogados hoje são as cartas maiores nas empresas. São eles que dão forma e legitimidade aos modelos de negócios. Agem como se estivem num circulo. Podem incentivar que a comunicação se mova para frente ou para trás a depender do que imaginam que possa acontecer com seus clientes.
Contudo, há muito exagero quando se trata do muro de incomunicabilidade erguido pelos advogados. Cada vez mais os advogados exercem o papel de porta-voz e cada vez mais estão conscientes de que a opinião pública exige e necessita de explicações. Daí, os comunicadores precisarem estar mais próximos e ver no advogado um aliado não um personagem cartesiano sempre disposto a parar o mundo porque pensa três séculos para trás e outros três para frente, sem, portanto, sair do lugar. Isto porque os comunicadores são tão essenciais para a empresa moderna quanto os advogados. Isto não é ainda percebido, mas ninguém duvida que uma crise de comunicação pode levar uma companhia à falência. Crises de comunicação são fontes geradoras de processos geralmente onerosos. Pior, são fontes de descrédito e a companhia que perde a confiança da sociedade e do mercado o que perde? Tudo.
A chave do conflito está em ouvir uns aos outros. É imperativo superar a cultura da surdez em ambos os lados. A medida das decisões não pode ser outra senão o entendimento concreto da realidade concreta. Nunca o emocionalismo, nem o que se imagina ser. Não é possível pensar, por exemplo, em questões relacionadas a gestões e prevenção de crise sem incentivar a aliança permanente entre comunicadores e advogados. Esse é um imperativo do nosso tempo. O advogado exerce a defesa do cliente junto aos tribunais, o comunicador realiza a defesa do cliente junto à opinião pública. Direito e reputação: duas faces de um mesmo processo de Justiça. Dois tribunais em confronto, dois tribunais onde se precisa atuar simultaneamente.
A separação entre Direito e Moral se dá no curso da Revolução Francesa nos idos do século XVIII. Antes da ascensão da burguesia, os processos jurídicos se realizavam longe das vistas do público, ritos secretos que nem mesmo os acusados muitas vezes tinham acesso. A prática das penalidades era um exercício da violência sem freios. Foucault trata do tema à exaustão em Vigiar e Punir. Com a queda da aristocracia, tudo mudou. Mas a Justiça passou a pertencer a um universo, a moral a outro. Ou pelo menos assim se imaginava. A globalização se encarregou de fundir as duas partes. Graças aos meios de comunicação e a livre circulação da informação, o julgamento, muitas vezes errôneo, acontece de forma instantânea. Imediata. Assim, tornou-se um mito acreditar que basta lutar pela absolvição na justiça que tudo passa a existir no melhor dos mundos. Nada disso. A sociedade sabe punir. E com veemência, geralmente sem apelação. Basta olhar o que acontece com os envolvidos em escândalos. O público julga.
A pena de rejeição é imediata. Nesse momento é que entra a aliança entre o advogado e o comunicador. Seu objetivo é tecer a convergência, trabalhar a um só tempo nos dois tribunais. Num, prestando satisfação, de forma organizada e ética , à opinião pública. Leia-se a ênfase à verdade factual, a ocupação de espaços na mídia com versões consistentes. No outro, lidando com a justiça formal cujos labirintos quem conhece é o advogado. O resultado é sempre uma saudável relação de vasos comunicantes.
A construção desse caminho não é fácil. Muitas vezes o advogado não entende o papel do comunicador. Muitas vezes acontece o contrário: o comunicador é que não entende o papel do advogado. Um, o comunicador, tem sede de informação, tem um desejo quase compulsivo - natural da sua formação - de ouvir a opinião pública, de ouvir a sabedoria pública; o outro, o advogado, tem uma cultura de trabalhar em sigilo, de deixar-se envolver pelo silêncio e de apostar na solução dos tribunais. A tentação aos extremos é negativa. Seus prejuízos são facilmente identificáveis. Se há clamor da opinião pública, os tribunais tendem a se deixar influenciar. É natural. A resposta está naquilo que Platão denominou do "justo equilíbrio". Nele, os bons resultados se tornam palpáveis, inclusive na forma de treinamento (o mídia training) que ajuda o advogado a lidar com a mídia, a entender sua cultura e formação. Não há, é evidente, fórmulas mágicas. Mas o trabalho conjunto a favor do "justo equilíbrio" é sempre produtivo. E benefício para todos,sobretudo para o cliente.
Como? Evitando que por qualquer motivo os clientes ameacem jornais e jornalistas com processos. Evitando confrontos ocos como anéis. Não dá certo. Comunicação é a arte do diálogo, a arte do entendimento. A arte de ouvir e avaliar cenários objetivamente, não a partir de percepções de superfície. Contra fatos não se pode brigar. E se os fatos são adversos é indispensável admiti-los. Direito e comunicação precisam caminhar juntos. São essenciais para a construção da saúde financeira e a reputação das companhias. São essenciais para a construção da sociedade democrática.
Fonte: Por Francisco Viana, in terramagazine.terra.com.br
Contudo, há muito exagero quando se trata do muro de incomunicabilidade erguido pelos advogados. Cada vez mais os advogados exercem o papel de porta-voz e cada vez mais estão conscientes de que a opinião pública exige e necessita de explicações. Daí, os comunicadores precisarem estar mais próximos e ver no advogado um aliado não um personagem cartesiano sempre disposto a parar o mundo porque pensa três séculos para trás e outros três para frente, sem, portanto, sair do lugar. Isto porque os comunicadores são tão essenciais para a empresa moderna quanto os advogados. Isto não é ainda percebido, mas ninguém duvida que uma crise de comunicação pode levar uma companhia à falência. Crises de comunicação são fontes geradoras de processos geralmente onerosos. Pior, são fontes de descrédito e a companhia que perde a confiança da sociedade e do mercado o que perde? Tudo.
A chave do conflito está em ouvir uns aos outros. É imperativo superar a cultura da surdez em ambos os lados. A medida das decisões não pode ser outra senão o entendimento concreto da realidade concreta. Nunca o emocionalismo, nem o que se imagina ser. Não é possível pensar, por exemplo, em questões relacionadas a gestões e prevenção de crise sem incentivar a aliança permanente entre comunicadores e advogados. Esse é um imperativo do nosso tempo. O advogado exerce a defesa do cliente junto aos tribunais, o comunicador realiza a defesa do cliente junto à opinião pública. Direito e reputação: duas faces de um mesmo processo de Justiça. Dois tribunais em confronto, dois tribunais onde se precisa atuar simultaneamente.
A separação entre Direito e Moral se dá no curso da Revolução Francesa nos idos do século XVIII. Antes da ascensão da burguesia, os processos jurídicos se realizavam longe das vistas do público, ritos secretos que nem mesmo os acusados muitas vezes tinham acesso. A prática das penalidades era um exercício da violência sem freios. Foucault trata do tema à exaustão em Vigiar e Punir. Com a queda da aristocracia, tudo mudou. Mas a Justiça passou a pertencer a um universo, a moral a outro. Ou pelo menos assim se imaginava. A globalização se encarregou de fundir as duas partes. Graças aos meios de comunicação e a livre circulação da informação, o julgamento, muitas vezes errôneo, acontece de forma instantânea. Imediata. Assim, tornou-se um mito acreditar que basta lutar pela absolvição na justiça que tudo passa a existir no melhor dos mundos. Nada disso. A sociedade sabe punir. E com veemência, geralmente sem apelação. Basta olhar o que acontece com os envolvidos em escândalos. O público julga.
A pena de rejeição é imediata. Nesse momento é que entra a aliança entre o advogado e o comunicador. Seu objetivo é tecer a convergência, trabalhar a um só tempo nos dois tribunais. Num, prestando satisfação, de forma organizada e ética , à opinião pública. Leia-se a ênfase à verdade factual, a ocupação de espaços na mídia com versões consistentes. No outro, lidando com a justiça formal cujos labirintos quem conhece é o advogado. O resultado é sempre uma saudável relação de vasos comunicantes.
A construção desse caminho não é fácil. Muitas vezes o advogado não entende o papel do comunicador. Muitas vezes acontece o contrário: o comunicador é que não entende o papel do advogado. Um, o comunicador, tem sede de informação, tem um desejo quase compulsivo - natural da sua formação - de ouvir a opinião pública, de ouvir a sabedoria pública; o outro, o advogado, tem uma cultura de trabalhar em sigilo, de deixar-se envolver pelo silêncio e de apostar na solução dos tribunais. A tentação aos extremos é negativa. Seus prejuízos são facilmente identificáveis. Se há clamor da opinião pública, os tribunais tendem a se deixar influenciar. É natural. A resposta está naquilo que Platão denominou do "justo equilíbrio". Nele, os bons resultados se tornam palpáveis, inclusive na forma de treinamento (o mídia training) que ajuda o advogado a lidar com a mídia, a entender sua cultura e formação. Não há, é evidente, fórmulas mágicas. Mas o trabalho conjunto a favor do "justo equilíbrio" é sempre produtivo. E benefício para todos,sobretudo para o cliente.
Como? Evitando que por qualquer motivo os clientes ameacem jornais e jornalistas com processos. Evitando confrontos ocos como anéis. Não dá certo. Comunicação é a arte do diálogo, a arte do entendimento. A arte de ouvir e avaliar cenários objetivamente, não a partir de percepções de superfície. Contra fatos não se pode brigar. E se os fatos são adversos é indispensável admiti-los. Direito e comunicação precisam caminhar juntos. São essenciais para a construção da saúde financeira e a reputação das companhias. São essenciais para a construção da sociedade democrática.
Fonte: Por Francisco Viana, in terramagazine.terra.com.br
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